Não me vanglorio por ainda conseguir fazê-lo. Hoje batendo perna na grande Sampa. Ana Bia me avisa terminantemente: "Não vá falar com celular nas ruas. Até na avenida Paulista estão levando na cara dura e como você não tem mais aquele poder de reação de antes, se aquiete". O perigo, eu sei, não está na Paulista e vindo dos que nos esbarram nas ruas, mas muito mais acintoso e violento pelos olhos dos que nos observam lá do alto de algumas poucas dessas janelas observadas daqui de baixo. Ali do lado da Faria Lima, dizem que, o perigo é maior, pois tramam muito mais. Tramam e executam. O Brasil está muito na merda atual, por causa de investimentos feitos em pessoas danosas e vinda desses lugares. Passo ao largo, pois sou cidadão das calçadas, das ruas. Me negócio é andar e assuntar.
Eu e Ana nos preparamos para essa esticada começando hoje. Estávamos um tanto travados e sem condições de andarilhar muito pela aí. Resolvemos caminhar, dar voltas na praça redonda aqui defronte de casa. Começamos com dez voltas em uma hora e no final nosso tempo já era pela metade no mesmo número de voltas. Creio, conseguiremos dar umas boas voltinhas nos quarteirões da vida se apresentando a partir de hoje, diante de meus pés. A gente se prepara para isso, pois uma das coisas mais dignificantes dessa vida é bater perna livremente pela aí. Eu me recarrego e depois conto algo extraído desse ruar.
Olho para os lados e vejo a perdição no que se transformou, ou quiseram que esse "País Zão", sendo conduzido por um bando de Paizinhos de péssimo alvitre, se transformasse. Nós podíamos ser outros. Não suporto mais ouvir de termos perdido uma oportunidade e tanto lá atrás. Sim, mas ele não se perdeu, pois não se concretizou de fato. Teve bom início com Lula, mas o pessoal lá da da Faria Lima insuflou algo, não deu certo e daí, se pegaram no que tinham, um golpe e tudo o mais. "Com Supremo, com tudo", como profetizou Jucá. Tá tudo diferente. Até na coloração dos carros a gente percebe ter mudado para pior. Mas nem por causa disso devo me aquietar e aceitar tudo calado.
Para quem não me conhece, eu quando viajo, não o faço muito pelos lugares turísticos e points. Viajo mais pelas pessoas e os lugares insólitos encontrados. Eu sou assumido escrevinhador das insignificâncias, que na verdade é o ofício de quem adoraria estar enfurnando nas 24h do dia neste Lado B do mundo. Eu só vou num lugar, se posso também sair do roteiro e ir dar num lugar que, depois não sei nem como sair, mas quero mais é me perder. Quem nunca se perdeu numa cidade pela aí não sabe o que está perdendo. E, pelo menos, nunca poderia ter tido a oportunide de ver, presenciar e participar de coisas se não gostasse e não tivesse esse faro pelo diferente. A tristeza está estampada na face de muitos pelos quais cruzo neste lugares. Foderam com as expectativas populares e nem conseguimos nos unir para inviabilizar a perdição. Consentimos, calados, meio intertes, sem forças, como se tivessemos sido preparados e moldados para exatamente isso: deixar "eles" terem feito tudo o que tiveram a coragem de fazer contra nós. Hoje, não temos mais carteira assinada decente, na verdade, nem emprego com salártio decente temos mais.
Hoje a gente vende algo que tínhamos guardado, tudo para poder viajar. Sorte ainda tenho de ter o que vender, sei disso. Mas aos 62, vendo tudo o que tiver, sem neuras, tudo para continuar podendo botar rodinhas nos pés. Seria modorrento demais eu ser obrigado a permanecer quietinho em Bauru sem ver ainda um pouco disso tudo, olhos nos olhos, frente a frente. Eu venho, faço mea culpa ao vivo e a cores, mas sem remorços, cá estou. Confesso, sou do time do Suassuna, sim, ele mesmo, o Ariano. Ontem, após assistir um futebol na TV, achei o canal Curta! e lá um documentário sobre a vida do poeta. Fiquei ali em pé, de boca aberta até terminar. Só não entendo porque ainda insisto em assistir futebol quando tenho o canal Curta! bem ali diante dos olhos.
Pois bem, falava do Suassuna e um senhor, com voz já embargada pela idade e que, não consegui identificar de jeito nenhum, com certeza algum conterrâneo do poeta, disse dele algo a me calar fundo e na verdade, o que me motivou a escrever este texto. Depois veio isso tudo acima, que não havia nem pensado em escrever. O que queria dizer era isso do velhinho sobre o Suassuna. "Ele queria ficar no canto dele, lendo e escrevendo". Sim, é o que queria fazê-lo e não conseguirei nunca, por uma sucessão de motivos e fatores. Envergonhado diante do que podemos de fato fazer hoje, ainda consigo mijar fora do penico e fugir da perdição bauruense. Cá estou, com um livro na algibeira - outros tanto virão pela frente -, ainda conseguindo botar o bloco na rua, neste momento se recarregando para os embates que virão pela frente neste início de campanha. Por onde vou, levo comigo o "Fora Bolsonaro!" e prego contra, sempre e sempre, contra esses vendilhões hoje bolsonarisando nossas vidas. Uma nhaca. Com a mochilinha nas costas, era isso, agora me despeço e caio de boza nas ruas. De máscara, viu!
Em tempo: Trata-se de Férias. Vou ali e já volto, a grana é curta.
UMA IDEIA
FUNCRAF SEM EIRA NEM BEIRATomei conhecimento pelo JC, pouco antes de viajar que, a àrea da FUNCRAF, hoje sob vigÍlia do movimento social, que havia sido devolvida para Prefeitura Municipal de Bauru, teve essa ação revertida e, como quase sempre decide a Justiça, pelo poder inexível dos tais "Forças Vivas", volta para quem possibitou sua dilapidação. Impossível a Funcraf não ter tido conhecimento daquela área ter sido rapinada por gente daqui desta terra bauruense. Ouvi lá que, um caminhão de empresa famosa da cidade levou móveis para uma instituição recém inaugurada na cidade. Agora, que a àrea foi devolvida para seus "verdadeiros donos" (sic), esse podíam explicar pra gente por que deixaram tudo aquilo ser levado, quando o tempo todo um vigia morava ali e, com certeza, viu tudo e pode testemunhar de como tudo ocorreu. Se alguém foi lá de caminhão, gente influente por trás, impossível não o fazerem sem uma espécie de autorização.Hoje, mais tardando amanhã ou segunda, o pessoal do movimento social vai ser expulso de lá, pois a tal da Funcraf tem cara de ser implacável nessas questões. Eu vi o zêlo como deixarão todo o arquivo do que fizeram em Bauru se perder, sendo o que restou pelos prédios. O resto fizeram vista grossa e levaram tudo. A Prefeitura, pelo menos essa administração, não faria grande coisa com a área. Os trabalhadores não deviam ter mesmo nenhuma esperança de ali permanecer, mas sabem eles, esse pessoal hoje na prefeitura daria destinação das mais horrorosas e eles todos continuariam sem casa e terra. E nas mãos da Funcraf, hoje terra arrasada, vão é crescer o mato. Ganharam um terreno, deixaram de ter interesse profissional, mas não querem devolvê-lo para ali ser possível outras atividades. Pensam em fazer o que ali? Vender, investir? Mas a área não é originalmente da Prefeitura? Essa Justiça, hem! Bem que podia dar ganho de causa para os trabalhadores e deixar, tanto a Prefeitura como a Funcraf chupando o dedo.
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