sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (113)


OLAVISMOS

1.) ALMANAQUE CAPIVAROL NELES
"Sábio-de-almanaque-capivarol", "filósofo-de-almanaque-capivarol", "intelectual-de-almanaque-capivarol", foram sarcasmos que Millôr, Jaguar, Tarso de Castro, etc usaram no Pasquim para colocar alimárias em seus devidos lugares.
Ah, que saudades ...
Na Wikipédia podemos ver que o Almanaque Capivarol, recheado de charlatanices apresentadas como "sabedoria popular", foi de 1919 até meados do século passado.
Um trechinho, da Wikipédia:
"Tais publicações, distribuídas em farmácias de todo o país, atendiam não apenas ao público urbano, mas levavam entretenimento também às pequenas cidades e zona rural; as propagandas visavam convencer a tomar suas pílulas, xaropes e elixires, para atender aos apelos de uma publicidade que mostrava as vantagens da boa aparência e corpo saudável.
Além disto, por vezes substituíam as cartilhas escolares e serviam de iniciação ao hábito da leitura.
Num desses textos de divulgação do Capivarol, em 1933, lia-se:
"Sonhei com Nossa Senhora Aparecida e ela me mostrou um vidro de remédio para a maleita. Graças a Deus minha filha melhorou".
O olavismo bolsonarismo é a forma pós-moderna do Almanaque Capivarol: charlatanismo. Taí a cloroquina, que não nos deixa mentir ...
Ultra refinado e equipado com a modernidade das redes sociais.
Trocou o balcão das farmácias pelos púlpitos do culto fundamentalista/pentecostalista e pelas colunas do jornalismo negacionista, além de púlpitos onde vereadores fundamentalistas adulam o capiroto e pregam contra vacinas, isolamento social e pregam fake-news.

2.) Sobre a metodologia do olavismo, a manha de fazer o ignorante se achar um intelectual...
No Intercept: https://theintercept.com/.../olavo-de-carvalho-nao-havia.../
"No fundo, sob o ponto de vista metodológico, Olavo fornecia as ferramentas para que alguém pouco letrado em filosofia falasse as maiores asneiras do mundo com a confiança de um especialista. Essa arrogância intelectual foi a grande marca que ele deixou nos seus alunos. E é por isso que tanta gente fala que teve a vida transformada por Olavo: poucos relatam terem aprendido algo, mas muitos que “se transformaram em algo”. E no que se transformaram?
O legado é a autoconfiança injetada em jovens e adultos de baixa formação e leitura, mas que se sentiam metodologicamente validados em sua própria ignorância. A filosofia do Olavo dava ferramentas para ignorantes se acharem inteligentes e julgarem os demais burros e estúpidos. Essa autoconfiança, essa violência – que no início era apenas intelectual – encontrou terreno fértil no bolsonarismo. E é aqui que os caminhos se cruzam: as ferramentas que o “ignorante intelectual” recebeu eram também ferramentas de radicalismo político.
Olavo dizia que estava formando uma “nova geração de intelectuais”, mas, no fundo, estava formando uma nova geração de militantes. Isso se percebia pelos cacoetes introjetados nos alunos, pela constante emulação que muitos faziam até dos jeitos do Olavo. O que essa geração “formada” por ele buscava não era estudo e conhecimento, mas sim validação e, de certa forma, poder: poder para se afirmar em relação a amigos e professores e, no limite, poder para se afirmar em relação aos esquerdistas. Esquerdistas que, note-se, eram inimigos não só pelas ideias, mas porque ocuparam o lugar na cultura que deveria ser do Olavo. Por que razão deveria ser dele? Perguntem hoje para os alunos que escrevem seus elogios. A resposta será: “porque o Olavo falou”.
Saí disso, para nunca mais voltar, há 10 anos. Quando vejo hoje jovens relatando a profunda transformação operada por Olavo, lembro dos meus tempos e nutro a esperança de que, assim como eu, eles também possam perceber o que percebi: que não havia nada ali."

3.) O cachimbo se foi, mas deixou bocas tortas
Fernando Brito, no Tijolaço - Rio, 25 de janeiro de 2022.
Não há ainda confirmação de que a causa da morte do sr. Olavo de Carvalho tenha sido a Covid-19 e nenhuma razão para comemorar-se o fato de que ele tenha sido mais um dos mais de 623 mil brasileiros que perderam a vida para a doença.
Do ponto de vista social, muito mais relevante que isso é o câncer que ele ajudou a desenvolver neste país, um tumor de gente má e destruidora que tem como metástase a elevação de Jair Bolsonaro à presidência da República.
E o ex-capitão, afinal, tem razões para emitir o único sinal de perda que, depois destas centenas de milhares de mortes, foi capaz de emitir, depois dos repetidos “e daí?” que lançou a todas as vítimas da Covid.
“Olavo foi um (…)um farol para milhões de brasileiros. Seu exemplo e seus ensinamentos nos marcarão para sempre”, disse no Twitter.
Foi, sim, um farol a guiar pessoas para a estupidez, a ignorância, o ódio e a incivilidade, transformando tudo em deboche, xingamentos, acusações de “comunismo” e intolerância.
E, sim, o que ajudou a fazer nos marcará por muitos anos, servindo como advertência contra aqueles que têm “razões absolutas” (aliás, frequentemente irracionais) e julgam que podem as impor pelo fanatismo de tons religiosos.
Olavo de Carvalho será reconhecido como uma espécie de Jim Jones brasileiro, menos dramático por não ter promovido suicídios literais, mas muito mais eficiente ao dar suporte pseudofilosófico à tentativa de indução de milhões de pessoas a um suicídio político.
Para chegar a isso, contou com a leniência de quem achou que poderia se servir dele e da criação de uma camada de fanáticos para tirar proveito político, como quem se serve de uma matilha para amedrontar “inimigos”.
O cachimbo de Olavo entortou a boca de muita gente que desejava babujar agressões.
Tudo isso, porém, já estava em dissolução, e Olavo de Carvalho se vai quando sua tropa de choque já se esconde pelos cantos. Vai-se, assim, quando já tinha ido politicamente e, nisto, sem deixar saudades.
Não é a morte física, mas a política que nos deveria provocar esperanças.
https://tijolaco.net/o-cachimbo-se-foi-mas-deixou-bocas.../

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