Sou suspeito para falar de todos os cinco, pois nutro admiração por todos, dignos representantes deste LADO B a me encantar. A proposta é exatamente esta, a de propiciar conversa com pessoas interessantíssimas e que são pouco vistas por essas bandas internéticas, ao menos em entrevistas contando algo de suas vidas, a trajetória que os trouxessem até aqui.
Hoje, com mais de quatro meses de pandemia e reclusão causada pela forçada e necessária quarentena, uma das válvulas de escape foram as LIVES. Tem o lado chato delas, talvez no excesso, importantões pra lá pra cá, o cansaço, porém, como diversificar é preciso em tudo que fazemos, a proposta é fazer algo diferente, dar voz para um mafuento escrevinhador se atrevendo neste novo mundo e ele buscando em seu leque de amizades, de considerados, histórias que possibilitem um novo olhar sobre tudo, inclusive as Lives.
Lázaro Carneiro é meu velho conhecido. Não tenho muita recordação de como o conheci e passei a admirá-lo. Creio ter sido pelo conjunto da obra, pois o cara é autêntico demais da conta. Um senhor de fino trato, gentleman com quem assim o merece, aposentado da CPFL, onde trabalhou quase uma vida inteira e em casa, passou a fazer de suas ações um bunker contra a imbecilidade em curso do lado de fora dos seus muros.
Sem papas na língua, não tem medo de falar e praticar o que pensa. Já passou da idade de se preocupar com o que as pessoas vão pensar sobre o que faz e pensa. E assim, mais autêntico impossível, segue sendo um farol para muitos, como pessoa humana, como poeta, como ser pensante e pulsante na periferia destas plagas.
Eu o observo e escrevo dele faz tempo. Mantenho meu blog, o Mafuá do HPA desde 2007 no ar, ou seja, treze anos de ininterruptas escrevinhações e nele, um dos personagens que mais me apetece escrever é esse senhor. Juntei alguns desses escritos para apimentar e despertar mais interesse na conversa que manteremos amanhã cedo aqui pelas ondas internéticas. Neste link, páginas e mais páginas, https://mafuadohpa.blogspot.com/search?q=L%C3%A1zaro+Carneiro e abaixo trechos significativos de como ele foi me conquistando e hoje sou confesso AMANTE de tudo o que faz:
- Em 30.04.2011: “Tem uma frase do Dorival Caymmi que diz assim: “Todo mundo é carioca, mas Aldir Blanc é carioca mesmo” e aqui em Bauru poderia aproveitando do mesmo dizer sem medo de errar: “Todo mundo aqui é caipira, mas Lázaro Carneiro é caipira mesmo. E com muito orgulho”. É não é que o caipira que leu Nietzsche apronta mais uma. Dessa vez não o desculpo por nada desse mundo. No único dia onde ainda posso acordar mais tarde na semana, no domingo, ele estará a partir deste 1º de Maio, apresentando um programa na TV Preve, o ‘Rancho Cultural” (junto com Cláudio Dangió, que ainda não conheço), à partir das 8h de la matina. E é claro serei obrigado a acordar cedo para ver o que o mesmo anda aprontando na telinha mágica. Ele me avisa antes de viajar, ou seja, o mesmo grava alguns programas e cai na estrada para ver o filho defender banca de mestrado em Araraquara e depois recepcionar um poeta cubano, remanescente de Sierra Maestra, que estará se hospedando na casa do filho em Atibaia (pena ser muito longe daqui). Então, sou informado que o programa será apresentado aos domingos 8h, com direito a repeteco nas terças 21h30 e nos sábados às 16h e a cada semana mostrando um bocadinho da cultura popular ainda a persistir aqui dentro dessa Bauru. Tem quem vire a cara para essa caipirice, mas ela é inerente até aos envernizados, mesmo que eles a rejeitem”.
- Em 08.11.2008: “Tudo começou com a montagem da exposição “Lázaro Carneiro – O caipira e suas máquinas”, uma realização do Museu Histórico Municipal de Bauru, propiciando um encontro inusitado de caipiras e suas histórias. Mas o pontapé inicial mesmo foi quando estive numa reunião política na casa do conhecido poeta caipira, realizada num barracão ao lado de sua residência e lá tomei conhecimento de que ele, além de poeta, era um exímio colecionador de raridades. Mal prestei atenção na reunião, pois a curiosidade me fez ficar vendo uma a uma as peças ali instaladas. Fui ficando mais amigo do Lazinho, como todos os seus o chamam e alinhavamos a união daquilo tudo numa exposição, onde mostraríamos suas poesias e crônicas, aliado as peças, que vão desde rádios, TVs, vitrolas, máquinas de escrever, de costura, cadeiras de barbeiro, um automóvel Itamaraty 1967 e uma infinidade de miudezas, todas antigas e com uma história própria. Ouvir como foi conseguido cada peça, como chegaram até ali, faz parte do contexto. Tudo por ali é muito rico, a forma como ele escreve e como juntou aquilo tudo. Merecia mesmo uma divulgação”.
- Em 12.09.2015: "Lázaro não é socialista para exorcizar nenhum demônio que a sociedade capitalista impõe a ele. Esse não é fariseu, é um aflito. Sua sensibilidade o faz absorver tudo quanto abala a liberdade de todos. Inquieto por natureza. Essa convicção beira o absurdo e é contraditório ou difícil de ser entendido por quem, como a maioria de nós, vive em função de um catálogo de procedimentos, normalmente apoiado em conveniências. Esse aqui já superou isso tudo, aliás, vive num estágio acima disso tudo. Desse eu cobro coerência, pois a tem de sobra, o que falta, infelizmente, em quase tudo à sua volta nesses bicudos tempos. Coerência de viver pobremente à moda Mujica. Lázaro venceu na vida perdendo. Enquanto todos lutam como doidos para amealhar mais e mais, ele se contenta com o que tem. Uma baita de uma sorte em ser o que é, conseguir tocar o seu barco, cavar seus espaços nesse competitivo mundo. Eu o resumo numa frase dita por outro igual a ele, Carlito Maia: “Faço tudo o que você quiser, se eu quiser”.
- Em 29.06.2017: “A ironia faz parte do negócio. Viver dentro do atual estado de golpe e tendo, dia após dia, gente cravando uma nova estaca em nossos costados, eis aqui uma peculiar forma de tocar o barco adiante e da forma mais jocosa possível. Uma dupla de intrépidos caipiras bauruenses já aprontou junto até num saudoso programa na TV Preve, mas deixaram o programa de lado, pois perceberem que a belezura produzida por ambos só ia ao ar, numa TV Educativa, se tivesse regiamente o espaço pago em dinheiro vigente. Não conseguiram mais bancar o negócio de divulgar a cultura caipira pela plagas de Bauru e região com grana do próprio bolso. Saudosos dixaram uma legião de telespectadores, ávidos por encontrar na TV local algo de compreensível e palatável. O programa era apresentado por Lázaro Carneiro e Cláudio Dangió, amigos inseparáveis e quase vizinhos parede meia, lá nos altos do jardim Bela Vista. Um costuma tomar chá das cinco rotineiramente na casa do outro e lá tramam algo novo para atormentar a consciência dos interessados nas belezuras saídas de tão criativas mentes”.
- Em 25.07.2009: “As Academias estão em evidência. Na Brasileira de Letras, a maior e de maior pompa, um se vai e recomeça a luta pela ‘ocupação’ do posto. Nesse quesito recomendo a leitura do livro do Jorge Amado, “Farda Fardão, Camisola de Dormir”. Na Alagoana de Letras, algo até normal, considerando que Fernandinho Collor de Mello é uma espécie de mandarim naquelas plagas. Ele está assumindo uma vaga, sem nenhum livro publicado, só discursos. Aqui em Bauru três novos imortais estão prestes a assumir cadeiras. Para que o assunto não passe em branco esse mafuá foi em busca de algo lá do fundo do baú, de um que refuga participar da nossa, a Academia Bauruense de Letras. Trata-se do poeta caipira nietzeriano Lázaro Carneiro, um que além de conseguir ler o que escrevo, dou o troco e faço questão de consultar com certa freqüência. É uma espécie de ‘Consultor para assuntos aleatórios’ desse mafuá. O também poeta Luiz Vitor Martinello, havia declinado de uma sondagem da mesma Academia, assim como Lázaro”.
- Em 10.10.2013: “Quem também me enche de orgulho (e deveria sê-lo cidade afora) é o poeta Lázaro Carneiro, um macanudo enfiado lá nos altos no Bela Vista, aposentado da CPFL e que após levar choques elétricos a vida toda, leu Nietzsche, desparafusou os carunchos da carapinha e deu de poetar para os daqui e para os de longe. Nós todos nos surpreendemos com esse negócio de escrever, Lázaro sente isso na pele essa semana, pois seus escritos viajam ao sabor do vento, de um lugar para outro, sem que ele consiga domar o destino e o rumo desses endiabrados escritos. Estão pela aí e algumas vezes surpreendem, como o ocorrido com ele dias atrás. Recebeu um telefonema de Brasília, capital federal e do outro lado um representante de uma tal de Confraria dos Bibliófilos do Brasil, comandada por José Salles Netto. Era um convite para que um dos seus poemas fizesse parte de um BESTIÁRIO. O matuto aceitou ter seu poema incluso no livro, mas foi conferir o que viria a ser esse tal de bestiário e viu que é uma espécie de catálogo dos animais por ordem alfabética. Ou seja, o pessoal lá de Brasília reuniu poetas do país todo cujos temas são animais e escolheram um dele, um que versa sobre o bichinho caçador e comedor de formiga. E assim o “Soneto do Tamanduá” está no livrão, capa dura, contendo nomes famosos da literatura nacional, como Olavo Bilac, Cassiano Ricardo, Lêdo Ivo, Augusto dos Anjos e tantos outros”.
- Em 19.07.2018: “Nhô Lázaro Carneiro gosta muito desse termo, o ser caipira. Na verdade, é um entendido da cultura caipira e fez disso um grande motivador de sua vida. Tocou a vida dentro da CPFL e quando conseguiu a aposentadoria, assumiu de uma vez por todas o gosto pelas coisas da roça e a simplicidade (tão inteligente) dessa cultura. Escrevinha como ninguém. Possui um texto refinado, daqueles que fluem naturalmente, de forma apaixonada e desinteressada. Se lhe pedem um texto por encomenda, a coisa não sai, mas se fluir a inspiração, escreve como nenhum outro. Lá no seu canto, nos altos do Jardim Gerson França, possui ao lado de sua casa, um amplo barracão, onde foi juntando peças raras. Possui um museu particular e curte aquilo tudo de forma abnegada. Inseparável mesmo um chapéu, a lhe esconder os cabelos brancos e para ressaltar aquele ar de sujeito simples e despreendido. Sinceridade é contigo mesmo e uma de suas especialidades é contar causos, principalmente as histórias de assombrações. Para gostar dele é simples, basta conhecê-lo. Não existe igual. Assim como eu, possui um blog, onde premia a todos com seus primorosos e bem acabados poemas, causos, crônicas e caipiradas em geral: http://www.lazarocarneiro.blogspot.com/”.
- Em 01.01.2015: ““JÁ ESTOU CANSADO DE VIRAR O ANO E NÃO VIRAR A MESA” - Essa lapidar frase dando título ao meu primeiro escrito do ano não é de minha autoria, mas de um dos maiores poetas dessa terra, LÁZARO CARNEIRO, digno representante e defensor não só do cerrado, mas do que ainda nos resta de dignidade num país querendo se perder na lambança do tempo. Pessoas como Lázaro insistem em resistir e eu vou com eles, aliás, estou na deles. Tento fazer as palavras ditas e seguidas por ele como minhas em tudo o que digo e faço. Começo o ano e a primeira frase que escrevo na minha agenda de ano novo, a desse 2015 é essa do Lazinho, uma espécie de mantra para mim nesses próximos 365 dias pela frente. Estamos mesmo virando muito ano e virando cada vez menos as mesas. Acomodados, parece que sem forças para reagir não podemos mais deixar o barco rolar. Algo precisa ser feito e na sacada do poeta essa incomodação que também é a minha e de tantos outros (as)”.
Teria muito mais, mas só por estas já dá para perceber o engajamento do tal do assumido caipira, também enxergado como “desimportante” para muitos, porém, figura de proa para legião de gente que o admira. O papo vai render e a conversa começando às 10h, deve se estender até quando findar a boa prosa e as histórias. Eu e ele daremos o melhor de si para levar adiante isso de insistir uma vida inteira em ser sempre do mesmo jeito.
Até lá, domingo, 26/07/2020, 10h, pelo facebook deste mafuento e Historiador das Insignificâncias, o HPA.
O LINK PARA ASSISTIR A ENTREVISTA DE 1H10 É ESTE: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3671206916242624
Um comentário:
ALGUNS COMENTÁRIOS VIA FACEBOOK:
Sr. Lázaro umas das personagens importantissimas de nossa cidade, nossa gente, é um prazer falar com ele e se apoderar um pouquinho de suas experiências, suas histórias, sua forma especial de amar o que escreve e escrever o que ama. Nosso povo, nossa história, nossa vida.
KRISTINNA OLIVEIRA
Estarei num curso neste horário, mas faço questão de ver o vídeo depois. Imperdível!
ROSELI ANDREOTTI FELIX
Grande Lazinho , Eletricitário aposentado da CPFL , companheiro de lutas . Parabéns pela entrevista Henrique.
CHICÃO MONTEIRO
Famoso " boia fria", responsável pelo crescimento do país em décadas passadas. Belas lembranças da nossa história. Essa é a verdadeira história do povo brasileiro.
CHICÃO TERENA
O caipira que virou Nietzsche, muito bom. O filósofo escrevia como ele, sem ter aquela lógica acadêmica, e isso é algo muito rico! A palavra sem gaiola!
RODRIGO ALVES
Parabéns Henrique pela live !!! Lázaro , meu grande amigo, o nosso "Poeta do Cerrado", com toda pompa e sabedoria caipira, que tbém leu Nietzsche....
MARIA JOSÉ URSOLINI
Parabéns, ficaria muitas outras hora e dez escutando voces.
MARIA CECÍLIA CAMPOS
Muito esclarecedora a explicação nierzchiana da morte de Deus. Muito bom. Meu grande e fraterno abraço a esse grande artesão das palavras.
LAÉRCIO SIMÕES
Escrever é brincar com as palavras
E as palavras brinca com poeta.
ROSIMEIRE SANTOS SILVA
Isso aqui é uma Demôniocracia, não tenho fé alguma também em futuro, essa direita maldita e grande parte de uma esquerda cirandeira....Estamos mais abandonados q a Ema mesmo.
AMANDA HELENA
Duas figuras de alto nível.
REGINALDO TECH
Bom dia, Henrique, o Lázaro é um contador de história e estorias nato. Muito legal.
CLAUDIO LAGO
Postar um comentário