Neste 90º LADO B - A IMPORTÂNCIA DOS DESIMPORTANTES, meu projeto semanal de bate papo com gente de luta e fribra, eis aqui hoje neste número redondo, uma história inteira dedicada para a Educação e desde muito cedo, o enfrentamento das injustiças. Ela não está aqui somente pela ocorrência de mais um caso escabroso de racismo, o do radialista Alexandre Pittoli, da rádio Jovem Pan, ops, digo, Velha Klan, que numa transmissão fez chacota com o cabelo da mãe da prefeita, comparando-o com uma peruca. Ela está aqui pela sequência de fatos graves. Duas semanas atrás ela estava na esquina da Duque com a Gustavo, diante de uma farmácia, quando uma negra foi perseguida dentro da loja e abordada pelo segurança na saída, para averiguações, alegadas por ele descaradamente, "não teria caído algo dentro da sua bolsa".
Eu brinco com ela e sua resposta é sorrindo, que "hoje ela está mais inflamada que nunca". Talvez o termo correto seja inflada, ou nenhum dos dois, pois o que faz é reagir, algo que o faz hoje, investida do cargo de presidenta de um dos conselhos municipais mais atuantes na cidade, o da Comunidade Negra. Uma reação de quem vivenciou o preconceito e como professora de História e Geografia na rede pública, sabe muito bem o que falar para seus alunos quando aborda o tema. No Calçadão mesmo, presenciei um aluno, ao passar pelo local, vendo sua professora ao microfone, parou, esperou o ato terminar e foi-lhe abraçar. Conversaram e na despedida, ela lhe pede: "Venha para a luta, pois precisamos muito de mais pessoas conscientes e com disposição para mudar este país". Ela deu aula por mais de dez anos na escola Prefeito Edison Bastos Gasparini, no bairro Gasparini e hoje, já alguns anos no JArdim Jaraguá, na escola Maria Eunice Borges Miranda Reis.
Na conversa preliminar com Tiana, ela diz que quer contar algo ocorrido, quando tinha 14 anos de idade, seu primeiro emprego e que mudou sua vida. A partir daí, tomou consciência de que tinha um lado e dele não mais se afastou. Ela é boa contadora de histórias e quando optou pelo magistério, deve ter levado em consideração o fato de que, por ser negra, discriminada no mundo onde vivemos, poderia ser também alguém a elucidar, mostrar para as gerações futuras, como tudo isso podia e pode ser transformado. Incansável no faz, no jeito de agir e elétrica, como a vi na manhã de ontem, sábado, nas ruas centrais da cidade, comandando ao microfone uma emocionante manifestação. Tiana disse ao microfone que, a mulher enfrenta muitas batalhas ao mesmo tempo, desde o trabalho doméstico, depois o emprego, a militância e ela, esse algo a mais neste pais recheado de injustiças, pelo fato de ser negra.
Enfim, Tiana, pelo seu jeito intrépido e audaz, vai deixar um registro contundente de sua trajetória. É muito dignificante vê-la sempre disposta a enfrentar todos os dragões e moinhos, mais ainda vê-la relatando algo da luta de hoje, dos caminhos e descaminhos percorridos, das batalhas e agruras, também da perseverança de quem não desiste nunca. é de gente assim que este país precisa para, neste momento, produzir o algo mais que o reconstruirá. Vivemos um momento pérfido de nossa História, com um presidente renegando tudo o que foi construido ao longo de nossa História e este também será um dos temas abordados hoje na conversa matinal. Vai ser um registro e tanto. Vamos juntos?
ENQUANTO BAURU SE MOVIMENTA PELO ARRAIÁ AÉREO, EIS O LUGAR ONDE ADORARIA ESTAR
O tal do Arraiá Aéreo termina hoje. Foram dois dias de furdunço bauruense. Este evento paulistano, a I Feira do Livro do Pacaembu, começou quarta e também termina hoje. Ambos quase no mesmo horário, adentrando a noite dominical. Estou ainda aguado e não fui conformado por não ter dado o meu jeito de estar lá junto aos livros, mais de 120 editoras e um público maravilhoso, todos conversando sobre este assunto mais do que pertinente no momento: livros.
O problema foi a tal da distância que nos separa de Sampa, quase 400 km. Não deu, mas fico do lado de cá, matutando e com a mente funcionando a pleno vapor, talvez imaginando o que tenha perdido, os contatos, as conversas, as falas, os encontros e o conhecimento adquirido. Estes são os tais lugares imperdíveis no mundo atual.
Daqui de onde moro, ouço o ronco dos motores dos aviões e percebo que, a coisa bauruense está movimentada, pois nem vaga pra estacionar tem mais aqui, mais de um quilometro de distância do Aeroclube. Fecho a janela, boto uma musiquinha ao meu estilo pra rodar na vitrolinha e fico lendo a revista Quatro Cinco Um, dos organizadores da Feira. Como estou distante, pelo menos meergulhando nessas leituras, tento mangter o clima e me aproximar ao menos na fértil imaginação.
Viajo sem tirar os pés do chão.
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