domingo, 30 de dezembro de 2018

CARTAS (196)


MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA COM BOLSONARO*

* Carta de minha lavra e responsabilidade publicada na edição de hoje, domingo, 30/12/2018 da Tribuna do Leitor, no Jornal da Cidade - Bauru SP:

A louvação está suspensa, algo paira no ar além dos aviões de carreira. Os desconfiados já ameaçam um butim. A maioria, a turba que o elegeu, apostando ser ele a última cereja do bolo, esses seguem tentando ainda apostar que a novidade seja mesmo alvissareira, mesmo o já apresentado deixar muito a desejar. A besteira já está feita e agora é ver no que vai dar.

Para os que preferiram, mesmo com todas as evidências e sinais emitidos, optar por dar um "tchau" para a democracia como até então conhecida, adentrando um terreno pantanoso, segurar com as duas mãos no fio desencapado, os avisos não bastaram, devem estar com a pulga atrás da orelha. Sabem que algo bem diferente do que até então foi praticado vem pela aí e o pressentimento é pela novidade não ser assim tão boa como almejavam. Destituíram o famigerado PT e colocaram o país diante de algo surreal, incerto e não sabido.

Pela amostragem, a insólita composição, por exemplo, do ministério, já deu para sentir o retrocesso chegando logo ali na curva da esquina. Quando mais necessitávamos de caminhar para frente, pelo discurso apresentado, o caminhar para trás será inevitável, diria, irreversível. Vai ficar muito feio nessa altura do campeonato ocorrer uma coletiva mea culpa. Tem quem não faça isso nem sob tortura (eles gostam disso, viu!).

Vejo muitos calados, contritos, se enrustindo e evitando as conversas mais espevitadas. Muitos se fecham em copas. Dá para sentir no ar uma ponta de arrependimento, porém como a missão maior foi cumprida a contento e o PT excomungado de participação no que virá, melhor tentar passar anônimo se tudo não der assim tão certo.

Enfim, Bolsonaro não enganou ninguém. Sempre foi isso aí que estamos vendo por esses dias, sem tirar nem por. Não mudou nadica de nada. Quem mudou foram os eleitores vendo nele aquele que salvaria o país (do que mesmo?). Por enquanto as trapalhadas estão somente anunciadas, apregoadas, mas quando começar o jogo de fato, qual deverá ser a reação dos que apostaram suas fichas no "novo"? Não existe nenhum Manual de Sobrevivência já disponível no mercado. Muitos optarão pelo sistema avestruz, outros o da indiferença, alguns pelo contra-ataque, sempre espezinhando os que se foram como ainda piores e até os que se farão de cegos. Poucos insistirão apoiando, pois ninguém gosta de cair no total descrédito e terminar seus dias com a brocha na mão.

Incomensurável expectativa no ar. Clima de total e absoluta respiração suspensa, presa, retida nas entranhas, sem nenhuma noção dos próximos passos. Muitos já se perguntam: "Bem que o Olavo de Carvalho poderia nos dar uma dica do que fazer em caso de emergência". Assim será o final de ano da maioria do povo brasileiro, o que colocou no poder o novíssimo Governo, um que, todos sabemos, não era o da total preferência dessa parcela do eleitorado, mas era o que tinham para o momento. E mais uma última dúvida: Para quem reclamar diante do insucesso da empreitada mal sucedida?


Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História

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