quinta-feira, 26 de abril de 2018

PERGUNTAR NÃO OFENDE ou QUE SAUDADE DE ERNESTO VARELA (134)



ALGO PARA OS TRABALHADORES QUE FAZEM QUESTÃO DE MENOSPREZAR O PAPEL DOS SEUS SINDICATOS
Na edição nº 1000 da Carta Capital, essa semana nas bancas, um anúncio publicitário me chama a atenção. É o da CNM/CUT – Confederação Nacional dos Metalúrgicos e nele uma frase em letras garrafais: “Patrão adora trabalhador que não gosta de sindicato. É mais fácil de demitir”.

A propaganda me chamou a atenção, pois estava entalado até hoje com um diálogo que li coisa de um mês atrás, ocorrendo aqui pelo facebook entre um líder sindical, no caso o do Sindicato dos Jornalistas – Regional Bauru, Ricardo Santana e uma pessoa atuando num dos órgãos de imprensa da cidade e desdizendo abertamente de se sindicalizar.

Os sindicatos de uma forma geral pisaram bastante no tomate nos últimos tempos, muitos deixaram até de fazer a luta pelas quais deveriam viver (e morrer) e isso gerou uma geração de gente descontente e críticas generalizadas à atuação e até mesmo, em alguns casos, alguns atuando contra o próprio interesse de seus associados, no caso o do trabalhador. Esse não é o caso do sindicato citado, de comprovada atuação e dos mais vibrantes. Desse sindicato o último embate que o vi fazendo abertamente, de forma corajosa foi quando da suposta agressão que jornalistas foram vítimas (sic) quando se posicionaram ao lado dos seus patrões e contra o movimento Lula Livre, exatamente no dia de sua prisão. Numa nota o sindicato se mostrou contra qualquer tipo de agressão, mas também fez questão de ressaltar que o papel de muitos jornalistas não era o mais recomendável e quando assumem posições conservadoras e retrógradas, correm mais riscos, pois a crítica a esses é algo mais do que natural.

No caso do diálogo entre o sindicalista e um que se recusava a se sindicalizar, a nítida percepção da existência de muitos com a cabeça feita pelo patronato, com promessas mil, ou mesmo sem promessas, mas com benesses no seu dia a dia, isso o contentando e vislumbrando que isso possa continuar ocorrendo ad eternum, passando a agir na defesa do interesse que não é o seu e contra toda uma categoria profissional. Muitos desses (não sei se é o caso bauruense), nem registros em carteira possuem, trabalhando com meros contratos, alguns até de boca, free lancers em situação mais que precária, porém agindo pela aí com a mesma mentalidade do dono do negócio. Existe hoje uma parcela de trabalhadores renegando o próprio registro em carteira, quanto mais o fato de ter que recolher um valor para uma entidade que o vá defender. São mais realistas que o patrão e atuam contra o próprio patrimônio, mas quando questionados, estarão sempre prontos para apunhalar ainda mais o papel de quem os defende, no caso o do sindicato.

Não quero entrar em detalhes e muito menos estigmatizar ninguém, longe disto, só registrar o fato e ressaltar que hoje em dia, diante dessa barbarização dos direitos trabalhistas, algo nesse sentido anda sendo incentivado e deve ter aumentado sensivelmente a quantidade de gente nessa situação. A precarização da precarização da precarização.

E ALGO COM TUDO A VER:

"PRECISA-SE DE UM SINDICATO - Há um filme francês, “Dois dias, uma noite”, que conta a saga de uma mulher trabalhadora, demitida, e que precisa pedir a ajuda dos colegas para poder permanecer no emprego. A proposta do patrão é de que ela convença os colegas a abrir mão de um bônus. Assim, em vez de pagar o bônus aos demais trabalhadores ele a manteria no emprego. Uma perversidade. A mulher passa dois dias e uma noite indo de casa em casa, falando com os colegas, com toda a carga dramática que isso tem, afinal, cada família tem suas necessidades e precisa do bônus.

O filme é uma porrada. Mostra a solidão de uma trabalhadora, desguarnecida de tudo. Não há um sindicato, não há um apoio. Não há nada. Só ela e seu desespero individual.

Vivemos tempos assim. Poucos são aqueles que ainda têm ligação e confiança com seu sindicato. Os que ainda permanecem filiados o são por alguma benesse, como o plano de saúde, os convênios, ou coisa assim. É uma filiação ritual. Não se espera nada. Os sindicatos amargam uma fraqueza sem fim. Na UFSC, ontem ainda, pude comprovar a dor pungente de um colega que vive sendo massacrado no local de trabalho, sem apoio algum. Disse a ele: vá ao sindicato. E ele me olhou com olhos de profundo desespero. Não consegue ver no sindicato um espaço de acolhimento de suas demandas. Não confia. Não acredita.

Faz-se necessário parar e pensar sobre por que as coisas estão assim. Por que uma ferramenta tão importante da luta coletiva está tão desgastada? Por que as pessoas não acreditam mais na força da organização gremial?

Não estudo esse tema, mas penso sobre isso. E tenho algumas intuições. Nada é sistematizado ou científico. São impressões que jogo aos companheiros e companheiras para o debate.


Temos vivido muitas derrotas na atual conjuntura. Fomos às ruas gritando “não vai ter golpe”, e teve. Gritamos “não passarão”, aos formuladores da reforma trabalhista, e passaram. Uma a uma nossas batalhas foram sendo perdidas. E enfrentamos agora mesmo, em Florianópolis, a derrota das OSs. Temos acreditado demais nas instituições, na Justiça da classe dominante, na ordem do sistema. Ora, esse povo não está por nós. Está contra nós. E nosso grito de protesto tem se dado também dentro da ordem, na passeata arrumadinha, na difusão do mesmo velho discurso, que parece não tocar mais ninguém. Acredita-se que com uma postagem no facebook tudo esteja resolvido e a informação espalhada. As redes sociais tomam o espaço da presença. Não é suficiente.

O trabalhador está, como quase todo mundo nesses tempos atuais, mergulhado numa rede de luzes e bits, que emana palavras e sons, mas não deixa nada. E nesse turbilhão, perde muito das referências sobre a vida que se expressa no chão da rua. A solidariedade de classe não existe, porque a mais-valia ideológica prepara as pessoas para competir e não para amar.

Desde os tempos do governo Lula, quando o sindicalismo começou a se acomodar de maneira mais rápida, tenho apontado esses elementos. Um sindicato não pode esperar que um governo - mesmo que seja o seu – lhe garanta os ganhos. Sindicato é espaço de luta, de crítica, de reivindicação e de organização da luta de classe. Não se trata de conseguir uma coisinha aqui ou ali no campo corporativo. É necessário criar e fortalecer os laços com as lutas maiores, de toda a classe trabalhadora. E ainda que estejamos no socialismo, esse momento de transição, haveremos de ter críticas e demandas de classe. Não se pode acomodar, nem domesticar. O sindicato é faca afiada da luta, e se perde o gume, como fazer?

Posso ser apontada como uma velha senhora do século XX, mas ainda acredito na força do sindicato. Ainda creio que esse é um instrumento valioso de organização e de corporificação das lutas coletivas. Mas, não esse que vemos aí. O sindicato que precisamos é o que se reinventa conforme caminha a conjuntura. É o que aprende com os erros, o que faz autocrítica, o que inventa novas formas de luta a partir das novas demandas, o que surpreende, o que acolhe, o que forma para a batalha, o que se mostra e age como uma ferramenta da luta da classe trabalhadora.

O sindicato desses tempos tem de voltar a se conectar de verdade com os trabalhadores. Cara-a-cara, face e face, mas esse "face" como cara e não como "feice", de Facebook. Precisa vida sindical na porta da fábrica, na porta do jornal, do centro de ensino, na porta da loja, em cada setor onde tiver um trabalhador. Sindicato que é visto, que pode ser tocado, com dirigentes que escutam, que acolhem, que olham, que abraçam e dizem: “Não temas, estamos aqui”.

Eu vejo essa massa da nova geração de trabalhadores, os diaristas, os intermitentes, os informais, os que têm carteira assinada e morrem de medo de perdê-la, todos com esse olhar de desamparo. Temem e não acreditam que possa haver um lugar, ou alguém, que esteja com eles. E se pensarmos bem, não estão errados. O que se vê são dirigentes burocratizados, em cima dos caminhões de som, em momentos pontuais. Distantes, inacessíveis, intocáveis.

Os sindicatos são espaços que conquistamos a custa de muito sangue de companheiros e companheiras. Ele deve ser espaço de construção de lutas, lutas renhidas, ferozes, mortais, contra os “vilões do amor”, como dizia Cruz e Sousa. Mas, para isso, é preciso outro tipo de sindicalista, sem temor, sem expediente de horário comercial, entregue, comprometido, disposto a tudo. Esse é o drama. Ser alguém assim exige demais, e poucos estão dispostos.

Mas, se não for assim, acabaremos todos como aquela moça do filme francês: sozinha e desesperada na dor. No filme, o final sugere que ela venceu o drama. Mas, eu creio que não. Pode até ter saído daquela experiência mais forte como pessoa, mas não como classe. E a guerra contra o capital não se vence no plano psicológico, nem no plano pessoal. A gente vence coletivamente.

É o nosso desafio. Precisa-se de um sindicato. Sim, precisa-se! E já!

Alguém pode dizer que as lutas podem se fazer sem aparelhos, sem direção, sem hierarquia, como já mostram muitos movimentos vividos no Brasil. Eu digo: sou uma velha senhora do século XX. Não creio nisso. Movimentos são importantes e travam grandes batalhas, mas a classe trabalhadora precisa estar organizada, em todos os campos. E os sindicatos são estruturas perfeitas para essa missão", COLADO DE TEXTO POSTADO PELA PROFESSORA UNIVERSITÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA, Elaine Tavares.

Um comentário:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:

Mirna Monteiro Obvio o interesse em desmoralizar sindicatos. O objetivo e acabar com qualquer garantia ao trabalhador

Oliveira Santos Henrique Everton Na verdade não, todos sabem os direitos... ele pode não gostar do sindicato, mais mande embora e é o primeiro lugar que ele irá... trabalhador não gosta de pagar o Sindicato é diferente.. kkk

Mah Fernandes Se Com o Sindicato, nem conseguimos nos reunir pra fazer o acordo coletivo deste ano, q de longe está sendo o mais difícil de todos os tempos nesses meus quase 20 anos de empresa, e ainda corremos risco de perder benefícios, imagina sem... 😟

Antonio Luiz Ferreira Ramos o RICARDO SANTANA do sindicato dos jornalistas e meu diretor grande batalhador

Heirick Lemão Infelizmente a maior parte dos sindicatos hoje em dia só existem pra garantir mordomias para os seus diretores que diga se de passagem são pelegos , traidores de suas categorias , usam seus cargos pra obter vantagens com os patrões, caçam outros trabalhadores que ousam se opor, usam a influência obscura que possuem com as empresas pra perseguir e demitir trabalhadores que fazem oposição. .. Enfim daria um livro! Não todos, mas 80% são assim e em alguns lugares essa porcentagem aumenta..

Orivaldo da Silva Eu não diria que patrão não gosta de sindicato, eu diria que a maioria dos patrões não gostam de sindicato. Isso acontece em primeiro lugar pela cultura terceiro-mundista da minha classe (capitalistas meia boca) e segundo porque as vezes - e repito: as vezes - o sindicato em mãos erradas mais atrapalha do que ajuda. E é bom que se diga que isso acontece muito com o sindicato patronal , só que poucas vezes vejo criticas ao patronais... Acho que sindicatos fazem parte de qualquer sociedade que se pretenda desenvolvida.

Maria Cristina Romão Bem ou mal, os sindicatos, é o que nos resta, acabar com eles será a pá de cal em nossas lutas.

Ademar Aleixo Camilo HPA, os sindicatos quando surgirsm, chegaram com força total. Era combativo, os dirigentes sindicais davam a vida pela instituição. Infelizmente, o mundo mudou e com as mudanças os sindicatos também mudaram..
depois continuo

Ricardo Santana Henrique Perazzi de Aquino. Há um pano de fundo q alguns jornalistas ou ignoram ou fazem o jogo do patrão p colher as migalhas. A Campanha de Rádio e TV enfrenta um ataque brutal e reacionário do patronal q quer acabar com acordos coletivos.

Jogam o trabalhador/a contra o Sindicato. Pq? Sindicato é instrumento da classe trabalhadora. Não é de sindicalista! Eu estou diretor de base na Regional Bauru. Num momento difícil p/ o trabalhador e trabalhadora. O Sindicato tem mais um desafio: reinventar o SJSP.

Porém a luta, esta, não para. Fazemos greve em defesa do jornalista. Na foto, fizemos eu e jornalistas vigília na frente do gabinete do Camarinha, Prefeitura de Marília.

Agora, os companheiros da Regional Campinas e os jornalistas fazem uma greve pelo não pgto de salário e outros direitos aos trabalhadores da RAC. Quem critica, colabora com o q? Poucos no Brasil sabem da greve. Claro q os patrões boicotam!

Ontem, a precarização foi no extinto Diário de Marília; hj na RAC e amanhã contra aqueles q imaginam q o Sindicato apenas é usado por uma elite de sindicalistas vagabundos q nada fazem. Será?

Enquanto o sujeito tá empregado, ele se porta como amigo do patrão, disposto a fazer trabalho sujo, e fecha os olhos p/ as coisas erradas. Qdo é demitido, corre p/ o Sindicato.