sábado, 22 de dezembro de 2018

O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (108)


A CRÔNICA DO FECHAMENTO DO “PAULISTÃO” EM BAURU – TUDO PELOS VINHOS

A notícia saiu no Jornal da Cidade logo pela manhã de ontem: o Paulistão vendeu todas suas lojas para a rede Confiança Supermercados, algumas serão fechadas definitivamente e outras reformadas. O que já vinha sendo comentado na boca pequena, agora era confirmado. O grandão engoliu o Paulistão e aquele ar de primo pobre, de mercado de segunda linha, com design não tão moderno está deixando Bauru. Conheço muitos que se afastavam de frequentar exatamente por causa disto e outro tanto que só iam lá exatamente por não ostentar uma grandiosidade encarecedora de preços. Enfim, com a notícia o rebuliço estava estabelecido e quando isso ocorre, alguém fecha as portas em definitivo, a correria é generalizada e imediata. Veio assim num vapt-vupt com algumas fotos estampadas pelo facebook logo pela manhã e neles algo sobre descontos de mais de 40%, principalmente para a seção de vinhos, uma linha onde esse mercado estava investindo nos últimos tempos.

Minha preocupação em primeiro momento é para com os funcionários o destino dado a esses, principalmente nesse momento, véspera de Natal e com o país adentrando um período dos mais incógnitos e nebulosos. E mais, o que seria feito da Banca do Cláudio, um dos lugares onde ainda compro jornais e revistas, ali no Paulistão das Nações? Vou lá e assunto com ele. Encontro a família toda reunida na porta do estabelecimento, olhando a grande movimentação na loja ao lado. Ele mesmo me disse que, “todos os comerciantes, ele, a farmácia, o salão de beleza, a casa lotérica vão permanecer e mesmo com a loja fechada”. Sei não, mas foi o que me disse. Quando aos funcionários, informações desencontradas. Num primeiro momento, uma me disse que teriam que passar por reavaliação da RH do novo empregador, outras me disseram que tudo é falatório e outro disse que hoje trabalha 8h, ganha X e lá teria que trabalhar só 6h e ganharia muito menos. Ou seja, com certeza, nada está definido e batido o martelo.

Já havia passado com Ana na loja da Getúlio, em busca de uns vinhos que só encontramos por lá, o Drão português, um tinto de boa cepa e preço justo. Encontro quatro e um rebuliço. Só para terem ideia, para conseguir um carrinho de compras tive que suar a camisa. Lá dentro, junto aos corredores o que mais vi são aqueles discutindo sobre a qualidade dos vinhos. Descobri que aqui em Bauru existem entendidos do assunto em profusão. Carrinhos lotados e sendo levados aos borbotões, caixas inteiras e mais pelo preço do que a procedência. Quando estava na fila ouvi a história da mulher que assim como eu, suou a camisa para conseguir seu carrinho e ele lhe foi surrupiado na cara dura, com o sujeito peitando e dizendo ter mais necessidade dele e que iria comprar mais que ela. Ficou paralisada diante do sujeito, que lhe virou as costas sem dar maiores explicações. Passei a segurar o meu e dele não se distanciar.

As histórias iam se repetindo e conto duas comigo. Algumas pessoas estavam na fila aguardando eu pagar a conta, pois queriam meu carrinho. Meu carro estava na parte inferior do mercado e uma delas foi conosco até lá e por pouco não ajudou a descarregar minhas comprinhas. Quando estava saindo do caixa fui abordado por outra e ela me pede carinhosamente se não podia ceder um espaço no meu carrinho, pois seu carro também estava longe e ela não conseguiria carregar tudo na mão. Cedi e fomos dividindo o dito cujo. Outro me disse que os preços não estavam lá tão bons, pois no Tauste algo que havia pago “X”, por lá estavam fazendo no dia de ontem por “Y”, ou seja, a concorrência não está deixando nem o que fecha ganhar um pouco a mais na sua despedida e já quer melar sua promoção de “bota fora”.

No da Nações, o comentário geral é que nunca o mercado esteve tão cheio. Estava lotado e os poucos funcionários, em seus últimos dias de trabalhos se desdobravam para atender a contento os inquietos compradores. Era um tal de esvaziar prateleiras e quando uma já vazia, vi gente tirando produtos de carrinhos cheios pelos corredores. A pessoa não podia nem descuidar do que escolheu, pois bobeando corria o risco de ficar sem. Vejo nessas ocasiões um tipo de loucura estabelecida. Muitos vão e estão prontos para tudo, o que der e vier. Tem os bonachões, os que estão ali só olhando, comparando preços, são os comentaristas de mercado, existentes em todos os lugares, mas existem também os que levam sério até demais isso de último dia e promoção, compram briga por qualquer coisa. Um na minha frente, esse não brigou, mas quando a moça pediu para ele tomar conta da sua cestinha, pois queria buscar algo mais, lhe disse na cara dura: “Cuido não. Se for, ao voltar passarei na sua frente”. Ela não foi e estava criado um clima, resolvido quando um amigo dela passou e ela lhe pede para ficar ali cuidando da vaga e da cesta. Precisam ver a cara do tal sujeito.

A febre continua no dia de hoje, pois ao voltar para o da Nações, quando fui somente buscar minha revista semanal, a Carta Capital, como faço todo sábado pela manhã na banca do Cláudio, quase não consegui adentrar o estacionamento e para arrumar vaga foi uma luta. Tinha até um guardador de carros tomando conta de alguns dos carros e ajudando nas manobras, além de indicar a melhor forma de esperar, permanecer na fila e poder finalmente adentrar a loja. O diálogo mais bestial foi o que vi ontem e saiu da boca de uma vetusta senhora, dessas que, pelo visto não devia ser frequentadora do Paulistão, mas nesse momento ali estava e diante da confusão ali estabelecida, disse para a outra ali lhe ouvindo os dissabores: “Se o Bolsonaro já tivesse liberado as armas de fogo, nada como uns tirinhos pra cima e a fila andaria mais rápido”. Passei diante dela acintosamente com minha camiseta do LULA LIVRE e antes de me retirar em definitivo do local, ainda ouço a outra dondoca responder: "Vamos logo e levo tudo sem esses sacos que identificam o Paulistão. Não quero que meus amigos saibam que compro aqui".

Bauru inteira compra vinhos desde ontem nos Paulistões ainda de porta aberta no dia de hoje, 40° lá fora, sol de rachar mamona e até quem nunca bebe do dito cujo, hoje o fará, tudo para aproveitar os tais 40% de desconto. Enfim, onde encontrarei o Drão daqui por diante?

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