DA INSENSIBILIDADE DOS QUE MUITO POSSUEM*
* Eis meu 69º texto para o semanário DEBATE, de Santa Cruz do Rio Pardo:Algo não entra na minha cachola de velho lobo das estepes, ser cansado de embates e guerras. O Brasil está cada vez mais desigual e assim sendo, bem nítido as diferenças sociais. Nessa semana tive um embate com um médio, quando de consulta feita e falei a ele dos motivos de minha doença, além do corpo físico: “Creio que, o que me torna mais doente é o fato de tanta desigualdade social bem ao lado da gente. Como posso ser feliz ou desfrutar de alguma felicidade quando sei que meu vizinho ou tantos ao meu lado padecem, a fome se alastras e as dificuldades batem cada vez em mais portas?”. Sua resposta chega para demonstrar da insensibilidade grassando hoje como praga: “E o que você tem a ver com isso?”. Só faltei voar no pescoço dele.
Isso tudo, essa indiferença para com o semelhante é algo bem peculiar da elite brasileira. Escrevo isso e tomo conhecimento da história do ex-trade Gary Stevenson, um cidadão inglês que ao adentrar um cargo dentro de um banco, galgou postos e em seis anos, estava milionário. Diante de novo momento em sua vida e vindo das camadas mais pobres, a ficha caiu e ele vivencia algo bem diferente dos demais na posição ocupada por ele: agora trabalha para combater o sistema em que trabalhou antes e faz campanha para conscientizar a população em geral sobre o que os banqueiros fazem para manter a economia injusta.
Poucos agem assim. Dentro da elite nacional, dá para se contar nos dedos, talvez de uma das mãos, nunca nas duas. O que se percebe neste nosso País eivado de injustiças é que o establishment não quer que a população saiba da verdade e também rechaça os iguais ao Stevenson, os que estão no patamar alto e pregam para o bem social. Hoje me postei defronte cena de aberração no centro bauruense, o de um senhor dos seus 60 anos – minha idade -, estirado na vertical na calçada em pleno meio da tarde. Fiz questão de ver quantos saltavam sobre ele e somente uma senhora, se incomodou com a situação, parou e tentou acordá-lo para ver se ele no mínimo passava bem. A maioria se mostrou indiferente ou sequer deu demonstrações de enxergá-lo.
“É um desastre o que acontece hoje, e não quero que aconteça. Eu gostaria de ter filhos um dia e gostaria de dizer a eles: Eu previ esse desastre, e eles dirão: O que você fez? Você ganhou muito dinheiro com isso ou tentou impedi-lo? Eu diria, ganhei muito dinheiro, mas também tentei impedi-lo”. Quando as pessoas nem ao menos tentam mais modificar o mundo e tornar mais palatável, sinal de grave doença acometendo a mente de tudo, todas e todos. Não é nada normal ver o País e a maior cidade brasileira, São Paulo, dominada por gente morando em barracas, famílias inteiras nas ruas. Quem circula por entre esses e não se assusta, não fica entristecido, creio eu, já tenha se tornada uma pessoa dessas irrecuperáveis.
Não está mais dando para conviver diante de tanta injustiça e diferença social. O padre Julio Lancelotti, atuando junto aos povos das ruas outro dia reclamava da falta de assistência para com os vivendo em situação de rua nas imediações do centro velho de São Paulo disse dias atrás não entender como um juiz, que hoje tem altíssima renda, mais os penduricalhos, consegue aceitar receber o auxílio moradia sem se envergonhar. Só mesmo alguém com desajuste interior consegue fazê-lo, ou seja, pra que se ter tanto, quando a maioria não tem nada? O problema hoje não é consertar a economia, modelando-a ou tornando-a adequada pra necessidades das camadas mais populosas, a dos mais empobrecido?
A indiferença é também uma doença, como também é doença um empresário se fazer valer das novas regras trabalhistas em curso, danando com a vida dos seus trabalhadores, quando até bem pouco tempo, existia uma legislação protetora destes e hoje não mais. Como em são consciência alguém ficar só matutando em ganhar sempre mais e mais, quando o funcionário não só perdeu o poder aquisitivo, como vive amargurado e sem perspectivas? Neste mundo de injustiças, Stevenson faz o que todos os endinheirados deste mundo deveria estar fazendo. Pensando na distribuição das riquezas. Já os que se fingem de mortos, ganham os tubos enquanto a maioria fenece e padece, estes são irrecuperáveis, os tais imprestáveis, doentes dos pés à cabeça. A sanidade do indivíduo não pode permitir ele vivendo no meio da degradação humana pela fome e nada fazer.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
EU FUI NO LANÇAMENTO DO "SOTURNA DE ONTEM AREALVA DE HOJE" - NICOLAU E O LIVRO DE SUA VIDAAté ontem à noite eu não conhecia pessoalmente o NICOLAU APARECIDO JULIANO NICOLIELO, 61 anos de idade, da sexta geração dos fundadores de Soturna, hoje Arealva. Esse danado penou para chegar até aqui, trabalhando desde diarista em sítios, motorista de caminhão boiadeiro, até conquistar um algo mais. Foi vereador em sua cidade por um mandato e depois, com o ajuntamento de experiências, se fincou como prestador de serviços com máquinas pesadas. Fez tudo isso, mas o que sempre gostou de fazer foi o de colecionar algo sobre a história de sua aldeia, Arealva. Juntou ao longo de décadas fotos, informações e tudo foi sendo registrado também em sua memória. Por vinte anos, como me contou ontem, juntou preciosidades e agora expeliu tudo para fora, na forma de um livro, muito bem construido, esse "Soturna de Ontem Arealva de Hoje", com primorosa composição gráfica. Um livro que a gente lê e vê muito com os olhos, sente o que está sendo escrito, pois ele é recheado de muitas fotos, todas muito bem explicadinhas ao longo do texto. Nicolau é minucioso e foi a fundo.
Ontem ele reuniu a nata e as rebarbas de sua cidade no salão paroquial, defronte a praça central da cidade, com gente saindo pelo ladrão, todos ávidos por ver e ouvir do grande feito deste Nicolau, um que já fez de tudo por lá e ontem, estava a lançar um livro. Tirei foto com ele diante de um velho caminhão, que me disse estar com sua família desde os idos dos anos 30/40, hoje restaurado e peça de museu, o seu museu particular. Trocamos obras. Levei para ele a minha cria, parida junto com com Fausto Bergocce e relembramos coisas e feitos dos dois lugares. Enfim, Reginópolis e Arealva são cidades vizinhas, limitrofes, com histórias bem parecidas no quesito poder local de mando. Tudo enfim se entrelaça nas questiúnculas de poder, Nicolau sabe muito bem disso. Ele foi muito paparicado pelos seus, que o rodearam e lambiam sua cria. Noite auspiciosa.
Arealva estava ali reunida no salão da igreja, tudo muito bem montado, com peças históricas bem dispostas. Não pude ficar para a fala dele aos presentes, pois tinha pressa para outro compromisso, mas deu pra papear, trocar telefones e sentir o clima de agitação em torno de sua cria, o livro a enaltecer sua aldeia. Nada como falar e também escrever da aldeia onde nascemos, crescemos e vivemos. Pelo bem, pelo mal, falamos dela, escrevemos dela e contamos algo de suas histórias. Reencontrei por lá o amigão Nilton, dos tempos quando frequentei a venda rural nas barrancas do rio Tietê, em Riberirão Bonito, outra fonte de história e muita poeira. É gostoso ser reconhecido e ser reconvidado para lá estar e não só prosear, mas dar continuidade em conversas interrompidas faz mais de uma década. Deixei um rastro para trás e qualquer dia desses retomo e reativo a maquininha dentro de mim, a que me move e me leva para distantes lugares, sempre em busca de papo, conversa, conhecer pessoas e desbravar redutos pelos quais se extrai sempre inenarráveis histórias. Nicolau me fes reviver isso tudo no dia de ontem e agora, leio seu livro e depois conto algo mais. Vou também ligar para ele e estreitar os laços conversativos. Arealva nos une em muita coisa.
No Jornal da Cidade, único jornal impresso de Bauru, edição de hoje, como tomei conhecimento do lançamento do livro: https://www.jcnet.com.br/noticias/regional/2022/07/808686-do-tesouro-perdido-de-soturna-a-arealva--autor-lanca-livro-inedito.html
A RAVE EM GUAIANÁS DEVE TER NO MÍNIMO 3 MIL PESSOAS - O PODER DE MOBILIZAÇÃO SEM AUXÍLIO DA MÍDIA MASSIVA
Sem querer presenciei um evento hoje envolvendo aproximadamente três mil jovens reunidos para uma RAVE numa fazenda na entrada do distrito de Guainás, em Pederneiras. Voltava de Jaú e resolvi adentrar Guainás, até para rever o pequeno distrito, que há anos não botava os pés. Adentrei o trevo e senti algo estranho na estrada, uma movimentação de muita gente adiante na beira da estrada. O que seria? Uma manifestação? Não, chegando perto, a constatação de tratar-se de festa RAVE, reunindo jovens de diversas cidades da região, a imensa maioria chegando até ali em ônibus fretados. Uma multidão de pessoas e sem nenhum anúncio feitos pelos ditos meios convencionais e sim, tudo entre os grupos internéticos lá deles - dos jovens.
A conversação, me dizem correu frouxa por estes dias, com valor antecipado num preço e nessa última semana, quase R$ 100 reais. A "moçada" ferveu interessada em ali estar, num local onde praticamente não tem música ao vivo e quase tudo é conduzido pelo som de D'jais. Da estrada de onde passei, vi muitas barracas e um imenso palco. Creio ser ali uma fazenda, com alguns barracões e gente chegando aos borbotões.
Eu que sou de uma época onde adorávamos ir em festivais, mais ao estilo do ocorrido em Iacanga, o Águas Claras, vejo que algo da movimentação pode ser parecida, o interesse do jovem em estar num local para se divertir. Águas Claras é um estilo caro, com muitos shows e vários dias seguidos, ainda ocorrendo pela aí, mas neste, aqui na região, muitas dessas RAVES acontecem e num só dia. Tudo é divulgado nos grupos e me espanto em como se resolvem sem mais necessitar de nenhum outro tipo de divulgação e publicidade - creio eu, nem querem. Não discuto o tipo de som, a qualidade musical, mas meu intuito é sobre algo a envolver o poder de mobilização nos dias atuais. Isso ocorre só e tão somente pelo uso apropriado das redes sociais. Trata-se de um atividade comercial, mas também tem a ver com o gosto e preferência de parcela significativa dos jovens brasileiros.
Escrevo isso tudo, pois estamos as vésperas de se iniciar de fato uma dura campanha eleitoral, onde isso da mobilização nas ruas terá grande importância. Tudo hoje ocorre não pelas formas convencionais até então, isso bem nítido. O celular é peça fundamental em tudo, peça fundamental nos contatos, feito de todas as formas e jeitos. Quando me deparo com o presenciado hoje, fico a pensar com os meus botões em como ainda estamos, os grupos políticos onde atuo, se atualizado modestamente destes recursos disponíveis. A juventude ali na festa RAVE só estava ali por causa de algo possibilitado pelas ondas internéticas e suas vertentes. Tudo aqui são só divagações em cima deste tema. No mais, voltei de lá pensando: Será que em algum momento aquela multidão irá gritar ao menos um FORA BOLSONARO em alto e bom som? Tomara que sim.
Mary Mrtt me explica como tudo funciona hoje em dia: "Disse tudo, não precisa de divulgação, aliás isso não existe mais, o que é divulgação? Contatos em redes sociais fazem o que "antigamente" chamava-se divulgação de algo ou algum evento. Muitos não sabem wue teve tal "evento", pois não fazem parte desse grupo. A internet é inclusiva e ao mesmo tempo excludente segmentando grupos. Quem quiser atrair esses grupos tem que aproximarem-se deles. Álias, facebook tornou-se um ambiente virtual antiquado e obsoleto, em que apenas os mais velhos estão usando, geralmente tbm está ficando segmentado a informações postadas em grupos ou comunidades (eu mesma uso apenas para obter informações de grupos do exterior). A "divulgação" dos eventos são postadas no instagram e em seus stories, os contatos são por lá. É la que concentram-se tbm vídeos do tik-tok, etc... até o YouTube joga todos os usuários para o instagram. Enfim, hoje todo o mundo virtual gira em torno do instagram. Se quer ficar informado sobre algo, lá estará. Todas as plataformas, redes sociais estão interligadas, mas os jovens e os não muito jovens assim, mas tbm não tão velhos estão concentrando-se lá. Então, ou muda-se o caminho para atingirem os jovens nessas eleições ou by, by...
ESSA É SÓ PARA QUEM GOSTA DE BOAS HISTÓRIAShttps://www.debatenews.com.br/.../o-professor-democrata
No semanário DEBATE da semana passada, 10/07, um texto do André Felury Moraes, homenageando seu pai, o jornalista Sérgio Fleury Moraes, o idealizador do jornal que tanto sucesso faz em Santa Cruz do Rio Pardo e região (agora em Bauru, toda semana na banca da Ilda, junto ao Aeroclube). Com foto e chamada na capa e a publicação na última página, "O professor democrata - Uma reportagem quase fechou o jornal O Furinho, precursor do DEBATE e dirigido por Sérgio Fleury na adolescência. Mas um delegado de ensino salvou a publicação". São dessas histórias mais que arrebatadoras, que me prende a uma publicação, pois com ela a demonstração da linha editorial de quem produz um jornal. É de gente assim que quero estar plugado e lendo algo. Sergião, o editor do DEBATE acaba de escapar de mais um distúrbio de saúde, provocado pela inconstância do dia a dia de um jornalista plugado 24h no seu pequeno negócio e no que faz e produz. Escapou, felizmente, e a historinha contada por seu filho me calou fundo, pois foi o impulso que precisava lá atrás, quando estava começando, para dar continuidade e se transformar no grande jornalista que é hoje. Li, gostei tanto e pedi para o André, o filho, seguidor e futuro dono da massa falida do jornal, para me enviar o link com o texto. Ele me enviou e aqui publico. Ressalto também, que Sérgio denominou o jornal que fazia na época, O FURICO, com inconstância de circulação com uma denominação genial: "O Furico era de vez em quandário - embora costumasse ser mensal". Ótimos, pai e filho. Cliquem no link, leiam o texto e depois me digam se não é mais que ótimo.
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