sexta-feira, 13 de abril de 2018
BEIRA DE ESTRADA (92)
O MÉDICO QUERIA FALAR DO LULA, MAS POR FIM FALAMOS MESMO DOS CASOS ENVOLVENDO BAURUENSES Eu sou um contador de história. Tenho amigos fugindo de me revelar algo, com medo de ver tudo aqui reproduzido. Não cometeria indelicadezas com amigos. Conto as histórias que vejo acontecendo pela aí, mas na imensa maioria das vezes omito os nomes, como nesta que aqui relatarei.
Ultimamente ando indo muito visitar e ter conversinhas ao pé do ouvido com médicos. Três cirurgias em pouco mais de um mês e mais umas esporádicas consultas. Das duas uma, a idade chegou ou estou mesmo a dobrar o 'cabo da Boa Esperança'. Prefiro ficar com a definição que um amigo disse dias atrás pra Ana: "Você está reformando o Henrique". Será? Tomara que ela consiga.
Conto a história de uma dessas visitas aos médicos e dos desdobramentos. Eu não me considero um cara muito conhecido pela aí, ainda mais entre a classe médica, mas esse deste interregno é um velho conhecido, desses atuando desde muito tempo. Sabe aquilo de um médico conversador? Esse é assim. Ao me ver no consultório, o danado deve pedir pra sua atendente para me deixar por último. Ele quer conversar e me conta histórias pessoais que nunca esperaria ouvir num consultório e de alguém que não comunga comigo dos mesmos gostos. Permaneci por lá bem mais de uma hora jogando conversa fora.
Desta feita ao meu ver entrar, antes mesmo de perguntar o que ali me trazia, o danado puxou conversa:
- E aí, hem prenderam o Lula? Agora a coisa vai, já era tempo.
Senti o gostinho de provocação e retruquei com algo local:
- O caso do Lula já é um escândalo internacional, pois o condenam e prendem por algo não comprovado, mas os fatos comprovados pululam por aí e muitos desses não vão presos nem que a vaca tussa. Veja o senhor o caso aqui de Bauru, onde tivemos um mensalão com dinheirama em larga escala chegando mês após mês para utilidade pública e sendo descaradamente desvidado, gente graúda envolvida, nomes mais do que conhecidos e todos soltos e não vejo ninguém pressionando para que o chefão tenha seu nome exposto e incluído no processo.
- Eu sei de quem você fala e de que processo é esse. É o da Associação Hospitalar de Bauru.
- Então, meu caro doutor, guardadas as devidas proporções, cada cidade tem algo parecido, uns poderosos que aprontaram e tudo sendo jogado pra debaixo do tapete. É muito fácil culpar o Lula de tudo, mesmo sem provas e se fazer de bobo e fingir que aqui nada acontece. E tem mais, veja esse caso da SEPLAN, querem pegar uns peixes pequenos, talvez os funcionários da Secretaria e não os grandões.
- Verdade, tem até o tal famoso corretor de imóveis. Será que desta vez algo vai resvalar nele? Tem muita historia nessa área para ser revelada, mas ficou até agora só nos bastidores e nunca passaram disto - me diz.
Conversamos mais, ele me contou detalhes de tramas que conhecia, pois enfim, como mesmo disse, tudo se encontra nesta cidade não tão grande e os lugares frequentados por gente como ele não são assim tantos, uma hora ou outra eles se trombam e acabam sabendo das histórias uns dos outros. Prosseguimos e quando me dei conta ele nem mais lembrava da prisão do Lula, pois relembramos vários casos bem bauruenses.
Por fim ele me atendeu e saio de lá com mais um remedinho (dos caros) na algibeira. Gostei mesmo é do rumo da conversa. Ele queria me ver assumindo erros lulistas e lhe mostrei outros de teores mais elevados e bem próximos de nós, aqui dentro da aldeia onde moramos. E o que mais tem é gente pra dissecar a história dos outros, nunca as suas, coisas de serpentários. E hoje não é difícil fazer isso, pois ocorrências não faltam, ou seja, "santos" por essas plagas deixaram de existir, ou melhor, nunca existiram. Tá cheio de gente com culpa no cartório.
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