domingo, 25 de setembro de 2016

BAURU POR AÍ (130)


O PAÍS NO PRECIPÍCIO, AO REDOR ALGUM ALENTO, MAS ALGO ME FAZ CONTINUAR ESGRIMANDO PELA AÍ: MEU FILHO.
Para alguns o país de hoje parece estar uma maravilha. A constatação disso é pelo que vejo nas ruas. Sei que estamos diante de uma população, a maioria dela, amortecida e enganada pelo que vê, ouve ou lê pela mídia local. Ainda hoje cruzo com um amigo de longa data num balcão de bar e ele, direitista assumido vem me dizer que o Lula é isso e aquilo e que merece cadeia. Olho bem para ele, penso antes de falar algo, pois sei que não lê nem bula de remédio, apenas vê TV. Se nem um mero jornal, uma publicação qualquer, um livrinho não lhe passa pelas mãos, como quer tecer tantas considerações e ter tanta certeza disso e daquilo. Nem discuto mais com gente assim, pura perda de tempo. Para gente como ele, uma dor maior no peito, pois mesmo direitista, possui um certo discernimento, lá no fundo sabe do baú de maldades sendo desfechado sob nossos costados, mas prefere continuar pondo a culpa toda no PT. Muitos agem da mesma forma. Dessa experiência de hoje, uma conclusão simples e objetiva: o país está dominado pelo que a mídia lhe incutiu cabeça adentro e não consegue mais discernir entre o certo e o errado, ainda mais porque essa mesma mídia continua despejando diariamente algo novo depois da consumação do golpe. Para os da TV o país mudou para melhor, mesmo que na vida real tudo tenha piorado e muito.

Cansei, estou quase jogando a toalha. Ando de saco cada vez cheio e pavio cada vez mais curto. Sabe aquele personagem que apregoava diante de questionamentos débeis a tal da Tolerância Zero? Estou quase agindo assim. Eu e minha dileta companheira de todas as horas nos entendemos maravilhosamente quanto ao quesito golpe. Podemos não possuir a mesma linha política, mas temos baita afinidade sobre o que ocorreu ao país e sobre tudo o que está ainda por vir. Dentro de casa não tenho problemas nesse sentido. Tenho amigos comungando a mesma linha de pensamento e ação e é com eles que tento seguir a caminhada da vida. Imagine o sofrimento que seria estar rodeado de gente pensando diferente e não tendo com quem compartilhar ideias. Não reclamo disso, pois estou muito bem servido de amigos. Hoje mesmo, estive na Esquina Contra o Golpe, ali na beirada da Feira do Rolo e a maioria dos que ali sentam, bebem, comem e papeiam a manhã toda, sofrem do mesmo mal, estamos na luta contra tudo o que representa o golpe de estado pelo qual o país padece no momento.

Mesmo assim, diante de tudo à nossa volta, vendo as iniquidades todas sendo implantadas sem grande resistência, bate aquele desalento. Ando pelas ruas e ao observar a fisionomia das pessoas, tento entender como eles todos, sofrendo cada vez mais e padecendo brutalmente as mudanças propostas pelos algozes de plantão, nada fazem e agem como se nada possa ser feito. Não consigo tocar a vida indiferente a isso. Sofro, a úlcera cresce, a gastrite estupora, as dores internas dilaceram o corpo já um tanto cansado, veias entopem, músculos se retesam e a vista vai ficando cada vez mais turva. Outro alento me faz seguir adiante: meu filho. Não desisto de tudo por causa dele. Não mando tudo á merda e me enfronho no meio do mato, passando a viver como ermitão por causa dele (e de minha companheira, também). Um meninão, 22 anos, concluindo um curso de Letras e nesse final de semana fazendo questão de me mostrar a sua nova estante no seu quarto. Lá só livros. Queria que fosse conhecer o ajuntamento de leitura conquistado em seu pequeno território.

22 anos e com as paredes no entorno de sua cama lotadas de livros, um sonhador, ciente de que o país daqui por diante piorou, emburreceu e que, cada vez mais e mais será difícil vergar os vetustos governantes em todas nossas esferas. Que merda esse país que ele terá pela frente e o que posso fazer para minimizar isso tudo para gente como ele? Não sei, mas tenho que tentar me manter altivo, na cancha de luta, para não esmorecer também a ele. Por ele eu sigo na luta e pronto para o que der e vier. Quando fiquei ao lado dele folheando seus livros, todos arrumadinhos, a maioria já lidos, ele com a cabeça mais do pensante e pulsante que a minha, percebi a necessidade de continuar lutando. Portanto, não será dessa vez que estarei abandonando as quatro linhas do campo de jogo e indo definitivamente para o vestiário. Ainda tenho alguma lenha para queimar e com elas em chamas, ardendo por dentro e por fora, pretendo proporcionar alguma dor de cabeça para uma cambada de inescrupulosos que vejo pela minha frente.

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