TRÊS HISTÓRIAS E ALGO QUE IREI RELER ATÉ QUE SE FINDE MEUS DIAS POR AQUI
1.) PRIMEIRO INTIMIDAM OS ISOLADOS, APARENTEMENTE MAIS FRACOS, DEPOIS OS DEMAIS - ALGO MAIS DO MEDO COLETIVO*
* Em Cuba tem disso não, questão de Estado, mas mesmo assim descem o pau nos costados da ilha. Pérfidos, não enxergam o quanto o neoliberalismo é cruel para com o povo.
Domingo a tarde converso com o professor Juarez Xavier, quando caminhávamos juntos nos despedindo da Parada da Diversidade 2019. Falava a ele da perseguição que alguns já sofrem, simplesmente por se declarar de esquerda e cito o caso do agudense Tita Pardin, que por somente fazê-lo sofre uma retaliação vinda de Auro Octaviani, vereador e irmão de ex-prefeito de Agudos: "Cuidado, pois os militares estão anotando tudo e pode ter problemas futuros. Eles não suportam comunistas". Juarez não se espantou disso já estar acontecendo e me responde com algo bem interessante, objeto desta reflexão: "Henrique, as pessoas mais isoladas, sem muita possibilidade de se defenderem já são acuadas pelo medo, incutido exatamente desta forma, para que não mais se manifestem. Querem a todos calados e numa simples manifestação mostram as garras. Com gente como você isso ainda não acontece pelo motivo de sua ativa participação, de sua exposição contínua, de não se apresentar sozinho, isolado. Esses ainda não chegaram a nós, os atores participando de forma mais clara, expositiva, mas já o fazem com os que consideram mais fracos e com menos possibilidade de reação". Algo de muito insano sendo construído, ou pelo menos a tentativa disto já em curso e se multiplicando pela aí. Aceitar isso quieto e isolado, eis outra questão. Se quando provocado e acuado, instigamos outros iguais a nós a se unir e fazer uma coletiva defesa, eis uma boa maneira de aplacar a bestialidade em curso.
2.) DOS ENCONTROS PELAS RUAS SEMPRE ALGO DE PRODUTIVO - O ABRAÇO EVANGÉLICO NA PARADA Desta feita a trombada foi com a sempre carnavalesca (também cabeleireira e auxiliar de necropsia) Cristiane Ludgerio, lá dos altos da Nova Esperança e além dos assuntos de praxe, Carnaval, política, Bauru, aproveitamos e adentramos o terreno a envolver a Parada da Diversidade. Confabulávamos sobre o fato de todo ano, pelo menos há uns três, um grupo de jovens evangélicos participa do evento com cartazes e se postando num local pré-determinado oferecendo e distribuindo abraços. Num momento em que, ânimos estão acirrados, alguém de uma trincheira oposta vir oferecer uma possibilidade de aproximação, algo alvissareiro. Tanto que, ao passar pelo grupo no domingo passado, uma pessoa junto de nós diz: "Essa é uma atitude que merece consideração positiva. Estão de parabéns". Da Cris ouço algo além disto: "Henrique, eles tentam a aproximação e na maioria das vezes são bem recebidos. Imagino bem pequena a rejeição ou mesmo os que ignoram o que fazem, mas gostaria de ver e tomar conhecimento de como seria a reação se algo parecido ocorresse do lado oposto". Ela me explica: "Imagina um grupo de drag-queens, todas muito bem vestidas, sem nenhum espalhafato, bem comportadas, nada erótico, mas com suas vestimentas bem coloridas se postando, por exemplo, num local pré-determinado junto da Marcha pela Família, essa que ocorreu num desses domingos. Qual seria a receptividade? Seria a mesma que o público LGBT teve? Qual o grau dessa possibilidade ser bem sucedida, com nós dentro de um evento deles? O abraço seria bem recebido?". Pergunta inteligente merece um parar para pensar e é o que faço em busca de uma reflexão coletiva junto de quem aqui me lê. O que vocês acham? Seria possível o mesmo dentro de um evento religioso evangélico ou católico?
3.) QUANDO PAREI NO SINAL - BATEU A SAUDADE DA "VOZ DO BRASIL" Parado no sinal da avenida Nações Unidas, esquina com Julio Prestes, perto do Assaí, agorinha mesmo, 21h, eu e somente mais outro carro, do lado lado de fora um senhor negro, maltrapilho, descalço, poucos dentes na boca e saindo da janela de um e vindo para a minha. O local estava escuro, só os dois carros, momento de apreensão, ele ser aproxima e me pede algumas moedas e eu as pego no console. Antes de entregá-las, sorri sem jeito e me diz: "O que o senhor escuta aí é a Voz do Brasil, não? Faz tanto tempo que não ouço mais isso, mas nunca me esqueço". Ele me sensibiliza, cato tudo o que tenho de moedas no console e lhe entrego. Deu tempo ainda de ouvir dele: "De onde eu venho, senhor, meu pai escutava todo dia a Voz do Brasil e eu aprendi a conhecer pela voz e o jeito da apresentação. Minha família parava toda em volta do rádio. O senhor não imagina a saudade que me deu agora ao reconhecer o programa, é como um filme na minha mente. Eu vou ficar aqui pensando naquilo tudo, na minha família e em tudo que tinha e hoje não tenho mais". O sinal abriu e ali continuei, agora sozinho, eu e ele, pois não tinha como interromper sua narrativa, ele queria, tinha necessidade de falar e estava relembrando algo que o enchia de muita saudade. O sinal fechou de novo, chegou mais outro carro do meu lado, fiquei ali até abrir de novo e na fisionomia do meu interlocutor um quase choro, uma dor sentida, querendo saltar pra fora, revivida ali naquele momento com os locutores da Voz do Brasil. Acelero mais que desconsertado, perdidinho da silva, sem saber direito o que tinha mesmo para fazer depois da experiência ali vivida.
4.) COLECIONEI DOS TREZE ANOS ATÉ O ÚLTIMO EXEMPLAR NAS BANCAS
Agora a boa novidade, vou poder ir relendo um a um, todos os seus 1072 números. Que falta faz um jornal de humor como O Pasquim, para desancar a bestialidade em curso no momento. Aguardo ansioso essa liberação, para ir consultando um por um, passando meu tempo com essa dileta leitura, matando baita saudade dos meus tempos de antanho, quando meninote descobri O Pasquim e dele não consegui mais me separar. Devo estar com laços umbilicais, desses indissolúveis para todo o sempre. Eis o link: https://oglobo.globo.com/cultura/pasquim-podera-ser-lido-na-internet-partir-de-agosto-23764532?utm_source=aplicativoOGlobo&utm_medium=aplicativo&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0DlYbw7z-x8nPs-HoNQCmCtGkYHBcrhN6_IJFz053zyV0i-kaPWt_RGpw
* Em Cuba tem disso não, questão de Estado, mas mesmo assim descem o pau nos costados da ilha. Pérfidos, não enxergam o quanto o neoliberalismo é cruel para com o povo.
Domingo a tarde converso com o professor Juarez Xavier, quando caminhávamos juntos nos despedindo da Parada da Diversidade 2019. Falava a ele da perseguição que alguns já sofrem, simplesmente por se declarar de esquerda e cito o caso do agudense Tita Pardin, que por somente fazê-lo sofre uma retaliação vinda de Auro Octaviani, vereador e irmão de ex-prefeito de Agudos: "Cuidado, pois os militares estão anotando tudo e pode ter problemas futuros. Eles não suportam comunistas". Juarez não se espantou disso já estar acontecendo e me responde com algo bem interessante, objeto desta reflexão: "Henrique, as pessoas mais isoladas, sem muita possibilidade de se defenderem já são acuadas pelo medo, incutido exatamente desta forma, para que não mais se manifestem. Querem a todos calados e numa simples manifestação mostram as garras. Com gente como você isso ainda não acontece pelo motivo de sua ativa participação, de sua exposição contínua, de não se apresentar sozinho, isolado. Esses ainda não chegaram a nós, os atores participando de forma mais clara, expositiva, mas já o fazem com os que consideram mais fracos e com menos possibilidade de reação". Algo de muito insano sendo construído, ou pelo menos a tentativa disto já em curso e se multiplicando pela aí. Aceitar isso quieto e isolado, eis outra questão. Se quando provocado e acuado, instigamos outros iguais a nós a se unir e fazer uma coletiva defesa, eis uma boa maneira de aplacar a bestialidade em curso.
2.) DOS ENCONTROS PELAS RUAS SEMPRE ALGO DE PRODUTIVO - O ABRAÇO EVANGÉLICO NA PARADA Desta feita a trombada foi com a sempre carnavalesca (também cabeleireira e auxiliar de necropsia) Cristiane Ludgerio, lá dos altos da Nova Esperança e além dos assuntos de praxe, Carnaval, política, Bauru, aproveitamos e adentramos o terreno a envolver a Parada da Diversidade. Confabulávamos sobre o fato de todo ano, pelo menos há uns três, um grupo de jovens evangélicos participa do evento com cartazes e se postando num local pré-determinado oferecendo e distribuindo abraços. Num momento em que, ânimos estão acirrados, alguém de uma trincheira oposta vir oferecer uma possibilidade de aproximação, algo alvissareiro. Tanto que, ao passar pelo grupo no domingo passado, uma pessoa junto de nós diz: "Essa é uma atitude que merece consideração positiva. Estão de parabéns". Da Cris ouço algo além disto: "Henrique, eles tentam a aproximação e na maioria das vezes são bem recebidos. Imagino bem pequena a rejeição ou mesmo os que ignoram o que fazem, mas gostaria de ver e tomar conhecimento de como seria a reação se algo parecido ocorresse do lado oposto". Ela me explica: "Imagina um grupo de drag-queens, todas muito bem vestidas, sem nenhum espalhafato, bem comportadas, nada erótico, mas com suas vestimentas bem coloridas se postando, por exemplo, num local pré-determinado junto da Marcha pela Família, essa que ocorreu num desses domingos. Qual seria a receptividade? Seria a mesma que o público LGBT teve? Qual o grau dessa possibilidade ser bem sucedida, com nós dentro de um evento deles? O abraço seria bem recebido?". Pergunta inteligente merece um parar para pensar e é o que faço em busca de uma reflexão coletiva junto de quem aqui me lê. O que vocês acham? Seria possível o mesmo dentro de um evento religioso evangélico ou católico?
3.) QUANDO PAREI NO SINAL - BATEU A SAUDADE DA "VOZ DO BRASIL" Parado no sinal da avenida Nações Unidas, esquina com Julio Prestes, perto do Assaí, agorinha mesmo, 21h, eu e somente mais outro carro, do lado lado de fora um senhor negro, maltrapilho, descalço, poucos dentes na boca e saindo da janela de um e vindo para a minha. O local estava escuro, só os dois carros, momento de apreensão, ele ser aproxima e me pede algumas moedas e eu as pego no console. Antes de entregá-las, sorri sem jeito e me diz: "O que o senhor escuta aí é a Voz do Brasil, não? Faz tanto tempo que não ouço mais isso, mas nunca me esqueço". Ele me sensibiliza, cato tudo o que tenho de moedas no console e lhe entrego. Deu tempo ainda de ouvir dele: "De onde eu venho, senhor, meu pai escutava todo dia a Voz do Brasil e eu aprendi a conhecer pela voz e o jeito da apresentação. Minha família parava toda em volta do rádio. O senhor não imagina a saudade que me deu agora ao reconhecer o programa, é como um filme na minha mente. Eu vou ficar aqui pensando naquilo tudo, na minha família e em tudo que tinha e hoje não tenho mais". O sinal abriu e ali continuei, agora sozinho, eu e ele, pois não tinha como interromper sua narrativa, ele queria, tinha necessidade de falar e estava relembrando algo que o enchia de muita saudade. O sinal fechou de novo, chegou mais outro carro do meu lado, fiquei ali até abrir de novo e na fisionomia do meu interlocutor um quase choro, uma dor sentida, querendo saltar pra fora, revivida ali naquele momento com os locutores da Voz do Brasil. Acelero mais que desconsertado, perdidinho da silva, sem saber direito o que tinha mesmo para fazer depois da experiência ali vivida.
4.) COLECIONEI DOS TREZE ANOS ATÉ O ÚLTIMO EXEMPLAR NAS BANCAS
Agora a boa novidade, vou poder ir relendo um a um, todos os seus 1072 números. Que falta faz um jornal de humor como O Pasquim, para desancar a bestialidade em curso no momento. Aguardo ansioso essa liberação, para ir consultando um por um, passando meu tempo com essa dileta leitura, matando baita saudade dos meus tempos de antanho, quando meninote descobri O Pasquim e dele não consegui mais me separar. Devo estar com laços umbilicais, desses indissolúveis para todo o sempre. Eis o link: https://oglobo.globo.com/cultura/pasquim-podera-ser-lido-na-internet-partir-de-agosto-23764532?utm_source=aplicativoOGlobo&utm_medium=aplicativo&utm_campaign=compartilhar&fbclid=IwAR0DlYbw7z-x8nPs-HoNQCmCtGkYHBcrhN6_IJFz053zyV0i-kaPWt_RGpw
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