AH, SE GANHASSE NA LOTERIA...
Sonhar não custa nada. Muitos como eu, sonham com isto, ganhar sozinho na loteria, aquela dinheirama inimaginável. E daí, se isto acontecer, o fazer com a bufunfa? Primeiro informo que, nem jogar tenho jogado, então o sonho continuará adiado para quando puder voltar a frequentar lotéricas e com algum sobrando no bolso, depois, dizem as más línguas que pessoas como eu não ganham por um simples e único motivo, o de ganhando, querer praticar atos beneméritos, o que não condiz com a prática capitalista individualista de amealhar cada vez mais, juntar, ter, possuir, arrebanhar só para si.
Sim, meu sonho é um tanto coletivo e agora o revelo. Ganhando, penso em primeiro ajudar todos ao meu lado, desde parentes e amigos. Se terei vida boa, eles também. Uma festa coletiva para o resto de nossas vidas, ao menos sem as preocupações e percalços passados hoje em dia. Ontem mesmo recebi a ligação de uma amiga me relatando seus percalços e as dificuldades por que passa. Comovente história, algo pelo qual resolveria no ato, sem pestanejar. Não só o problema dela, mas de tantos outros que sei estar em situação pra lá de lamentável. Não seria assim uma solução coletiva tão abrangente assim, pois para isso teria que, no mínimo este país ter na direção um grupo político pensando e agindo de forma socialista, possibilitando uma divisão equitativa de bens e serviços, esse outro sonho, talvez mais ou tão difícil quanto o meu de ganhar na loteria.
Guardaria um bocadinho como reserva para desfrutar ao longo da vida e o restante iria distribuindo pela aí, resolvendo problemas de uns tantos, todos os que encontrasse pela frente. Enfim, pra que ter muito em caixa se a vida se esvairá de qualquer forma, no meu caso, no máximo em poucas décadas. Antigamente sonhava em transformar o espaço lá do Mafua, com aquele terreno em frente comprado por mim e tudo transferido para um grande projeto ali na frente, onde teríamos música sempre, privilegiando artistas locais, todos devidamente pagos em cachês os reconhecendo/valorizando e o local sendo usado para abarcar mais e mais pessoas em busca de um lazer saudável, com opções variadas de atração. Um local a propagar Cultura com "C" maiúsculo e a módicos preços. Valor cobrado só para manter o negócio funcionando.
Outro sonho que tenho guardado dentro de mim e nunca consegui realizá-lo a contento é conhecer essa América Latina de cabo a rabo, talvez como um dia Che Guevara o tenha conseguido, com uma moto e acompanhado de um amigo. Queria ir ver de perto as entranhas de cada país, escrever dela, enxergar com meus próprios olhos o que realmente se passa nos confins deste continente. Não o faria de moto, como o fez Che, mas de carro, talvez um trailler e ir produzindo relatos de cada canto. Contei isso para um amigo e ele, não sei se querendo me ajudar ou me subtrair o ânimo disse: "Você, descuidado como é, seria assaltado logo de cara. Levariam tudo e não chegaria a lugar nenhum". Será? Che fez outra coisa nessa viagem pela qual nunca me esqueço. Estava quase sen grana, mas encontra pela frente um casal obreiro sem nada, ouve a história deles e não pensa duas vezes, limpa seus bolsos e os passa paar quem estava encralacrado, num beco sem saída. Quando o amigo o questiona, sua resposta seria a mesma que daria: "A gente vai se virar para conseguir mais, eles não".
Enfim, o tempo passa, o tempo voa, agora essa pandemia e o sonho lotérico cada vez mais distante. Lembro também de outro, o Batista, baita amigo do qual não sei o paradeiro desde que os jogos do Noroeste se findaram. O sonho dele era ganhando se tornar presidente do Noroeste e transformar o time desta aldeia em algo onde ninguém mais iria se aproveitar dos seus cofres, mas alavancá-lo aos píncaros da glória. Esse é outro que, pelo que sei deve continuar jogando, mas ganhar que é bom, never de catibiripa. Enfim, quantos projetos pela periferia desta cidade poderiam ser incrementados, impulsionados e criados, possibilitando não só uma solução financeira para as pessoas, mas principalmente uma de conscientização popular, pois essa sim pode ser revolucionária. Povo consciente sabe exigir de fato e isso sempre já é um bom começo para qualquer transformação.
São sonhos. Esses os meus. E os seus, seriam muito diferentes destes? Conte para nós...
HPA - Bauru SP, começando segunda cheio de mirabolantes planos.
POLÊMICA À VISTA – O RACISMO DE MONTEIRO LOBATO Ontem o professor de Jornalismo da Unesp Bauru, Dino Magnoni posta um curto texto levantando uma polêmica que sabia, seria de grande repercussão: “Monteiro Lobato seria racista”. A autoria não é dele e sim de Rosangela Trajano, podendo ser lido na íntegra aqui: https://www.neipies.com/monteiro-lobato-seria-um-racista/?fbclid=IwAR168VoZxrECAEDtaXOVZiIwalJvt6oxfB6QjIt_CbW0IsM9trl589W8Z7Q. O trecho publicado por ele, reproduzo abaixo:
“Monteiro Lobato seria um racista? Deixar de ler ou de ensinar as obras de Monteiro Lobato às crianças e aos jovens seria uma negação da verdadeira história do nosso país e até mesmo das Américas. Dias atrás, li um artigo que afirmava ser Monteiro Lobato um racista. Tomei um susto com essa opinião. Creio que não podemos afirmar qual o jeito de ser e agir da vida real de um escritor. Não estou defendendo Monteiro Lobato, apenas colocando o meu ponto de vista sobre como as pessoas nos veem em relação ao que escrevemos. Às vezes somos confundidos com os nossos personagens. É preciso, pois, diferenciar o escritor do cidadão comum. Um age inspirado no seu mundo da criação e imaginação, o outro vive no mundo real. Acompanho essa discussão sobre o racismo em Monteiro Lobato há alguns anos. Não sei se merece tanta atenção assim, mas creio ser importante levantar essa questão aos professores, gestores, pais e responsáveis por crianças e jovens”.
Foi o que bastou e a repercussão foi quase imediata. O primeiro a se manifestar, o também professor Almir Ribeiro já chegou assim: “Sim, Monteiro Lobato era um racista”. Paulo Santos veio na mesma linha: “Sim... muito racista”. Gustavo R.L. Silva se estendeu pouco mais: “Dino Magnoni mesmo com todas essas credenciais, se o entorno dele era racista e ele compartilhava desses conceitos, isso não faz com que ele não tenha sido racista. Se for aplicar essa perspectiva temporal, então, por coerência, será necessário dar um desconto para pessoas que fizeram atrocidades e foram eternizadas em estátuas como algumas que andaram sendo retiradas de onde estavam como forma de protesto. Ter sido perseguido pelo Getúlio, ter sido progressista e se aproximado da intelectualidade comunista não significa nada sobre racismo se ele era realmente racista. Eventualmente, poderia apontar uma incoerência e é isso. Apontar questões que não estão necessariamente vinculadas a preconceito com etnias é só uma relativização. Não dá pra colocar poréns se você quiser contestar algo estrutural como racismo”.
A boa discussão estava só começando – e eu acompanhando, à distância, sem opinar. “Um homem de seu tempo: racista, eugenista. Contextualizar não significar omitir fatos. "Se" não é uma categoria histórica nem crítica”, Almir Ribeiro. Dino respondeu: “Não julguem categoricamente os homens fora de sua época e de seus contextos históricos. Vejam a trajetória dele, um homem que nasceu e cresceu ainda no século XIX, cujo pensamento predominante entre os intelectuais mais avançados era o positivismo eurocêntrico e racista. Ele era um cara de origem latifundiária, formado em direito, que ao longo de sua vida tornou-se um importante editor precoce, foi o cara que criou uma indústria editorial pioneira para publicar as obras brasileiras e as obras clássicas mundiais. Conforme viveu e aprendeu, tornou-se um intelectual mais progressista, tanto que foi perseguido e preso pelo autoritarismo getulista e teve que se exilar. Se aproximou da intelectualidade comunista, participou da campanha em defesa da educação pública e do petróleo, entre outras causas importantes. Morreu precocemente ao final da segunda guerra. Se tivesse vivido mais, poderia ter avançado para uma visão revisionista do racismo, conforme muitos fizeram. Então, não sejam tão categóricos, sejam um pouco mais dialéticos. Afinal, o grande Mário de Andrade, que nem era branco, também assumia posturas racistas que estavam introjetadas no seu tempo e meio social. Nem por isto, poderá ser considerado um pária! http://www.oabsp.org.br/sobre-oabsp/grandes-causas/a-prisao-de-monteiro-lobato”. Almir responde: “Respeito, mas continua racista. Nenhum de seus argumentos se opõe à resposta afirmativa à pergunta que abre as postagem: "Monteiro Lobato seria um racista?". A afirmação é categórica porque não é contestada, a não ser num hipotético futuro. Monteiro Lobato, que se aproximou da intelectualidade comunista, que defendeu a educação pública e a nacionalização do petróleo, era também racista. Não há dialética que mude essa realidade. O idealismo sim”.
Mais viria. “Considero de alta importância, sim, revisitar Monteiro Lobato, para despertar novas luzes sobre sua obra, inclusive a de racismo, se for o caso; sua obra é notavelmente importante, mas ser escritor não o torna neutro com relação ao momento político que viveu, e isso também é importante dar conhecimento às novas gerações”, Odlanor Martins. Dino vem na sequência: “Concordo contigo plenamente. Se formos condenar categoricamente os intelectuais por racismo, não sobrará nem a maioria dos intelectuais negros, que também viveram e absorveram o racismo estrutural. É preciso estudar a apontar o racismo de suas obras dentro do contexto social e histórico em que foram produzidas. As leis e os valores coletivos, morais e éticos mudam, avançam ou regridem conforme as sociedades avançam ou retrocedem. Não são pétreas. Então nossas visões e julgamentos tb não devem ser inflexíveis...”. Odlanor complementa: “Claro; sempre considerando que haviam abolicionistas no período em que viveram, um parâmetro que também é interessante considerar; mas não se tata de julgar, mas de compreender melhor uma obra à luz da biografia do autor, e com isso, melhor avaliar seu papel histórico, antes de presentifica-la mitologicamente”.
Teve mais: “Não dá pra olhar o passado com os olhos do presente. Chamar um dos maiores gênios da cultura brasileira de racista é ignorar a arte em seu espaço original, na sociedade na qual foi concebida. A decantada democracia grega era baseada no escravagismo, pratica natural no período. Coisas inaceitáveis hoje rolaram nos anos 1980 e eram práticas comuns, como por exemplo deixar crianças sozinhas ou permitir que fumassem. É relevante entender a obra de Lobato no período em que foi concebida. Pode se, claro, deva ter posturas que hoje não são aceitáveis, mas não colocar a pecha de racista no artista”, Eduardo Schiavoni. Dino na sequência: “Exato!”. Almir retrucou: “Entender tudo isso não significa 'passar o pano' para elas. Então a democracia grega era um avanço para a época, mas fundada numa prática abominável; deixar as crianças fumar era tão comum, abominável e Monteiro Lobato viveu numa sociedade racista e era racista”. Dino responde com uma longa citação: “Mark Lilla: ‘Há uma psicologia de intimidação e medo, uma covardia para a qual fomos arrastados’. Promotor da polêmica carta, assinada por 150 intelectuais, que denuncia a “intolerância” de certo ativismo progressista, o analista político e ensaísta norte-americano responde à onda de crítica. O analista político e ensaísta Mark Lilla (Detroit, 64 anos), professor de História das Ideias na Universidade de Columbia, em Nova York, e autor, entre outros livros, de The Once and Future Liberal: After Identity Politics (“o liberal de outrora e do futuro: depois da política de identidade”) e A Mente Imprudente: os Intelectuais na Atividade Política, não tem conta no Twitter, mas não está alheio à polêmica nas redes sociais. O artigo de opinião que ele publicou no The New York Times após a vitória de Donald Trump em 2016, no qual pedia que a esquerda nos EUA abandonasse a “era do liberalismo identitário” e buscasse a unidade diante da especificidade das minorias, foi seu batismo no mundo agitado das brigas nas redes. Nesta semana, voltou ao que chama de “esgoto” decido à já célebre carta aberta publicada na Harper’s. Lilla foi um dos promotores desse texto, que denuncia a “intolerância” de um certo ativismo progressista que tem provocado a demissão de editores e o cancelamento da publicação de livros. Os 150 intelectuais que assinaram a carta, entre eles Noam Chomsky, Gloria Steinem, Martin Amis e Margaret Atwood, reivindicam o direito de discordar sem que isso ponha em perigo o emprego de ninguém, e rejeitam a autocensura que sentem prevalecer. No calor da batalha em defesa da carta, Lilla concorda em responder a algumas perguntas por videoconferência e se mostra um pouco agitado. https://brasil.elpais.com/cultura/2020-07-16/mark-lilla-ha-uma-psicologia-de-intimidacao-e-medo-uma-covardia-para-a-qual-fomos-arrastados.html”.
No último post algo ainda inconcluso: “Entre o ser e o não ser, há frações relacionadas ao comportamento que distinguem uns dos outros, à ansiedade de uma reposta binária pode omitir questões importantes na compreensão de alguém e condicionar a um cancelamento precoce”. Por fim, o momento pode não ser dos mais oportunos para a continuidade de uma discussão com este teor, porém, sempre ocorrerá e quando, como agora, sem altercações, com posicionamentos firmes, sem agressões, um passo adiante no debate contrário aos posicionamentos com este teor.
DUAS CEIs VOTADAS HOJE EM BAURU, NADA DE NOVO
Duas de uma só vez e em ambas nada de novo. Na primeira, a sobre a Estação de Tratamento de Esgoto, muita conversa, falatório esperado, gritos e altercações, mas nada de novo ou a acrescentar. Vozes alteradas, obra praticamente paralisada, responsabilidades ditas em alto e bom som, porém, quando algo poderia ser feito e essas sendo de fato penalizadas, a solução é pela PAZ. Na outra, a da COHAB, algo estranho, com vereadores parecendo estar pisando em ovos, pois após tantos depoimentos, a solucionática foi mesmo aprovar o Relatório como prescrito por 12 x 3, com uma abstenção. Três queriam algo diferente, ou seja, uma processante para tentar se chegar a algo onde os culpados pudessem ser mais expostos e dissessem o que de fato sabem sobre o tema. Ficou tudo por isso mesmo. No final, o presidente da casa, vereador Segalla, agradece aos céus pela sessão ter ocorrido sem confrontos, admoestações e tudo ser decidido sem necessidade de separação de corpos. Ou seja, não teve sangue e sim, um belo acordo de PAZ. Pra mim, confesso, creio aqui ter sido muito dinheiro jogado fora, pois a decisão ficou para as hostes da Justiça, como desde sempre. Nenhuma luz no final do túnel.
Um comentário:
Professor Almir brilhante e coerente como sempre, já o professor da Unesp nada surpreende suas passadas de pano.
Monteiro Lobato era sim racista, era famoso defensor da eugenia, foi membro da Sociedade Eugênica de SP e tinha estreitas relações com nomes da políticas eugenistas brasileiras como Renato Kehl e Artur Neiva. Escreveu cartas onde elogiava a KKK.
Não existe essa de separar o autor da sua obra, porque a obra nada mais é do que o reflexo da visão de mundo do sujeito e Lobato projetou seus preconceitos na construção de seus personagens. Reforçou estereótipos abomináveis como "beiçuda", "macaca de carvão", "carne preta" e outros vários insultos de cunho racial.
Sua obra tem que ser banida sim da literatura infantil e ensinar a história aos jovens mostrando o exemplo deplorável de ser que é um racista. Ninguém nasce racista, se aprende a ser e expor crianças a esses estereótipos é abrir caminhos para preconceitos. Ver brancos passadores de pano para o Lobato não surpreende já que nunca sofreram por conta da dor da pele e seus traços o bullying e discriminação por outras crianças. Eu vi muitos depoimentos de jovens negros sobre a tristeza ao receber esse bullying racial nas escolas jogando a auto-estima para baixo e fazendo parecer que eram seres anormais. Isso é uma aberração.
Dizer que o Lobato era um "homem do seu tempo" e que não se dever julgar o passado com os olhos do presente é de um absurdo sem tamanho, primeiro por que quem disse que o presente não é racista?? Temos um racismo estrutural e fica evidente ao ter um presidente eleito tendo o racismo entre os seus discursos de ódio. E já tínhamos pensadores abolicionistas desde o iluminismo, então não venham com esse papo que o "certo" na época era o racismo, normal era, assim como esse normal impera também nos dias atuais e assim como no passado cabe a todo verdadeiro revolucionário combater e denunciar vermes como o Lobato.
Também usar como justificativa para passar o pano de que ele no final da vida teve posições mais progressistas e se aproximou do partido comunista não diz absolutamente nada, continuou racista e na verdade ele foi empurrado pelo Getúlio aos comunistas, não foi uma "conversão" revolucionária. E seguindo essa lógica de que se ele tivesse vivido mais para revisar seus conceitos, devemos utilizá-la para o Hitler também?? Faltou tempo ao Fuhrer para rever seus conceitos?? Ah, vão à merda. O racista jamais deixa de ser, e um racista não necessariamente passa por defender a escravidão, afinal é um termo que vai muito além disso.
Que os passadores de pano se enterrem junto ao Monteiro Lobato, porque de progressistas passadores de pano(aliás, progressistas são exímios passadores de pano) já estamos de saco cheio, principalmente aqueles que passam o pano no Palácio das Cerejeiras em Bauru, seria um "homem do seu tempo" ou um pelego do nosso tempo??
Camarada Insurgente Marcos
Postar um comentário