quarta-feira, 11 de abril de 2018

COMENDO PELAS BEIRADAS (53)


SORUMBÁTICAS HISTÓRIAS SE REPETINDO...

1 – O AMBIENTE UNIVERSITÁRIO
Uma amiga trabalha num dos setores mais importantes da parte administrativa de uma das universidades públicas paulista, campus de Bauru. Não cito seu nome, muito menos seu local de trabalho, só algo de sua atual agonia. Vivencia total desalento com o ambiente criado neste local, um campus universitário, segundo ela, local para amplo debate, mas hoje de arraigado posicionamento conservador, com servidores e professores assumindo declaradamente posições retrógradas e com pensamento de direita muito bem arraigado, diria, enraizados. Não suportando mais a falta de diálogo e a imposição de medidas conservadoras como regras de conduta, impostas sem nenhum diálogo e com ampla aceitação, mesmo com boa possibilidade de galgar postos, subir na hierarquia, melhorar o salário, prefere buscar algo diferente. Seus colegas preferem adular o lado mais nefasto, o das medidas opressoras e repudiam algo novo, com caráter progressista e libertário. Preferem as amarras. Prestes a prestar um concurso no próximo mês, vê isso como única alternativa para sair do ambiente criado, pois diante do quadro sem perspectivas, está por um fio para chutar o pau da barraca. Tento demovê-la de prestar o concurso com a justificativa: “Pensa que por lá encontrará um ambiente diferente?”. Insisto para que continue e lute para reverter a situação. Com um riso forçado, acabamos por concluir que, “se ficar o bicho pega, se correr o bicho come”.

2 – NÃO PERCA SEU TEMPO COM QUEM NÃO TEM MAIS JEITO
Eu sou daqueles a insistir, tentar o diálogo até a exaustão, mesmo com aqueles cujas mentes já estão dominadas e a lavagem cerebral já tomou conta de tudo. Imagino que, mesmo um bolsonarista convicto, quando ainda disposto a ouvir e dialogar, alguma possibilidade. Um baita amigo, morador da abastada Zona Sul bauruense me dá certeira dica para deixar de continuar chovendo no molhado. Conta da relação com seu vizinho, que diz ser o mais amigável do quarteirão, professor universitário aposentado e tendo gravado até vídeo na última concentração dos verde-amarelos lá da Getúlio, com reprodução na TV local. Daí sua pergunta: “Vale a pena eu perder tempo tentando mudar a opinião dele? Vou ganhar o que com isso? Nada, pois não irei convencê-lo e nem ele a mim. Deixei essas pessoas de lado, bem longe de mim, pois já demonstraram seu lado. Interessa conversar e expor outra versão dos fatos para quem está em dúvida e não está mais crendo no que a TV repete todo dia. Vejo isso nessa imensidão representada pela classe trabalhadora, que num primeiro momento foi enganada e caiu no conto do vigário, mas a ficha deles está caindo. Desqualificaram quem lhes ajudou, mas começam a perceber a enrascada onde se meteram ao apoiar seus algozes. É com esses que temos que conversar”. E me diz isto por me ver, segundo ele, perdendo tempo com muitos já irremediavelmente perdidos. Pretendo colocar em prática de imediato a aula recebida.

3 – ELA GOSTA DE MIM, MAS SOU LULISTA
Eu numa festa de aniversário e por lá trabalhando uma senhora, exímia cozinheira. Não a reconheço de imediato e nem ela a mim. Desde o primeiro momento achei conhece-la, sem o saber de onde. Quando da despedida, já na calçada, pronto para voltar para casa, ela surge do nada e sorrindo, braços abertos me diz: “Aposto que não me reconhece?”. O click veio na hora. Abraços como velhos amigos e ela cheia de muitos elogios para comigo. Agradecia por um texto meu, lido por todos de sua comunidade. Foi um perfil para o Lado B de Bauru. Fez um gostoso estardalhaço para comigo e eu ali, estático, sem saber direito como agradecer. Todo pimpão, gostei do tratamento. De uma hora para outra, nem sei explicar como, veio à tona a prisão do Lula no dia anterior. Ela, até então a simpatia em pessoa, num rompante ríspido me questiona: “Você é Lula? Me diga se é Lula?”. Confirmo e sinto a transformação em seu semblante. Apresso a despedida. Não tive coragem de perguntar e nem questionar nada, me fui sem querer quebrar o elo já meio desfeito.

4 – COMERCIANTE GOZADOR
Outro baita amigo conta essa e conversamos sobre situações similares se repetindo a todo instante e como reagimos a cada novo confronto. É a história de um gozador comerciante, num dos bairros da periferia bauruense. Sempre ao vê-lo chegar, até por saber ser de esquerda e petista, ironiza o partido, as prisões de alguns de seus membros e da tal corrupção só deles. Repete a cada visita o mesmo baú de abobrinhas. Quando cessa, pede a palavra na roda de conhecidos e fala para todos: “Seu negócio já não é o mesmo, deu uma grande decaída, não? Vejo não ter decaído a qualidade dos produtos vendidos, mas inegável, antes isso aqui vivia cheio e hoje não mais”. Ele ouve e quer saber onde queria chegar com aquilo. “Tem esse mercado aqui na vila, faz sucesso, mas apregoa a todo instante do Bolsa Família ser assistencialismo, do Minha Casa Minha Vida ser assistencialismo, do Farmácia Popular ser assistencialismo e não percebe que, ao agir assim crava a faca no seu próprio patrimônio. Se esse povo todo deixar de receber, por exemplo, o Bolsa Família, todos eles morando aqui no mesmo bairro onde tem seu negócio, tudo vai piorar ainda mais”. Diz ter sido uma longa conversa, ou seja, um debate com participação de muitos dos presentes. Por fim, antes da despedida, consegue ouvir do tal gozador: “Pensando bem, sei que hoje tudo está muito pior que antes. Ganhava muito mais naquela época do Lula presidente, mas a TV não cansava de dizer ser ele o culpado, eu só repeti o que via”. É assim, na conversa e no convencimento um gozador pode ser desarmado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Em que universidade pública bauruense o clima está deste jeito?

Henrique disse...

Em todas. A história verídica aqui relatada não explícita qual delas, para não causar mais problemas para o autor. O vexame maior é elas todas estarem tomadas pelo pensamento arcaico, conservador, retrógrado e que lhe cravará mais rapidamente a estaca de sua extinção. Uma perdição de difícil volta.
Henrique - direto do mafuá