Antes de tudo, explico a origem o TOP! TOP!. A extraio do livro “A Volta do Fradim – Henfil – Uma Antologia Histórica” (Geração Editorial, 1994, 4ª edição) e no prefácio escrito pelo cartunista mineiro Nilson: “Henfil levou mesmo a galera ao delírio quando o Baixim – inspirado naquele frade dominicano moleque – vira-se para o Cumprido, numa piada, e faz o gesto do Top! Top! O Top! Top! Era um gesto mineiro, uma maneira de dizer que o outro está ferrado. A mão esquerda ficava fechada, formando o punho; com a direita, espalmada, o personagem batia repetidas vezes sobre a esquerda. Foi uma loucura! O Top! Top! Caiu na boca do povo, virou música dos Mutantes, foi um escândalo tão grande que a censura da ditadura militar, que tentava amordaçar o Pasquim, proibiu Henfil de desenhar o Baixinho ensinando São Pedro a fazer o Top! Top! No céu, na primeira edição do Almanaque do Fradim. A partir daí, o genial rato Sig do Jaguar foi obrigado a dividir o estrelato com o Baixim, que também se transformou num símbolo do Pasquim. (...) As pessoas imitavam o gesto ou faziam o som nas conversas e, a cada semana, o Pasquim era ansiosamente aguardado nas bancas do País inteiro, chegando a ter uma tiragem de 220.000 exemplares por semana”.
A bestialidade da época está de volta ao cenário nacional e Guardião, o intrépido super-herói bauruense, além de fazer o gesto em praça pública, vem com uma explicação das mais convincentes e hilárias para sua utilização: “A hipocrisia está de volta e agora com uma intensidade sem precedentes na história desta cidade, estado e país. Não afirmo estar tudo dominado, pois existem uns bravos resistentes. Porém, a letargia é tão profunda que, mesmo diante de tanta punhalada dada nos costados dos interesses populares, muitos desses continuam a apoiar cegamente tudo o que vem de decisões do grupo agregado ao presidente capiroto. Ou estão todos cegos, doentes ou fazem parte dessa onda conservadora, sempre o foram e agora estão colocando muito mais do que as manguinhas de fora. Não dá para entender, o cara a cada nova manifestação pública retira um direito, encurrala uma luta, extermina a liberdade e continuam o apoiando. De onde saiu essa gente?”.
A revolta do Guardião se faz presente também no âmbito local, da aldeia bauruense, seu raio de ação. “Por aqui já interrompem cantores quando cantam, por exemplo, Chico Buarque num bar. Numa escola pública estadual denunciam uma apresentação de capoeira como sendo macumba. Um bar junto da feira tem suas paredes pixadas e seus frequentadores ditos como “nojentos”. Palestrante esquerdista é impedido de se apresentar em faculdade privada, mesmo sua fala nada tendo a ver com sua ideologia. Agressões e bombas num bar na Duque, algo gratuito, sem motivo aparente, só para demonstrar força. Manifestações estudantis não mais são permitidas, Escola sem Partido viceja e o Creacionismo avança. Portas já se fecham, vozes são silenciadas, cabeças seguem abaixadas e sem voz, algo mais do que preocupante, pois há um mês de assumir o poder, a população já sente os efeitos, não impostos por nenhuma mudança nas leis, mas na forma como se encaram o que deve e o que não pode mais ser feito. Para todos esses, faço o gesto do Baixim, o fradim do Henfil e com o devido louvor. Sei que a maioria foi enganada, ludibriada, mas como poucos capitularam, merecem a traulitada para se situarem. Nunca em minha vida esperava ver um trabalhador, um morador da periferia, um desempregado, beneficiado pelas ações sociais dos governos petistas se voltar contra eles e acreditar no candidato representando o interesse do patrão, do fazendeiro, dos donos e usuários da leis de mercado, dos cruéis neoliberais. O Top! Top! é merecido e talvez sirva para que a ficha caia mais rapidamente”, encerra o papo Guardião e reproduz mais uma vez o tradicional gesto.
OBS.: Guardião é cria da verve criativa do artista Leandro Gonçalez e aqui conta com a participação escrevinhativa do mafuento HPA.