segunda-feira, 17 de novembro de 2025

CHARGE ESCOLHIDA À DEDO (225)


"O CRIME É TÃO ORGANIZADO QUE TEM ATÉ RELATOR"*
Charge da Laerte, sempre ótimo.

* A instigante frase foi lida por mim dias atrás, revelando uma verdade enfronhada, engruvinhada com o poder estabelecido hoje no estado mais rico da Federação, publicado nas redes sociais por Maysa Leal e aqui utilizada como título para as escrevinhações a seguir:


1.) COMPARO O FILME "O AGENTE SECRETO" COM O QUE GOSTO DE FAZER
Ele diz numa das falas deste trailler de seu filme: "Eu acho que nós temos as melhores caras do mundo. A quantidade e a variedade de caras, de rostos que tem no filme, isso é muito importante". Sempre gostei exatamente disso, de expor as muitas caras, os rostos das pessoas e assim, no meio delas, deixar registrado que somos assim e pronto.

Neste exato momento, colho depoimentos para um trabalho sendo feito no distrito rural de Tibiriçá e lá, o que mais gosto de fazer é enquadrar o rosto das pessoas e elas dizerem a que vieram, contando suas ricas histórias de vida. Com este enquadramento muito próximo, olho no olho, mostramos nossas caras e isso, para mim, é a essência do que faço. Não faço com a qualificação do cineasta Kleber Mendonça Filho, mas este seu dizer me anima a continuar, pois se lá no filme deu certo, comigo também pode dar. Enfim, sou do time dos que gosta mesmo é de trabalhar com estes rostos e vivências todos, demarcando quem de fato merece estar do outro lado do foco de nossas lentes. "O Agente Secreto", um filme sobre tempo e memória. Como a ideia nasceu? Kleber Mendonça Filho, diretor do longa-metragem, revela curiosidades criativas sobre o filme. Eis o link dele falando sobre isso: 
HPA, desejando bom dia e boa semana para tudo, todas e todos

2.) CONVERSANDO A GENTE TENTA SE ENTENDER
"Em um táxi no Rio de Janeiro, o motorista me disse que era castrista. Falei "eu também sou". Ele disse: "tem mesmo é que matar as cobras". Respondi que depois que fizeram a limpa, a situação nunca voltou ao que era. Ele: "nós precisamos de um presidente assim no Brasil". Eu: "Sim! Aliás, falta é a coragem dele para enfrentar o verdadeiro inimigo que ameaça o Brasil". Ele: "será que Castro vai conseguir ser eleito?". Falei: "Infelizmente não tem como porque Fidel Castro já morreu. Ele tinha a coragem para enfrentar quem se curvava ao imperialismo dos Estados Unidos. De vez em quando também fazia a limpa nas cobras que pediam invasão estrangeira no próprio país. Por isso que digo que sou castrista: Fidel Castro era o cara! E digo mais. Em tempos de ameaça de agressão à Venezuela, também sou chavista. E aqui no Rio, eu seria brizolista porque se não tivessem desmontado os escolões, agora teríamos mais Estado nos bairros, mais educação pras crianças e menos traficantes e milícias". Um silêncio reinou a partir de então. A última palavra que ele disse foi: "a corrida terminou"", THOMAS DE TOLEDO.

3.) O DETALHE DA CONVERSA COM O LEONARDO
Ser noroestino, na sua acepção, é algo para ser entendido andando pelas ruas e conferindo in loco algo disto, desde a vestimenta às conversas. Cruzo com o eterno jornalista Leonardo de Brito, que por anos atuou no Caderno de Esportes do JC, depois algumas rádios, sendo seu forte a escrita. Porreta no que faz e fez bem feito. Paramos para conversar diante do caixa de um supermercado e ele desabafa: "O Noroeste é outro, o futebol é outro e acompanho aqui de longe todas as transformações, essas SAFs tomando conta de tudo. Veja no caso bauruense, fizeram uma grande festa para apresentar o projeto novo, lindo, tudo novo, até com hotel na parte interna e convidaram muita gente, mas nem eu nem o Jota Martins (radialista e comentarista esportivo de velha cepa) fomos convidados. Nós temos história noroestina. Dói ser deixado de lado". No futebol de hoje, com este próximo campenato paulista diminuido, espremido e com menos datas, tudo dói, mas o reclamo do Leonardo cala mais fundo que tudo.

4.) NÃO ESCAPA UM - TEM MUITOS MAIS PREFEITOS ATUANDO DA MESMA FORMA E JEITO 
Rodrigo Manga, agora afastado prefeito de Sorocaba, desviava dinheiro do setor de Saúde, Transporte e Lixo.
A ficha só aumenta.
Afastado do cargo de Prefeito de Sorocaba, a investigação identificou que Rodrigo Manga cometeu possíveis irregularidades em contratos da área da:
Saúde
Transporte público
Coleta de lixo
Serviços de engenharia
Vigilância patrimonial
Os investigadores encontraram indícios de uma "contabilidade paralela" que evidenciaria o esquema de corrupção.

Marcos Antonio Ferraz, página Somos Mídia.

5.) A FORÇA DE UMA CAMISETA COM MARX NA ESTAMPA CIRCULANDO PELAS RUAS BAURUENSES
Usei essa camiseta com estampa do Marx por dois dias seguidos. Me espanto toda vez que a coloco. Tempos atrás, estava com ela e recebemos a visita da amiga professora e fotógrafa, Lais Akemi em casa. A danada sabia algo de russo e me traduziu o escrito. Fiquei maravilhado, pois tínhamos uma vizinha aqui ao lado e que sabia russo. Hoje ela se foi, está dando aulas em Poços de Caldas e no sábado cedo, visto a velha camiseta que, tempos atrás, ganhei de meu filho. Ele a usou por um tempo e me presentou. É das minhas preferidas. Fui com ela até a padaria, bem cedo, estávamos com visitas em casa. Chego e uma senhora muito simpática, mais de 70 anos, moradora aqui pertinho, com uma tatuagem linda na canela, sempre que chego vem comentar sobre minhas camisetas. Pergunta quem é. Este o mote para iniciarmos uma longa conversa, tudo presenciado pelo dono da padaria, até bem pouco tempo bolsonarista, hoje já não sei mais. Contei a ela que tempos atrás, uma vizinha nossa me vendo com a camiseta, sabendo russo a traduziu para mim. Falamos um pouco de Marx, ele alemão, daí o estranhamento dela do russo na legenda. Digo dele ser o mentor da Revolução Russa. Ela fala de Lenin, digo que ambos são mentores da teoria a perdurar e instigar leituras e ações até nossos dias. Valeu muito a pena, pois ver a fisionomia de espanto do dono da padaria não teve preço.

Hoje, ela ainda estava limpinha e fui com ela no velório do seu João Félix, 76 anos, petista bauruense/nordestino falecido ontem. Sou novamente abordado por causa da camiseta. Enquanto uns se contorcem na fisionomia contrariada, outros se aproximam para conversar. Eram duas senhoras e uma delas me vendo com Marx na estampa, me diz fazer parte hoje de algo cada vez mais raro. "Nem Che a gente vê mais", citamos na conversa. A delícia da conversa foi quando me disse que conheceu a Rússia. Pergunto se é de Bauru e se foi em alguma excursão. Disse morar aqui faz tempo, mas viajou através de uma excuusão saindo de Sampa. Contou detalhes de Moscou e de Stalingrado, não tendo viajado numa época fria e gostou muito. Na Praça Vermelha, lhe mostraram umas luzes acesas num certo ponto do palácio e disseram que quando acesa, era sinal de que Vladimir Putin estava lá trabalhando. Travamos um longa conversa.

Seu nome, Deusa Trindade Morales e ao saber meu nome, me pergunta se era o escritor. Confirmo rindo, pois ela me lia nas cartas publicadas pelo JC. Me faz relembrar de seu marido, Edmur Morales, já falecido e de quando viajavam por aí e no retorno enviavam cartas para o caderno de Turismo do jornal, em espaço próprio de relatos de viagens. Lembro dessa seção, aúreos tempos quando o JC existia. A acompanhando, outra simpática senhora e depois das apresentações, uma baita surpresa. Ela, Maria Aparecida Cardoso, mas todos a conhecendo por Cidinha. Conta que, por muito tempo foi secretária particular de Milton Dota, principalmente no seu período como político. Digo que, teria enorme prazer em ouví-la, relatos de suas histórias. Ela não se faz de rogada e me diz: "É só ligar, eis meu número". Elas foram ao velatório Terra Branca por outro falecido, mas ao ver a bandeira do PT sob um caixão, se aproximaram para assuntar quem era. Deram comigo, eu e Marx no peito.

Pronto, a tal da camiseta havia surtido efeito e em dois momentos estabeleceu conversações proveitosas. Marx tem dessas coisas, algo muito positivo, como o destes dois momentos e também, outros não tão alvissareiros, quando se depara com a desaprovação de quem, com certeza, nunca o leu, mas o detesta mesmo com superficial ou nenhum conhecimento da teoria proposta por ele. Achei por bem chegar em casa, após um dia atribulado pelas ruas e contar o ocorrido, pois a estampa marxista, desta feita, trouxe e rendeu papos mágicos. Ninguém, dentre os do rolê estão dispostos a discutir a teoria marxista no momento - o que é uma pena -, mas só de alavancar conversações e possibilidades disso ter prosseguimento, um encanto. Ao chegar em casa, por volta das 22h, chegou a hora de colocar a já suada para lavar e depois guardá-la por mais um tempinho, até vestí-la novamente e sair para uns bordejos pela aí. Desta feita, rendeu.
Cidinha e Deusa, a conversa por causa da camiseta do Marx.

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