E ELE SE ACHAVA FAZENDEIRO*
* Meu 85º texto para o semanário DEBATE de Santa Cruz do Rio Pardo, edição nas bancas hoje:Essa história me foi contada entre risos. Aconteceu num bar aqui de Bauru. Um amigo estava por ali e com vestimenta dando e entender ter votado em Lula. Saiu para fumar e foi seguido por alguém, este eleitor de Bolsonaro. “Eu sou Bolsonaro e você é Lula. Eu te respeito e só não admito o MST ocupar terras”, diz este ao meu amigo.
Ele, me diz ter para momento como este, já na ponta da língua uma reação recheada de ironia e maledicência. “Eu também te respeito, mas me diga, você é por acaso proprietário rural? Eu sou, tenho 35 alqueires e não vejo motivo para preocupação, pois o MST não está interessado em pequenos produtores como eu”, diz.
O cara se surpreendeu com a resposta e para tentar ao menos se igualar e não ficar por baixo dá uma carregada da resposta: “Eu tenho 100 alqueires e tenho receio”. Rindo meu amigo lhe disse: “Tenha receio não, pois juntando a minha e a sua propriedade não vai dar para abrigar quase ninguém. Eles não estão interessados em pequenas propriedades como a nossa. Durma tranquilo”.
Já enfezado a resposta foi para acirrar a discussão: “Eu sou grande proprietário, sou fazendeiro”. Mal terminou de dizer isso e recebeu a devida resposta, pois percebeu que o tal do fazendeiro estava exagerando no que dizia ser seu: “Eu além de ter essa pequena propriedade, trabalhei a vida inteira no Banco do Brasil e na área de financiamento rural. Terras como as nossas passam longe de ser consideradas fazenda, grandes propriedades. Somos pequenos proprietários”.
O dito fazendeiro se irritou e quando ouvir do oponente, que ele era aposentado do Banco do Brasil, com propriedade rural e eleitor do Lula não se segurou: “Você é do time dos parasitas”. Sem se altercar, o deixa mais nervoso com sua resposta, o comparando com proprietário sem grande expressão: “Meu caro, sou assumido pequeno e administro bem o que possuo. Arrendei 75% das terras para plantarem eucaliptos e vivo tranquilo, com ganhos consideráveis. Sem medo de ser feliz”.
Isso irrita ainda mais o sujeito, que achava iria contar vantagem, se viu encurralado e ironizado. A percepção era de que, ele devia ter na verdade, talvez uma chacrinha, quanto muito um sítio e se achava, por causa disso, fazendeiro. Não conseguiu nem explicitar o que cultivava em sua área e assim o diálogo foi minguando. Na verdade, meu amigo disse a mim que, o cara se sentiu diminuído com a constatação dele passar longe se ser o que dizia da boca pra fora.
Na sequência, diz ele, “o cara queria me agredir no meio do bar, pois não tinha mais argumentos. E eu ainda defendendo o Lula e demonstrando o que seria feito de incentivo para pequenos como nós com o novo Governo”. Devo ter sido irônico demais da conta.
Na verdade, deve ter muita gente pela aí se vangloriando de algo do qual passam ao largo. E por fim, conclui a mim: “Desmonto esses todos que chegam querendo cagar regra de que o MST seja perigoso e quando averiguo, nem terras possuem e ainda por cima se acham do agronegócio. Para cada um tenho um jeito de fazê-los cair no ridículo”. Gostei da tática e já penso em colocar em prática para tudo o mais que virá pela frente. Não adianta esbravejar, mas sim, deixá-los sem reação e com a brocha na mão.
Henrique Perazzi de Aquino, jornalista e professor de História (www.mafuadohpa.blogspot.com).
EIS A POESIA EXISTENTE NO FUTEBOL
"O gol, Richarlison, João Cabral, Pasolini neste texto lindo!"É famoso o artigo escrito por Pasolini sobre a final da Copa de 1970 comparando o estilo de jogo do Brasil e da Itália, onde dizia que o futebol italiano - por contiguidade o futebol europeu - era prosa e o futebol brasileiro - portanto latino-americano - era poesia. Desde 82, a primeira Copa que eu acompanhei, não via uma seleção jogar com tanto gosto quanto essa.
O gol do Richarlison foi um poema de João Cabral: preciso, geométrico, sem firulas. Evoco outro italiano lembrado hoje em memes que se espalharam pela internete: Leonardo Fibonacci, o matemático que desenvolveu na idade média a sequência de cálculos que leva seu nome e ilustra essa imagem. A torção de corpo do jogador, fazendo no ar um movimento espiral para chutar a bola de voleio com força e precisão na direção da rede, sem chances para o arqueiro sérvio, pode ser comparada a uma espiral de nautilus, o desenho que representa a sequência matemática encontrada no arranjo arquitetônico de folhas, sementes, troncos, copas, flores, pétalas e outras formas encontradas na natureza.
Volto a Pasolini que cravou: "Há no futebol momentos que são exclusivamente poéticos: trata-se dos momentos de gol. Cada gol é sempre uma invenção, uma subversão do código: cada gol é fatalidade, fulguração, espanto, irreversibilidade. Precisamente como a palavra poética." O gol de Richarlison foi um espanto, uma fulguração e ainda um desagravo por tudo que ele representa como renovação do futebol brasileiro, pelo seu engajamento político e social, pelo contraponto à atitude de Neymar que prometeu dedicar o primeiro gol ao futuro ex-presidente, como resposta àquela geração de jogadores que transformavam o campo em templo religioso com suas comemorações proselitistas. O Brasil pode até não levar o título, mas esse jogo já lavou a alma e a camisa verde e amarela."
- Makeli K.
Escrito após Gilberto Gil ser chamado de Filho da Puta, no Catar, onde se encontra, inserido no contexto da Copa do Mundo. Meu dileto amigo Márcio Blanco Cava, o Márcio ABC da TV Tem escreveu e endosso integralmente:
O ALGO MAIS: "Que justiça? A mesma que condenou o Lula? A mesma que condena jovens pobres e negros das periferias e absolve os canalhas burgueses que espoliam dinheiro público e absolve agentes do Estado que assassinam pobres nas periferias? Muita ingenuidade acreditar na justiça burguesa. A solução é a tomada do poder pelos trabalhadores", Alexandre Silvestre Casaldáliga deu a palavra final.
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