sábado, 1 de dezembro de 2018

MÚSICA (168)


O SAMBA NA CIDADE É A CARA DE SUA IDEALIZADORA, A SAMBANTE MESTRA KELLY MAGALHÃES 
Eu gosto demais da conta de dar créditos a quem merece. Falar e escrever de samba é algo um tanto fácil aqui por Bauru, pois vários são os seus expoentes. Ele, o samba, frutifica de forma magistral pelos quatro cantos dessa cidade. Um maravilhamento só possível em algo que faço questão de apregoar aos quatro ventos por onde ande: Somos privilegiados, pois aqui viceja uma nata de ótimos músicos. Dentre esses, os sambistas formam um seleto grupo. Fazem a arruaça cidade afora (e adentro também), expondo a belezura do que foram vivenciando ao longo de suas vidas. Poderia falar de vários deles aqui e com longo currículo, mas cá estou neste momento a escrevinhar essas poucas palavrinhas com outro intuito, o de enaltecer alguém dentro do meio universitário, a unir o que faz, o seu trabalho junto aos estudantes conjuminado com o samba. Se querem saber, lhes digo em alto e bom som: O SAMBA E A UNIVERSIDADE TEM TUDO A VER.

A professora Kelly Magalhães, uma arquiteta enxergando o samba nas construções e no que um pode trazer de bom pro outro, juntou a ambos e está viajando em algo que já dá bons frutos. "O Samba na Cidade - Evento de Extensão Universitária" é um projeto com a sua cara e nasceu valorizando quem o pratica por essas plagas, os que estão na lida na aldeia bauruense. Como sábia arquiteta, ela planeja e dinamiza um trabalho em conjunto, o que um pode trazer de benefício ao outro e assim não só nasceu o projeto, mas está sendo ampliado para um debate dos mais sugestivos, que é claro, vai desembocar numa imensa roda de samba no sábado. Primeiro a conversa, o tricotar entre gente que tem algo a dizer, escutar e trocar boas ideias, depois de tudo devidamente entendido, nada melhor do que molhar as palavras entrando dentro de uma verdadeira, original e indescritível roda de samba, a ocorrida no distrito rual de Tibiriçá, terra de encantos mil e de muito samba no pé.


A conversa é amanhã, sexta e ocorre em dois horários lá pelos lados na Unesp Bauru e a roda de samba ocorre lá no distrito de Tibiriçá, na sede do seu Centro Comunitário, no sábado, 01/12, a partir das 12h. No sábado, como a família Baté (ou Cosmo, como queiram) não gosta de receber ninguém sem fazer um salamaleque dos mais convidativos, eles coincidiram as datas e na mesma tarde, além do samba em grande estilo, a entrega da premiação anual que eles fazem para a Comunidade bauruense, com a entrega das medalhas Zumbi dos Palmares. Dulce Baté, pega o microfone num certo momento da festa e começa a enaltecer todos aqueles que, de uma foma ou outra, estiveram caminhando ao lado deles ao longo do ano. Creio ser essa a mais original e mais autêntica premiação a ocorrer na cidade de Bauru durante o ano todo. Todos são lembrados e agraciados. E, como Kelly Magalhães soube muito bem perceber, além da premiação, o samba que sempre rola no evento, vai ser abrilhantado com a presença já confirmada da nata dos sambistas locais e regionais, numa festa que vai enfocar ele também como forma de resistência política. Vai dar o que falar e é claro, muito o que sambar.

Escrevo tudo isso, pois estou mais do que motivado para lá estar e ver de perto, primeiro a falação no recinto da Unesp e depois cair no samba e estar junto dos Batés todos e da Kelly e do preparou com tanto esmero para todos nós. Tomo a liberdade de compartilhar o CONVITE e em nome dos organizadores estender para todos os que gostam do samba, do povo de Tibiriçá e de uma boa roda de conversa. Não vai ter coisa melhor para fazer na cidade neste próximo final de semana. Vamos?

O SAMBA NA MESA E EM DISCUSSÃO

Foi ontem em Bauru e algo alvissareiro, discutido em alto e bom som, com categoria. Tudo fazendo parte do Projeto de Extensão Universitária da professora de Arquitetura da Unesp Bauru, Kelly Magalhães. Convidados ilustres e uma roda de boa e sadia conversa sobre essa verdadeira instituição brasileira, uma que "verga, mas não quebra", morrer nem pensar. Na mesa quatro ilustres entendidos do assunto, não só do mundo acadêmico, mas dos que colocam os pés no chão, nos terreiros e rodas de samba variadas e múltiplas. Marcos Gilberto, produtor cultural e sambista Zona Norte paulistano JACA, o músico, compositor e sambista paulistano Renato Dias, a pesquisadora de Comunicação de Londrina PR Juliana Barbosa e o professor da Unesp Bauru e homem do samba paulistano da Vai-Vai Juarez Xavier.

Imaginem os senhores e senhoras o que saiu desse encontro, quando quatro pensantes e pulsantes cabeças sentam para debater o tema a mover suas vidas, o SAMBA. Isso ocorreu ontem em dois períodos na sala 70, Auditório Adriana Chaves (muita saudade dela), campus de Bauru e quem perdeu, além dos lamentos de praxe, agora só mesmo recorrendo à gravação que a TV Unesp fez de parte do encontro. Conto algo breve, só para apimentar e passar a bola pra frente, com um recado dos mais significativos: não se perde algo assim. Saio de lá extasiado e com muito algo a mais sobre a belezura que é o samba paulistano, muito pouco conhecido entre nós, interioranos.


Da conversa, sem citar se foi dito por um ou por outro, exponho aqui algo do que foi discutido: "Entender o exercício do fazer samba. (...) Existe uma navalha, afiada e que corta. Só vai sentir quando se está junto deles. (...) Dialogar enquanto sociedade, estreitando os laços, muito importante as aproximações, entendimento dessa coisa de preto. (...) Processo de desconstrução de preconceitos e ir ver de perto como é que é. (...) Não vai ter teoria que resolva o tal do músico de faculdade, quando o contato se dá só ali dentro e não vai pras ruas. (...) A aproximação do branco com o samba se dá por cima, pela força da grana. Essa segregação foi muita clara e evidente em São Paulo. Tentam impor o padrão branco, arrogante, chegam com valores alienígenas no espaço do samba. (...) Não só a aproximação física, mas total, isso que vale. (...) Valeria a pena recuperar o espaço das tradições. (...) A burguesia paulista é muito mais que segregacionista. (...) A História negra é a História das redes. (...) O papel do samba é ser o novo protagonista na sociedade. (...) A experiência associativa atual é das mais interessantes. (...) Passamos da fase da ingenuidade para a da articulação, articular os conhecimentos universitários com os identitários".

Fica só a pitada do que de fato ocorreu por lá. Hoje tem mais, mais um pouco mais além das discussões, quando além dos festejos de praxe da comunidade de Tibiriçá, com a anual entrega das medalhas Zumbi dos Palmares aos próximos deles, uma ampliada roda de samba, reunindo gente que sabe o que faz nesse quesito na cidade. É ver pra crer, algo de grande valia na comemoração de uma um Dia Nacional do Samba, comemorado amanhã, domingo. Fosse você largaria tudo, até a panela no fogo e iria correndo pro distrito rural, pois hoje o melhor que acontece na cidade estará lá em evidência.


FALA RESUMIDA DESTE HPA NO EVENTO “SAMBA NA CIDADE”*

* Centro Comunitário do distrito de Tibiriçá, sábado, 01/12/2018
Quero falar sobre o Samba de Bauru e em Bauru. A história do samba nesta cidade ainda não foi contada. Aliás, a história oriunda do povão, segundo sua voz foi muito pouco contada. A imensa maioria dos livros registrando nossa história dá voz aos poderosos. A do samba passa batido. Poucos registros e a maioria deles na cabeça dos mais velhos, gente como Halligali, que ano passado estava aqui entre nós e neste já se foi. Halligalli foi um dos mais famosos reis momos de Bauru e quando do hiato do Carnaval na cidade, aqueles sete anos sem a festa acontecer, ele se bandeou de mala e cuia para o Rio de Janeiro. Não conseguia viver sem a festa. Pegava todo ano o ônibus da Reunidas, se hospedava num pequeno hotel perto da Central do Brasil e dali curtia a festa na sua totalidade. O nosso Carnaval voltou e ele não conseguiu mais abandonar o hábito de viajar todo ano para lá. Ele se foi meses atrás e ninguém pegou junto dele um sério registro de sua história, de sua participação no Carnaval. Perdemos essa oportunidade. Precisamos correr contra o tempo e passar a registrar o quanto antes o que tem para ser contado por gente como ele, protagonista da verdadeira história do samba.

Enfim, esse samba pulsando hoje em Bauru nasceu há muito tempo atrás. Quem são seus precursores? Eu me lembro de um deles. Fui aluno na Escolinha da Rede e lá trabalhava o Caré. Alguém aqui sabe quem foi o Caré, sua importância para o samba e o Carnaval bauruense? (Nesse momento vários levantam a mão numa interação divinal, principalmente a fila das senhoras da família Baté). Eu sabia quem ele era, me instigava aquela pessoa, grandona, bonachona, figura tão importante no Carnaval e ali trabalhando num serviço subalterno. São as histórias dessa gente que deixamos passar batido e nunca foram registradas a contento. Precisamos reviver isso tudo, contar e espalhar antes que tudo se perca definitivamente. Aqui do meu lado o advogado Gilberto Truijo me lembra do Caré e suas pastoras e da Vai-Vai do Pedro de Campos. Tem quase nada registrando a história deles. Esse samba magistral que flui aqui em Tibiriçá não nasceu do nada. Ele tem muita história. Essa geração que hoje leva o barco adiante precisa tomar conhecimento dos fatos que os antecederam. Alguns deles, como o Zuza aqui presente, membro dessa família Baté/Cosmo, felizmente continuam por aqui, mesclando conhecimentos e fazendo pulsar esse samba bauruense (Nesse momento Zuza ergue os braços e recebe uma salva de palmas).

Alguém precisa contar a história da Escola de Samba Camisa Dez, enfim, o Bela Vista produz muito samba, um reduto de muita valia. Outro dia, aqui mesmo numa festa antecedendo um dos Carnavais, a Tatiana Calmon juntou alguns remanescentes do Camisa e reviveram um dos sambas campeões. Iria gravar, mas deu um problema na maquininha e perdi a rara oportunidade. Ainda dá tempo de fazer isso de novo e muito mais. E a história do Império, a escola da vila Nova Esperança. Como essa escola conseguiu ser campeã? Foi na primeira administração do Tuga e aquilo tudo merece um livro. Reviver isso e muito mais, aquela disputa acirrada entre a velha Mocidade e o Cartola, cada um com muitos títulos (Nisso alguém grita do fundo, que isso só foi possível depois que a Camisa parou). Quanta história. Isso sem se esquecer de Guilberto Carrijo. Alguém sabe quem foi ele? (Outra vez muitos levantam a mão). Conto minha história com ele. Tinha lá meus 17 anos e comecei a amar o samba por causa dele. Todo ano ele levava um ônibus em excursão para o Carnaval do Rio, antes do Sambódromo e amei ver os blocos na Rio Branco, presidente Vargas, velho centro da cidade. Ele era homenageado todo ano no Cordão do Bola Preta. Anos depois seu nome foi dado ao nosso Sambódromo, o segundo do país. Essas são histórias que não estão contadas por aí e cabe a nós tomar a iniciativa e registrar o quanto antes. Ou alguém de nós faz isso ou continuaremos não tendo nada contado a contento. Era isso, muito obrigado.

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