Pois bem, o leite ficou bem uns seis meses sem ser comercializado e assim como desapareceu, voltou. Quem descobriu o retorno foi o ex-vereador José Eduardo àvila, o memorialista da vila Antarctica e adjacências, morador da Batista de Carvalho, imediações do Cemitério da Saudade, ou seja, proximidades do mercado. Falávamos disso e dias atrás lhe perguntei sobre o desaparecimento. Pois não é que ele foi lá e disse que ele havia voltado a ser vendido. Fui lá e comprei logo uma caixa, tendo leite para os próximos 40 dias.
Não sei o que de fato ocorreu neste interregno, mas sei que, como no dito popular castelhano, "eu não acredito em bruxas, mas sei que elas existem", tudo pode ter acontecido. Semana passada um leitor do JC, em missiva publicada rebatendo um escrito meu, escreveu algo sobre o pensamento reinante em parcela significativa do povo brasileiro a respeito do MST. Querendo se mostrar patriótico - na verdade, patriotário -, o leitor lascou essa quando viu o vice presidente da República, Geraldo Alckmin apertar a mão de representantes do MST na Feira Popular pela Reforma Agrária, evento anual que acontece no Parque da Água Branca em São Paulo. Lula viajando, Alckmin foi lá fazer a visita, o que incomodou o vetusto fundamentalista. "Lula posando em fotos e desfiles ao lado de ditadores e seu vice, Alckmin ao lado de terroristas. Tem foto, viu".
A imbecilidade brasileira anda muito por este viés. Lula visitou o Rússia, na comemoração dos 80 anos do fim do nazismo, onde foram eles, os russos os maiores responsáveis pelo fim da guerra. E por que não reverenciar isso? Da Rússia, Lula foi pra China, onde fechou os maiores acordos comerciais dos últimos tempos. E por que não deveria ir? Lula não visita ditadores e sim, representantes de países. Neste momento, virar as costas para a China é mais que burrice, pois essa caminha a passos largos para ser a maior potência mundial, assumindo papel até então ocupado com mão de ferro pelos EUA.
O caso do leite "Terra Viva" eu o uso para demonstrar bocadinho da mentalidade hoje vigente neste país, que pelo visto, parcela deste, com a cabeça já devidamente feita ao longo do tempo, continuará tendo visão tacanha de tudo o que possa resvalar em ter proximidade com a esquerda. Não consomem o leite por puro preconceito, algo já cristalizado dentro dessas mentes. Imagina o que é para estes reconhecer que Lula é um estadista como poucos hoje em atividade no mundo, fazendo com que o Brasil volte a trilhar caminhos de altiva soberania e sem estar atrelado "unha e carne" com os EUA, adoração de gente como Bolsonaro, Milei e devotos dos "adoradores de pneus".
Bom, o leite voltou à minha mesa e dele já faço uso novamente, contaminado que fui por ele, desde quando o descobri. Será ter sido introduzido algo nele, algum chip molhado em suas entranhas e desta forma, fui sendo pouco a pouco, induzido artificialmente a não mais querer consumir outro? Penso nisso, enquanto tomo minhas duas canecas dee leite diários. Pelo que sei, o MST é apenas mais uma ponta desse rabinho saindo debaixo do tapete, do conservadorismo tacanho dessa ultradireita bestial. Uso o caso do leite só para poder continuar discutindo este tema mais abrangente, envolvente e dilacerante dos descaminhos brasileiros.
UMA CARTA NÃO PUBLICADA SOBRE O MESMO ASSUNTO, QUANDO DESSA NÃO REALIZADA VISITA DO VICE-PRESIDENTE ALCKMIN À BAURU NESTA SEXTA
Lacrando meus escritos de hoje, reproduzo aqui carta de minha lavra, enviada para o JC na tarde dessa última quinta, 29/05, quando tomei conhecimento que o vice-presidente Geraldo Alckmin estaria em Bauru para inaugurar algo. Acabou não vindo, pois pelo que li na imprensa teve um mal súbito em Brasília, precisando ir num hospital e cancelou sua agenda de sexta, onde nessa estava incluída a vinda para Bauru. Converso com o pessoal do JC e decido, assim sendo, pela não publicação. Porém, aqui publico o que enviei, até para continuar na mesma linha do texto aqui já publicado sobre o retorno do leite "Terra Viva" nas prateleiras de um supermercado na cidade, após meses sem vê-lo por lá. Aproveito no texto para escrevinhar algo sobre como tratamos alguém, em diferentes fases de sua vida, em alguns momentos mais conservadores, noutros já nem tanto. Agora mesmo, o deputado Aldo Rebelo, ex-comunista, por quem no passado já nutri e escrevi favoravelmente, hoje perfilado com o bolsonarismo, piorou a olhos vistos. Bom discutirmos isso tudo, junto e misturado. minha carta não publicada tenta algo neste sentido:
O ALCKMIN DE HOJE
O ex-governador, tantas vezes criticado por mim no passado, hoje vice-presidente da República estará em Bauru nesta sexta, 30/05. Antes, o enxergava como um empedernido direitoso, comprovado por atitudes como a da desapropriação do Pinheirinho. Alckmin foi adversário de Lula, porém convidado para ser seu vice, desagrada parte representativa do conservadorismo mais retrógrado paulista. O vejo hoje atuando bem diferente de antes. Calmo, moderado, vivenciando presencialmente os tais confrontos básicos e interesses em jogo, não tem decepcionado. Continua um liberal, porém, não mais com aquele ranço e perspectiva anterior.
Nunca carta na Tribuna do Leitor semana passada, alguém expunha algo a respeito, quando dele escreveu: “Lula posando em fotos e desfiles ao lado de ditadores e seu vice Alckmin junto de terroristas. Tem foto, viu”. Felizmente Alckmin superou essa fase rasa, tacanha e restrita de enxergar e praticar política. Avançou e quando esteve cumprimentando membros do MST na Feira Popular pela Reforma Agrária, recinto da Água Branca, em São Paulo, o fez por estar ciente do papel deste movimento hoje, longe de ser terrorista, mas com cooperativas e assentamentos atendendo prontamente interesses de abastecimento agrícolas para parte significativa da população. Terrorismo é não enxergar nada de positivo em seu ato.
Nada do que fez no passado foi apagado, porém ele avançou e superou algo ainda não compreendido pela ultradireita brasileira. O país continuará travado e sem esperanças enquanto não superarmos essa fase. Não enxergar em Lula um avanço desmedido nas relações governamentais é o mesmo que continuar acreditando que a Terra é plana e Bolsonaro um inocente. Nem Alckmin, nem o próprio Lula representam a esquerda, porém, quando unidos os vejo trabalhando pela diminuição de nossas diferenças e antagonismos. E isso é altamente positivo para o futuro do Brasil.
Munido deste espírito, recepciono positivamente Alckmin e fico apreensivo com quem, diante de tudo o que já tivemos oportunidade de presenciar de mudanças positivas, as desmerece em favor de continuar dando murro em ponta de faca. Alckmin foi um dos que mudou. Felizmente, para melhor. Outra pessoa dos seus tempos de governador. Isso pode ser facilmente percebido por todos que dele se aproximam para uma prosa.
Henrique Perazzi de Aquino, professor de História e Jornalista (www.mafuadohpa.blogspot.com).
OBS final deste HPA: Não morro de amores pelo Alckmin, mas impossível, fazendo uma relés comparação de como atuava antes e como atua agora, significativa mudança. Essa proximidade com Lula e com tudo o que veio junto dela, talvez o tenha feito entender que, mais do que confrontar, a belezura de entender o contrário, se colocar em seu lugar e a partir daí, dialogar. Se isso vai perdurar com Alckmin, só o tempo dirá, mas no momento, ele é infinitamente melhor que dantes. Mudanças para melhor são sempre assimiláveis. Entendo assim.
A classe artística espera, espera e espera. Pouco acontece e quando acontece decepciona. Quando algo é contemplado, gera dúvidas, pois em alguns casos até na concessão do direito para beneficados pelo quesito de cor, beneficiados declarados como pessoas negras. É uma sucessão de erros grosseiros, falácias, promessas e assim, a "Cultura" em Bauru vai sendo empurrada com a barriga do sectário, ops, digo, Secretário de Cultura. Nada muito esclarecido, tudo oculto e datas postergadas. Sem nenhuma transparência, tudo segue sendo decidido de forma oculta, por um grupo a entregar tudo a conta gostas, mediante conveniências. E assim chegamos ao final de maio, com todos os museus indefinidamente fechados, obras destes todas paralisadas e segundo ciclo da Lei Aldir Blanc sem programação de divulgação. Até quando?
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