CURITIBEI...
Eu, ciceroneado por meu amigo Baracat Kizahy Neto, revendo Curitiba. Dois velhinhos perdidos numa cidade com encantos mil. E assim, por alguns dias, deixo de publicar o Cena Bauruense e a Vitrolinha do HPA.KIZAHY ME MOSTRANDO CURITIBA DE DENTRO DA LINHA ÔNIBUS INTERBAIRROS II - CIDADE VISTA DA JANELINHANós saímos para perambular, bater perna, conversar e ver a cidade na tarde desta terça-feira. Descemos de carro até um dos tantos terminais urbanos de onibus de Curitiba - em Bauru nâo existe nenhum e aqui são mais de dez - e de lá, o roteiro se daria com o biarticulado Interbairrros II. A intenção dele era me mostrar as várias Curitibas. "Esse ramal percorre a cidade e se aprofunda na periferia. Vamos passar pelo meio de muitos bairros e conversando irei te passando algo destes. Os monumentos todos você já conhece e assim sendo, quero lhe mostrar uma outra cidade. Vamos?", foi o convite feito pelo amigo Baracat Kizahy Neto, morando na capital paranaense ha mais de 40 anos. Topei na hora.
Ele me diz, poderíamos fazer o percuso de carro, mas nas muitas paradas, iríamos ter que pagar pelo estacionamento, achar vaga, ou seja, muitos transtornos. E ressalta: "Dentre muita coisa positiva por aqui, uma delas é a,excelência do transporte coletivo. E vá observando a paisagem da janela, principalmente a limpeza das ruas e a arborização. Bauru ficou feia, descuidada e muito despelada. Cadê as árvores de Bauru? Da última vez me espantei. Essa falta de verde reflete em tudo o mais. Reclamo muito de tanta coisa por aqui, mas Curitiba é limpa e o verde é sentido por todos os lugares". E tudo que vai me falando, eu olho pra fora e constato.
Logo na entrada do terminal, ele me diz que em Curitiba as passagens são todas cobradas em cartão, não sendo mais possível utilização de pagamento em espécie. Eu lhe pergunto: E o turista sem o cartão local?". Ele: "Paga com o seu cartão normal, só que só aceitam por aproximação. Pode ser ruim, mas é mais rápido. O seu não o é, mas quando precisa altera na hora. No nosso caso não precisamos de nada disso. Eu com quase 65 e ele próximo dos 70 não mais,pagamos. Ele tem a carteirinha local de idoso e eu saquei o RG, entrando por portão lateral, sem catraca. Foi aí que me lembrei já ter adentrado a idade dos "velhinhos". Aproveitamos a deixa para entabular uma conversa sobre nossas medicações, dores e restrições, que não vem ao caso neste texto. O fato é que, percorremos a cidade, pelo menos neste quesito com custo zero.
Ele me diz fazer isso, sair para ver sua cidade, com muita frequência e em cada nova investida, sempre novas surpresas. E, a medida que o ônibus sai do centro urbano, demoro pra notar as diferenças. As ruas continuam largas e boa parte das calçadas, também largas, possuem até grama. "Isso vem de longe, algo bem positivo. O traçado planejado sempre contemplou isso. E assim, não é só impressão, mas existe mais espaço para circular, característica bem própria daqui. E do lado de fora, em cada lugar, algum comentário, acrescentando algo novo para mim. O fato inegável, mesmo com o passar dos anos, guardadas todas as restrições com as alterações governamentais de poder no estafo e cidade, algumas características perduram.
Não fosse ele, sua disponibilidade em acompanhar o amigo, aliado de seu conhecimento e curiosidade de andarilho urbano, tudo ocorreria diferente nessa minha curta estada. Eu por aqui trabalhei por mais de dez anos, intermináveis idas e vindas, rodei muito e conheço boa parte da cidade. Rever seus pontos turísticos, sempre é interessante, mas neste dia o propósito foi bem outro. Viesse sem seu acompanhamento, ficaria restrito a caminhar pelo centro, pouca coisa além disso. Com ele, uma aula de urbanidade, por quem enxerga a cidade com toda a peculiaridade de um cidadão de esquerda. Sim, levo muito isso em consideração. Sei, nem todos possuem este lado mais aguçado, mas como o conheço bem, décadas observando sua cidade como assessor parlamentar e comerciante - foi dono de uma farmácia de manipulação, fechada por não ter mais condições de enfrentar a concorrência dos grandes grupos econômicos e suas redes. Aposentou e foi ser gauche na vida.
Assim como em Bauru floresce um intenso comércio no entorno dos grandes supermercados espalhados pelos seus bairros, por aqui vejo isso acontecer com os tantos terminais urbanos. Proliferam-se intenso e movimentado comércio junto destes. Nada de anormal, enfim, onde flue e circulam mais pessoas, a vida aflora com mais intensidade. E o comércio, nessas ruas interligando os bairros, as de passagem, são movimentados corredores comerciais. Paramos em vários terminais, circulamos a pé na região, degusto quitutes e até um chopp. Depois, caímos no centro e antes de subir e descer pelo calçadão da rua Quinze, rodamos vendo como se dá a substituição de muitos casarões pelos prédios residenciais, estilo bem diferente do passado. Aqui existe um trabalho, vindo de muito tempo, dessa tentativa de trazer de volta parte da população para o centro. As condições, como se dá de fato, isso merece amplo estudo. Vislumbro neste passeio o todo, sem cobdições de maiores aprofundamentos. Vim passear e batendo perna, ouvir o que o amigo tem a me dizer e mostrar da cidade escolhida por ele para viver, tão logo Bauru, lá pelos seus vinte anos, ficou pequena, diante dos seus sonhos fervilhando dentro de sua cabeça.
Adentramos o prédio do MIS, reduto de antigas instalações policiais, passamos defronte a Câmara Municipal e ouço o relato do grande balcão preservado por ter sido pátio de bondes. A Lei de Zoneamento, pelo visto, funciona por aqui, à revelia de interesses outros. Na rua Quinze, revejo muita coisa ainda reverenciando seu artista maior, Poty. Entramos numa famosa galeria junto da Boca Maldita e volto a comer um acepipe com gosto árabe no Kibe da Boca. Passo defronte o Hotel Palace, na Barão do Rio Branco, o hotel por onde me hospedava. Quantas histórias ali vividas e passando aquele inevitável filme na minha cabeça só de rever, num rápido olhar, pra dentro de sua recepção. Enfim, revi a cidade e falamos muito dos seus momentos tão distintos. Rodei por aqui muito antes da malfadada Lava Jato e seus pérfidos personagens. Lerner se foi, Grecca continua na ativa, Requião no ostracismo, Ratinho é o reeleito governador - na mesma onda que reelegeu Suéllen em Bauru - e o alento vem de gente como o deputado estadual petista, o jovem cabeludo Renato Freitas, enfrentando os dragões da maldade, num pequeno reduto dentro do mundo político paranaense atual. Colocamos todos estes no epicentro de nossa conversa.
Quando a noite começa a chegar e o friozinho idem - temperatura boa hoje, sem muito frio -, pegamos outro ramal e voltamos para o terminal Cabral, onde tudo começou. De lá, de carro, com aquela vontade de parar e conhecer uns botequins, os frequentados pelo amigo me ciceroneando, mas não o fizemos. Matilde, sua esposa, nos esperava após sua jornada de trabalho com uma memorável sopa quente de mandioquinha, regada com bom vinho argentino. Cansados, ainda deu tempo de espiar algo mais pela TV, depoimentos julgamento do capiroto, ganho um livro ilustrado, contando a história de uma das ruas mais velhas e conhecidas daqui, a Mateus Leme, por onde havíamos passado, na ida e volta, rota inevitável para seu lar. Deito e durmo após dia de intensa movimentação, esquelética e mental. Amanhã tem mais. Pena, a passagem por aqui será meteórica.
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