ALGO BEM MACHADIANO, NO CENTENÁRIO DE SUA MORTE
Não devemos ser repetitivos. Poderia tecer loas à Machado. Gosto muito dele e já li e reli muitos de seus livros. Prefiro-o contista, nos textos curtos. Questão de preferência. Só isso. Temos todos os interessados na boa leitura, lido muita coisa sobre esse centenário comemorado ontem, dia 29/09. Chover no molhado é algo irritante. Quero só enaltecer algo que gostei muito de ler nos últimos meses. O jornal Estado de SP publicou no último domingo de cada mês, depoimentos de meia página intitulados “Meu Machado de Assis”, com pessoas variadas. Foi muito saboroso ler alguns dos relatos. Particularidades de cada um com o grande autor. Não vi nada parecido na grande imprensa. Essa se destacou.
E para não dizer que não falei de Machado, lá vai algo sobre ele, carregado com uma pitadinha de sarcasmo, de desgosto e de desencanto. Tenho um amigo inquieto, daqueles desacomodados com o mundo atual. Recebo regularmente textos seus por email. Quer mudar o mundo, torná-lo mais justo e palatável. Sózinho, isolado, rema, rema e pouca coisa pode fazer, além dos textos que envia para alguns amigos diletos, os que confia e comungam com algumas de suas idéias. Tentou parodiar Machado e foi mal compreendido por alguns. Em outros causou espanto e somente nuns poucos, atingiu a intenção. O ocorrido foi o seguinte. Enviou um texto do próprio email, anunciando que havia morrido, “acometido de infarte fulminante (...) e porque constatava que sua luta era uma cópia de um passado perdido”. Encerra o texto inicial como se amigos próximos, assumindo o comando do seu email pessoal, prometiam continuar a luta: “ficamos com o compromisso de levar sua luta adiante e fazer valer as frases que sempre encerravam seus discursos”.
Teve gente que quase caiu da cadeira. Os que se assustaram foram ligando para os mais próximos até a conclusão: ele estava mais vivo do que nunca. Diante da movimentação dos amigos, envia novo email e esclarece as coisas: “Voltei, estou ressuscitado. (...) Na verdade foi um trocadilho em cima de um conto de Machado de Assis e uma forma crítica para mostrar como a atual estrutura procura matar com os idealistas... No conto do Machado de Assis que faço um paralelo, ele escreve sobre um compositor que apesar de ter um grande reconhecimento, frusta-se por não atingir o seu objetivo de ser um grande compositor erudito e o reconhecimento e compreensão das pessoas e isso lhe causava um imenso pesar”. Não vou reproduzir tudo o que enviou para os amigos. Ele demonstra, em primeiro lugar, também ter lido Machado. Só por isso, vale o registro, talvez o único envolvendo o escritor que possa citar no momento. E precisa de algo mais marcante para relembrarmos O Bruxo do Cosme Velho? Como estou fora da escola, tenho visto falar tão pouco de Machado (acho que nas escolas ainda se fala de Machado, não?). Tenho lido muito, mas escutado pouco. Na verdade, nas rodinhas por aí, quase não ouço falar dele. Na verdade, ligo o rádio e o que mais se propaga são coisas religiosas, muitas envolvendo grana, arrecadação, salvação... Será que esse pessoal conhece Machado? Será que já ouviram falar dele?
Eu, na qualidade de devorador de letrinhas, fujo o mais que posso desse negócio mercantilista que se transformou nossas religiões e leio cada vez mais. No momento, estou tentando descobrir o nome do conto, o que serviu de inspiração para meu amigo. É o quero ler de Machado de Assis nesses dias. E viva Machado!!!
Em tempo: Sequência das ilustrações - caricatura de Spacca - caricatura de Baptistão - foto histórica de Marc Ferrez (Gilete Press da internet, com citação de fonte)