DIPLOMADO E FIRME NO VOLANTE - crônica publicada na Revista do Caminhoneiro, tiragem 100 mil exemplares, edição 275 - janeiro de 2011
Conheci Cardoso numa animada roda de conversa, num posto perdido dentro da imensidão desse país continente. Sua história se mostrou diferenciada desde o princípio. Notava sua animação entre amigos e algo me chamou a atenção. Alguns detalhes, talvez a fala mais rebuscada, fluente, uma riqueza maior de detalhes na exposição dos assuntos e uma demonstração de estar bem informado sobre tudo. Bastou me aproximar para saber dos motivos.
Conheci Cardoso numa animada roda de conversa, num posto perdido dentro da imensidão desse país continente. Sua história se mostrou diferenciada desde o princípio. Notava sua animação entre amigos e algo me chamou a atenção. Alguns detalhes, talvez a fala mais rebuscada, fluente, uma riqueza maior de detalhes na exposição dos assuntos e uma demonstração de estar bem informado sobre tudo. Bastou me aproximar para saber dos motivos.
Diz ter começado cedo, aos 19 anos, na sua Imperatriz, no Maranhão, no amado Nordeste. A persistência em tudo que faz na vida, sua marca pessoal, foi também usada para conseguir completar um curso superior. Isso mesmo, Cardoso tanto fez que conseguiu seu intento, concluir o curso universitário. Não se sabe bem nem como, conciliando as viagens, nunca abdicadas, com os bancos escolares. Perguntado sobre isso, conta só ter concluído o curso pela tolerância e compreensão de professores e diretores da faculdade. “Entenderam minha situação e fui aproveitando as brechas, até que finalmente, com quase seis anos de labuta, tornei-me professor de História”, conta.
“E por que continua nas estradas?”, pergunta inevitável, feita por muitos, bastando saberem que mesmo diplomado continua disposto a continuar pilotando um caminhão. Responde sempre com certa animação, pois diz gostar tanto do curso feito, como da vida que leva e da qual não pretende abandonar. Primeiro diz que estudou não para mudar de profissão, pois sempre foi feliz na e com as estradas. Fala também da sorte de ter encontrado um empregador que o compreende e estimula. Esse até investiu nele, botou fé que ele era sincero quando afirmava que a estrada era sua razão de viver.
Tem mais. O estudo, segundo repete sempre, veio para complementar a curiosidade e descobrir a razão das coisas, a procedência dos acontecimentos, uma ampliação de conhecimentos. Foi o que fez. Quando lhe perguntam se encerrou o ciclo de estudos, diz um sonoro não. Concorda que, talvez a dos bancos escolares sim, mas não a que leva consigo em sua boléia. Carrega planos de pesquisa em algo a envolvê-lo nas horas vagas. É sobre a rota do ciclo do ouro mineiro, era colonial, que nada coincidentemente é quase a mesma onde roda com seu bruto. “Nada melhor do que conhecer a história do trecho onde rodo, desde os primórdios. Isso me contagia. Viajo na estrada e nas pesquisas”, diz.
E, segundo ouço, ele e outros de sua empresa ficaram todos pimpões no final do ano encerrado. Tudo porque, ele que já tem o grau máximo na carteira de habilitação para estrada, foi recompensado, recebendo um polpudo bônus adicional de final de ano. Espécie de incentivo para continuar se profissionalizando e não abandonar a profissão. Ele bem que ouviu na TV que faltavam profissionais com sua qualificação. Foi um algo a mais, usado em partes para incrementar a continuidade de suas pesquisas. Cardoso não menospreza quem atua no magistério, mantém o diploma lá na parede de sua casa, só em exposição, preferindo continuar com os pés mais do que fincados nas estradas. “É aqui que vou conferindo in loco o que aprendo com os estudos. Mais para frente vou até fazer algo sobre a história do caminhoneiro brasileiro e nada melhor do que um com conhecimento de causa para fazê-lo. E esse alguém poderá ser eu”, conclui.
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