RETRATOS DE BAURU (242) e REGISTROS LADO B (02)

“LADO B” A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES – SEGUNDA ENTREVISTA, HOJE COM MARIA DO CPT, CHEIA DE LUZ E CONTAGIANTE HISTÓRIA DE VIDA

Será hoje, domingo, 14h, podendo ser acessada aqui pelo meu facebook a segunda LIVE deste que se intitula Historiador das Insignificâncias, pois enquanto a maioria das lives hoje rolando pela aí (e como tem live, hem gente!) são com os ditos importantes, os bambambãs, eu sigo na contramão e no meu descaminho mostrando outros lados e possibilidades, a das pessoas comuns, todas com belas histórias e trajetórias de vida. Por aqui, a cada domingo, uma nova entrevista e nela alguém dos meandros desta cidade, num resgate cheio de emoção, pois ali estará sempre algo da vida vivida, os ditos subalternos, todos lutadores e desbravadores, ligação umbilical com o povo e seus anseios. Por aqui, a cada domingo a valorização da vida de gente que pega no pesado, faz e acontece, contínua luta de uma vida inteira em busca de dias melhores para si e para todos ao seu lado. Confiram.

Nesta segunda Live/Entrevista a escolhida é MARIA DA LUZ, ou MARIA DO CPT como sempre foi conhecida em Bauru e região. Moradora do Assentamento Terra Nossa, em Aymorés, parte em Bauru e outra em Pederneiras, ela estará contando algo de sua vida, luta, os envolvimentos sociais e em uma hora, bocadinho de sua contagiante vida.

Em 06/07/2010 publiquei dela no blogo do Mafuá: "Maria Aparecida Luz é uma assentada junto ao Terra Nossa, ali em Aymorés. Está com a situação de seu lote legalizada e dali não arreda pé. Figura das mais conhecidas nos meios sindicais e sociais de Bauru, poucos saberiam de quem se trata a chamando pelo nome. Já, quando se fala de MARIA DO CPT, poucos são os que não a conhecem. Na luta, ou na lida desde que me conheço por gente, essa batalhadora lutadora sempre esteve envolvida com alguma espécie de militância. O apelido vem de outra luta, a do CPT – Comissão Pastoral da Terra, da igreja católica, da qual não se afasta. Maria anos atrás saia de um casamento de décadas e tomou a decisão que tanto queria na vida e adiava por causa da família, a de morar e vivenciar in loco a luta da reforma agrária no país. Junto desde o início da luta dos trabalhadores rurais em Aymorés, entre idas e vindas acabou por juntar-se ao pedaço de terra do irmão e hoje, além dos afazeres domésticos, os das várias frentes de luta, é também uma das coordenadoras do local. Muito respeitada, milita no PT desde quase sua fundação e afiadíssima com tudo do acampamento é uma espécie de porta-voz de todos. Irradia confiança e perseverança na luta, além da esperança de dias melhores para todos os seus pares. É uma mulher de luta e de muita fibra, tornando-se um verdadeiro cartão de visitas do assentamento. Vê-la aos 52 anos comandando a cozinha nos eventos sociais por lá é a constatação de se estar diante de uma pessoa feliz e de bem com a vida, lutando de mangas arregaçadas, como sempre fez a vida toda".

Abaixo dois recados já publicados anteriormente e aqui novamente postados, como explicação para o uso dos termos “Importância dos Desimportantes” e “Historiador das Insignificâncias”. Minhas explicações estão muito bem resumidas nas duas citações:

RECADO DE LUIZ ANTONIO SIMAS, O HISTORIADOR DOS VAGABUNDOS:
"Recado para os babaquaras que vez por outra me chamam de "historiador de vagabundos" (como aconteceu agora, agressivamente, na outra rede. Bloqueei os incautos). Eu sou um historiador de vagabundos. Isso é evidente e é elogio, para descontentamento dos "homens de bem". Vou repetir: eu sou um historiador dos "vagabundos" subalternizados pelo processo histórico que, ainda assim, são sujeitos de suas histórias. Têm história, pô. São invisibilizados, mas têm história. Insisto nisso. Não escrevo história de poderoso. Não quero e não posso sair do Brasil. Não tenho grana, tenho mãe, pai e irmãos aqui, todos os meus estudos são direcionados para a cultura carioca e brasileira. Vou sair daqui pra estudar as encruzilhadas da minha cidade? Não dá. Eu preciso frequentar botequins e macumbas para estudar o que estudo, é óbvio. No meio do horror, tenho algumas expectativas: uma delas é contar as histórias da cidade na cidade. Na rua, na encrenca, no perrengue, mas ancorado em pesquisa e reflexão de ponta. Como o povo comum do Rio de Janeiro merece. Eu não sairei vivo do Rio de Janeiro. E muito menos morto, já que serei enterrado aqui. Me aturem ou dividam comigo as cervejas no balcão" (Texto publicado no blog Mafuá do HPA em 28.07.2019).

JORNALISTA CHICO FELITTI EM PALESTRA NA UNESP BAURU:

“Eu estou sempre em lugares onde muitos não gostam e não estão. Cato minhas histórias nesses ambientes, pois sei que o acesso a informação é um privilégio e daí vou atrás dele. (...) Nada é essencial, existem milhões de trilhas a serem seguidas e conquistadas. Claro que conta você ter experiência profissional, internacional, essas coisas, mas o que conta mesmo é a boa história, algo considerado essencial e a forma como você a escreve. Ninguém consegue ter a cesta básica do jornalismo por inteiro. (...) O mercado, todos sabemos, se dissolveu por inteiro, está em pandareco, mas pense nisso: o que essa dissolução acarreta? O jornalismo que se autogere presta um serviço pra muita gente. Não precisa todo mundo escrever sobre o que rola nos salões grã-finos. Eu optei por escrever o que está por detrás desses salões e vejo que isso desperta muito interesse. Tem boas histórias em cada canto que circulo. Mesmo com tudo de pernas para o ar, eles, os donos das publicações continuam precisando da gente para boas histórias e notícias. (...) Vivo de biscates, de pequenos trampos, que na junção, me são satisfatórios. Existe esse novo mercado, ele não vai conseguir abarcar todos nós, mas muitos estão conseguindo se safar dentro dele. (...) O jornalismo, mesmo que você não consiga emprego com ele, saiba que essa formação pode ser muito útil para outras coisas, principalmente para te ensinar a pensar” (Texto Publicado no blog Mafuá do HPA em 10.05.2019).

Eis o link da Live/ Entrevista/ Bate Papo com Maria da Luz: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/3609885212374795/

REPERCUSSÃO:

1.) "Henrique sempre digo que vc escreve e descreve como ninguém, e que deveria escrever muito mais, eu me sinto honrado de ter sido homenageado por vc. Pois bem, fiquei feliz por essa homenagem á Maria, eu estremeço sempre que leio ou ouço esse nome, pela santidade e porque é o nome de minha mamãe, confesso que também arrepiei nessa homenagem, pois, como vc já disse trata- se de uma SUPER MARIA, uma grande mulher que representa muito bem a garra e a perseverança das mulheres, e não esmorece aconteça o que acontecer.
Uns conhecem, como Maria da CPT, Maria do Horto, mas eu a conheço como MARIA DA CAFS, a maior cooperativa do Horto Aimorés, a maior do Horto e que nesse momento está operando um contrato do PNAE ( merenda escolar ) e apresentando um Projeto do PAA, 120.000 reais que devem reverter em alimentos da Agricultura Familiar para entidades e pessoas em vulnerabilidade social.
É uma incansável na luta por dias melhores dos Hortos l e ll que sobrevivem com dificuldades pela incompetência do INCRA e má vontade política.
Nos Hortos onde a Maria é uma das lideranças moram 354 famílias que poderiam hoje estar SUSTENTANDO O ESTADO DE SÃO PAULO, se tivessem o mínimo de apoio do INCRA e FAMIGERADA VONTADE POLÍTICA, esse assunto é complexo pq muita crítica infundada é destinada a esses produtores assentados mas é porque os CRÍTICOS NÃO CONHECEM A REALIDADE E O DIA A DIA DESSE PESSOAL.
MARIA LUZ, continue sua luta, seus objetivos, seus ideais porque deve haver LUZ no fim do túnel e chegaremos lá, porque MESMO DISTANTE, TENHO PROJETOS E OBJETIVOS QUE VÃO MUDAR ESSA TRISTE REALIDADE.

Você é uma DESIMPORTANTE MUITO IMPORTANTE PRA CONTINUAR GALGANDO ESPAÇO E CONQUISTAS PRA ESSA FRÁGIL, PORÉM, DESTEMIDA CLASSE FEMININA E AGRICULTURA FAMILIAR.
PARABÉNS HENRIQUE", Rafael Santana de Lima.

2.) "Amigo Henrique, se Maria da Luz é "desimportante", para você eu francamente não sei quem seria importante ?, uma pessoa que conheço e tem um histórico de luta que soma uma vida, que nunca se vendeu e mantem até hoje sua luta, para mim Maria da Luz é muito importante, DESIMPORTANTE é vereador populista, oportunista", Sivaldo Camargo.

Uma das respostas do HPA: "Então, o que faço é tentar quebrar esse paradigma dos que menosprezam estes tantos e os tratam de forma despreziva. Nós, eu, você e tantos outros estamos aqui exatamente para reverter isso e mostrar o quanto são importantes. Na verdade, a utilização do nome DESIMPORTANTE é para cutucar mesmo, fazer entender pelo avesso da coisa. Baita abracito e domingo que vem tem mais".