A QUESTÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EM DISCUSSÃO Sempre gostei demais da conta de participar da Semana Municipal (e Nacional) dos Museus. Peguei o gosto quando por lá atuei junto da Cultura Municipal. Tem assunto nesse meio para ser discutido (e ampliado) de montão. Fui espiar a abertura do evento deste ano e com um tema dos mais instigantes e provocantes (para mim): 1º Seminário de Conceitos e Olhares sobre Patrimônio - Paisagens, Tradições e Ferrovia. Cheguei atrasado no auditório do Museu Ferroviário, tudo já havia começado (uma pena). Perdi duas falas, a da abertura da museólogo Luisa Cristina Mendes da Silva Barbosa e do diretor da Divisão Técnica da Casa, Alex Sanches. Adentrei a sala e a arquiteta Kelly Magalhães, professora da FAAC Unesp Bauru dava início à sua participação, com um tema tocante: "O território ferroviário, sua paisagem e tradições". Sentei e babei. Versou sobre isso de se dar uma outra chance para as cidades, tornando-as mais humanas e igualitárias, um equilíbrio de medidas, algo mais que saudável e salutar tendo em vista os seus espaços. Sendo a paisagem tomada como instrumento de dominação, pensar diferente disto.
Fui só acumulando aquilo tudo, um tanto maravilhado. "Paisagem-território sendo dotada como patrimônio, herança cultural, algo a ser preservado, mantido. Um estabelecimento de ações a serem praticadas e que esse valor, essa importância não permaneça somente na cabeça dos técnicos e possa fluir junto com a vivência do que vai na cabeça das pessoas. Possibilitar que as pessoas, através da reativação da paisagem sintam a necessidade e a importância disso no seu dia a dia. Uma postura diante da ruína: ela não é negativa, ela conta uma história, a paisagem é diversa, vive e deve ser colocada como parte integrante da vida cotidiana", disse.
Na sequência quem falou foi a historiadora da USC e também membro do staff do Museu Ferroviário, Fabiana Ferreira Rocha, "Patrimônio possíveis: Estudos de Caso na Preservação do Patrimônio Histórico". Começou bem, pegando o leigo perguntando se todos conheciam a história do Castelo Rá Tim Bum, quando o dr Abobrinha queria derrubar um prédio de 100 andares e tudo foi tentado para demovê-lo da ideia. Explicou o conceito de patrimônio a partir daí, sobre essa possibilidade de entendimento da importância do preservar e como tudo isso está muito presente diariamente me nossa vida. Daí discorre também sobre Educação Patrimonial e as soluções criativas para evitar que a destruição ocorra, ou seja, "como falar de especulação imobiliária e de um progresso, que nem sempre é progresso?". Responde a partir daí, versando sobre o estrangulamento do nosso cenário e o trabalho sendo feito com a memória cultural, sendo o grande ato de preservação a conscientização. Diz ser vital seguir o tripé: Investimento, educação e formação.
Lança um questionamento: "Como exigir uma memória afetiva do lugar se a cidade e as pessoas desconhecem a história daquele lugar?. Enfim, conhecendo se defende muito melhor e o caminho é fazê-lo através da Educação. Saber o que a população pensa dos lugares tombados, dito históricos, ou seja, o bem tombado precisa estar integrado à paisagem da cidade. Integrar essa história da edificação tombada com a do cidadão, para aquele lugar ser defendido por todos", afirmou, numa ótima discussão sobre a importância da Educação Patrimonial, suas possíveis investidas, conscientização.
Na sequência a portuguesa radicada em Bauru há um ano, estagiária do Instituto Lauro de Souza Lima, doutoranda no quesito Preservação e Memória, Susana Costa Araújo, chega unindo tudo, com o tema "Políticas de Acervo Museológico - Como? Por que?". Explica com um peculiar jeito europeu o que se faz nos museus e o que fazem os profissionais lá atuando, ou seja, cuidam do edifício, do público e do acervo. E dá uma bela aula de um baita problema hoje em dia nos museus, o das pessoas que querem se ver livres de peças antigas em suas casas e ao fazer doação para o museu, exigem deste a sua exposição, sem ao menos saber da importância daquilo e tudo o mais. E responde de uma forma clássica, direta e reta o questionamento: "Por que recebo um quadro de um pinto conhecido e não o de um artesão local?". Enfim, o assunto efervesceu o ambiente e isso foi mais que ótimo.
No final pedi a palavra e perguntei algo sobre a pressão sofrida por eles: "Diante de prováveis discussões sobre destombamento na cidade e pegando no gancho da fala da Kelly e Fabiana, a importância da paisagem e da preservação, o fato do CODEPAC ter permanecido tanto tempo inativo, o que foi feito na cidade para conscientizar o proprietário dos imóveis tombados, no sentido de entenderem que ele não perde com o tombamento? Existe uma política pública nesse sentido na cidade?". Alex, Fabiana e Kelly responderam e o debate foi ampliado, com citação de casos locais, a pressão para o destombamento de alguns imóveis e a ação dos agentes públicos na intermediação desse conflito de interesses. A tentativa de recuperar o tempo perdido, de conseguir fazer valer a importância na busca uma solução conciliatória, fará despontar um Encontro/Seminário sobre esse tema, marcado para novembro, onde o assunto estará sendo discutido entre todas as partes envolvidas. Por fim, saio de lá instigado a escrever, mas o tempo urge e por enquanto, me reservo nessas linhas, deixando o algo mais para próximas etapas, ou o que virá e sairá disso tudo acumulado na manhã de sexta. Adoro estar presente em discussões sobre esses assuntos patrimoniais da dita cidade "sem limites".
UFA! Enfim um prefeito,no caso Gazzetta se dignou a ir assistir algo no Teatro, algo produzido por gente de Bauru. |
Nenhum comentário:
Postar um comentário