OBS.: Alguém consegue explicar a contento isso de ser encontrado baton na cueca? Recomendo o livrinho - ótimo, por sinal - do falecido cartunista Nani e novena pro santo das causas perdidas.
EDWIRGES, ATÉ HOJE MINHA INQUILINA, SE FOI PARA PALMAS-TO E ME DEU BAITA LIÇÃO DE VIDA NA RODOVIÁRIAEssa eu tenho que contar. Essas personagens das entranhas de uma cidade sabem muito mais resolver as questões que lhe surgem do que, alguém cheio de não me toques e propondo fazer tudo pelo meio convencional. Conto algo a exemplificar essa linha de pensamento e ação. Edwirges foi minha inquilina até hoje, quando se foi para Palmas TO, depois de persistir em busca de um sonho que não se realizou por aqui. Ela chegou do Pará, dois anos atrás, para residir ao lado da irmã, que morava lá nas imediações do Mafuá, barranca do rio Bauru. Se instalou e conquistou a vizinhança. Fazia pães maravilhosos e muito deles degustei, ou pelo menos, enquanto manteve a chama acesa de tentar montar um negócio só dela, pra chamar de seu em Bauru. Vagou uma casa de fundos que tenho ao lado do Mafuá e ela, passou a ali residir, me ajudando muito no trato do meu cão, o Charles. Sua história sempre foi daquelas envolventes. Tinha lá no interior do Pará um restaurante num daqueles barcos que circulavam de cidade em cidade, muito portos ao longo de cada dia. Foi empresária e por causa de ter uma mão mais que boa pra cozinhar, por onde passa, ganha adeptos.
Tudo caminhou bem, até começar a sentir dores, algo agravando sua saúde e depois, a tal da pandemia, essa que atravancou a sua vida de vez. Enfurnada dentro de casa, com dores aumentando, se viu num beco sem saída e nem os pães, seu ganha pão por aqui ela mais conseguia fazer. Foi empurrando a vida com a barriga, tentando um atendimento médico adequado e um algo novo para lhe indicar algum caminho a seguir. Tentou de todas as formas, mas como seus parentes também não estão lá muito bem financeiramente, não pensou duas vezes e deu seu jeito de voltar para perto dos seus. Um de seus filhos reside em Palmas TO e bolou planos para bater asas e recomeçar tudo por lá. Sem grana e sem poder contar com a ajuda dos filhos, procurou um dono de loja de móveis usados, vendeu quase tudo de uma só vez e com mil reais no bolso, bolou a saga do retorno.
Durante algumas semanas me atormentou para lhe arrumar caixas de papelão. Empacou sua casa quase inteira e durante essa semana ficou na espreita de receber o combinado pela venda dos móveis. A promessa era para receber na segunda, mas tudo só foi consumado ontem, quinta. Ela já não tinha mais nem fogão funcionando e fez comida esses dias no micro-ondas do Mafuá. Chegava cedo para alimentar o meu cão, o Charles e ela me deixava café pronto. A cada dia via a quantidade de caixas enormes e sacolas, também de grande calibre se avolumarem em sua sala e me perguntava: Não vão deixar ela viajar com uma quantidade tão grande de embrulhos. Ela ria e me dizia estar acostumada. Quando comprou a passagem ontem, pensei em ir na empresa e sem ela saber, ver como podia lhe ajudar a despachar tudo, pois tinha certeza, ela seria impedida de fazê-lo com tanta coisa. Disse isso a ela e sua resposta foi uma só: “Não faça isso, pois pode me atrapalhar. Eu estou acostumada e sei como proceder, o senhor é muito bobo e não entende dessas coisas”.
Ela juntou quinze embalagens, uma enormes, sacos cheios com toda sua vida ali embutida. Arrumou por trinta dinheiros um senhor para levar tudo até o terminal rodoviário, onde iria de Reunidas, de Bauru até Rio Preto, partida marcada para 15h. Cheguei cedo para me despedir e ver no que podia ajudar. A levei na rodoviária e acompanhei tudo ser ali desembarcado na plataforma 3. Não acreditava no que via e estava muito angustiado. Não queria deixa-la ali sozinha até o momento do ônibus encostar, pois temia pelo que pudesse acontecer. Ela não havia comido nada até aquela hora - fui buscar-lhe uns salgados -, mas estava tranquila, resoluta e ciente de que, estava fazendo a coisa certa. Eu não aguentei e quando deu 14h20, me fui e confesso, sentei no Mafuá e estava esperando ela me ligar e dizer algo como, se poderia pernoitar uma noite no Mafuá, pois não a deixaram embarcar. Havia me despedido de forma calorosa, pois foi uma baita de uma vizinha do Mafuá e vai deixar muita saudade. Quando se despedia de mim, me disse algo mais para cortar o coração: “Seu Henrique, eu esperei por esse tempo todos para minha cirurgia e até ontem nada. Hoje me ligam e queriam marcar data. Disse não ser mais possível, pois iria embora e procuraria atendimento lá em Palmas. Veja que coisa doida isso. Não dá pra entender”. Não dá mesmo.
O meu celular toca as 14h55 e o atendo cheio de apreensão. Tinha certeza que algo havia dado errado e ela não embarcou. Era ela e rindo me disse: “Seu Henrique, já estou no ônibus. Chego hoje a noite em Rio Preto e amanhã 8h, embarco para Palmas. O motorista nem ouviu minha história inteira. Ele até ajudou a carregar tudo para o bagageiro e antes que continuasse minha história, fez questão de me abraçar”. Cai na gargalhada sozinho dentro do Mafuá e dei um susto até no Charles deitado aos meus pés. Edwirges e seus quinze pacotes, malas, embrulhos já está a caminho de Rio Preto e agora deve pernoitar ao lado de tudo nessa cidade e amanhã bem cedo, segue viagem, dois dias de estrada até o recomeço de sua vida. Ela foi mais que uma boa inquilina. Aprendi a gostar de sua conversa na janela, ela no corredor e eu na cozinha. Reclamona, mas resoluta, ciente do que faz. Me deu uma sonora lição hoje. Eu todo cagão, não crendo que seria possível ela embarcar com tudo aquilo e ela, sempre com a certeza de que conseguiria. Eu recebo isso tudo como mais uma lição recebida.
Decididamente, não sei quase nada de como se dá de fato essas tratativas de uma vida fora dos padrões convencionais. Sou um cara que adoro ver como tudo foi resolvido, mas não sei se diante de algo parecido, teria a sua coragem. Ela agora, ficou de ligar para contar da chegada em Rio Preto e do embarque amanhã cedo. A história ainda não terminou e ela, com pouca grana, está neste momento atravessando o Brasil, de volta para os seus e sonhando em recomeçar e dar a volta por cima. Pouco antes de se despedir me disse: "Olha que deixei muita coisa para trás, mas isso tudo aqui, essas caixas todas são pouco, pois aqui está a minha vida. Tá tudo aqui dentro, não tenho como deixar isso para trás". Antes de se despedir na rodoviária, me disse ao pé do ouvido: “Fique tranquilo, vou votar no Lula, viu. Tudo Vai melhorar!”.
Ela juntou quinze embalagens, uma enormes, sacos cheios com toda sua vida ali embutida. Arrumou por trinta dinheiros um senhor para levar tudo até o terminal rodoviário, onde iria de Reunidas, de Bauru até Rio Preto, partida marcada para 15h. Cheguei cedo para me despedir e ver no que podia ajudar. A levei na rodoviária e acompanhei tudo ser ali desembarcado na plataforma 3. Não acreditava no que via e estava muito angustiado. Não queria deixa-la ali sozinha até o momento do ônibus encostar, pois temia pelo que pudesse acontecer. Ela não havia comido nada até aquela hora - fui buscar-lhe uns salgados -, mas estava tranquila, resoluta e ciente de que, estava fazendo a coisa certa. Eu não aguentei e quando deu 14h20, me fui e confesso, sentei no Mafuá e estava esperando ela me ligar e dizer algo como, se poderia pernoitar uma noite no Mafuá, pois não a deixaram embarcar. Havia me despedido de forma calorosa, pois foi uma baita de uma vizinha do Mafuá e vai deixar muita saudade. Quando se despedia de mim, me disse algo mais para cortar o coração: “Seu Henrique, eu esperei por esse tempo todos para minha cirurgia e até ontem nada. Hoje me ligam e queriam marcar data. Disse não ser mais possível, pois iria embora e procuraria atendimento lá em Palmas. Veja que coisa doida isso. Não dá pra entender”. Não dá mesmo.
O meu celular toca as 14h55 e o atendo cheio de apreensão. Tinha certeza que algo havia dado errado e ela não embarcou. Era ela e rindo me disse: “Seu Henrique, já estou no ônibus. Chego hoje a noite em Rio Preto e amanhã 8h, embarco para Palmas. O motorista nem ouviu minha história inteira. Ele até ajudou a carregar tudo para o bagageiro e antes que continuasse minha história, fez questão de me abraçar”. Cai na gargalhada sozinho dentro do Mafuá e dei um susto até no Charles deitado aos meus pés. Edwirges e seus quinze pacotes, malas, embrulhos já está a caminho de Rio Preto e agora deve pernoitar ao lado de tudo nessa cidade e amanhã bem cedo, segue viagem, dois dias de estrada até o recomeço de sua vida. Ela foi mais que uma boa inquilina. Aprendi a gostar de sua conversa na janela, ela no corredor e eu na cozinha. Reclamona, mas resoluta, ciente do que faz. Me deu uma sonora lição hoje. Eu todo cagão, não crendo que seria possível ela embarcar com tudo aquilo e ela, sempre com a certeza de que conseguiria. Eu recebo isso tudo como mais uma lição recebida.
Decididamente, não sei quase nada de como se dá de fato essas tratativas de uma vida fora dos padrões convencionais. Sou um cara que adoro ver como tudo foi resolvido, mas não sei se diante de algo parecido, teria a sua coragem. Ela agora, ficou de ligar para contar da chegada em Rio Preto e do embarque amanhã cedo. A história ainda não terminou e ela, com pouca grana, está neste momento atravessando o Brasil, de volta para os seus e sonhando em recomeçar e dar a volta por cima. Pouco antes de se despedir me disse: "Olha que deixei muita coisa para trás, mas isso tudo aqui, essas caixas todas são pouco, pois aqui está a minha vida. Tá tudo aqui dentro, não tenho como deixar isso para trás". Antes de se despedir na rodoviária, me disse ao pé do ouvido: “Fique tranquilo, vou votar no Lula, viu. Tudo Vai melhorar!”.
Por fim, a única conclusão possível deste mafuento HPA diante do ocorrido: Eu sei pouco resolver os problemas e percalços dessa vida. Vivo para aprender e hoje, mais uma lição, creio, bem assimilada. Hoje foi a entrega em Bauru do tal do Prêmio Atenção, o criado pelos representantes da mídia local a endeusar os donos do poder local. Vejo as fotos pelas redes sociais, mas tenho a plena convicção (sic) de que, Edwirges é quem deveria ganhar uma premiação dessa magnitude, pois é mais grandiosa que a maioria dos que vi sendo ali agraciados com seu troféu. Viva Edwirges!
Nesta semana, domingo, 17/7, 10h30 a conversa será com Igor Fernandes , presidente do Psol local, jovem liderança política e muito antenado com as novidades de rádios webs. Uma com sua chancela está indo ao ar neste momento, com a proposta de disponibilizar opiniões diferentes das impostas pela mídia massiva. Sua história e o algo mais de onde anda enfurnado, aqui no domingo, 10h30, eu e ele direto do Museu do Café, de Piratininga. Imperdível. Vamos juntos? Eis o link da gravação da chamada, cheia de atrativos, feita ontem em sua residência estúdio de rádio: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/801942914130342
Igor, ao lado de sua grande amiga, Tetê Oliveira. Domingo, o papo é comigo... |
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