A SAGA DE DESCALVADO E ARREDORES
Eu e o amigo Fausto Bergocce estamos atolados até o pescoço de compromissos com o livro sobre a história de Reginópolis. A parte dele, adiantadíssima, com quase noventa aquarelas feitas em cima de fotos históricas, personagens da cidade, pontos comerciais e locais outros. O meu, o registro histórico escrito, um pouco atrasado, por dois problemas pessoais (falecimento sogro e saúde pai). Ontem ele aporta por aqui e passamos parte da tarde confabulando sobre os detalhes da continuidade, os próximos passos. Sentados à tarde toda no Bar do Bagaça (que não vende mais cerveja), alinhavamos tudo e à noite fomos bebericar umas cevadas no Bar do Brecha, pois ninguém é de ferro. Encher as barricas para o dia seguinte.
Hoje, 500 km (exato registro na hora do retorno) de estradas em levantamentos de algo a nos intrigar na história daquela cidade. Um padre, Jeremias José Nogueira foi iniciador em 1882 do Patrimônio da Rainha dos Anjos do Batalha, a mesma que muitos anos depois receberia o nome de Reginópolis. Estrada a partir das 7h30 e tendo como destino Descalvado, pois o padre tinha longa passagem por lá. Muitas indagações na cabeça de ambos, algo que a história precisa desvendar, pois não existe registros nos arquivos até então vasculhados. O que motivou o padre a estar lá nas barrancas do rio Batalha naquela data e local? Sabemos que era um dos muitos propagadores da fé católica pelo interior paulista, pois tínhamos conhecimento de extensa peregrinação até aquela data. Daí por diante mistério, pois não são conhecidos mais nenhum registro. E perguntas: Quanto tempo permaneceu em Reginópolis? Onde mais esteve? Onde faleceu e está enterrado? Existe até a hipótese de que era detentor de terras em seu nome na região de Descalvado (um padre proprietário). Garimpadores, ou tentando sê-lo, saímos à campo em busca dessas respostas. Nessa quarta, igrejeiros juramentados, percorremos algumas.
Em Descalvado, visitas aos arquivos da Câmara Municipal, Cemitério Municipal, Paróquia, Cartórios, Biblioteca Pública e um contato com o memorialista Luis Carlindo Arruda Kastein, outro a enfrentar problemas quando se depara com pesquisa histórica pelos rincões interioranos. "Em Rio Claro, quando precisei pesquisar por lá, um recém nomeado arquivista do município havia queimado tudo o que não tinha referência com aquela cidade. Queimou a história de muitas cidades vizinhas e achou que fez um belo serviço, uma limpeza geral", nos conta. Na Biblioteca, Sônia Salzano Gentil disponibiliza tudo o que já foi escrito na cidade, mas nada além do período em que Jeremias havia sido pároco por lá, 1837 a 1870. Fotos variadas numa vila fundada pelo padre, uma rua com seu nome e incertezas confirmadas: Tarefa prorrogada para incursões futuras aos arquivos das Cúrias de São Paulo, Limeira, São João da Boa Vista e Campinas. Num vitral na Paróquia Nossa Senhora do Belém, padroeira da cidade, algo retratando o padre em ação. Nenhuma imagem existente. Juntamos tudo e voltamos por tortuosos caminhos.
Primeiro uma rápida passada em Bocaína, para ver os afrescos restaurados de Benedito Calixto na igreja da cidade. Ali um encontro com um típico interiorano, o barbudo seu Luizão, que recebe muito bem forasteiros e diz ter frequentado muito a Casa da Eni em Bauru. "Muitos daqui deixaram fazendas naqueles quartos, eu não, mas me diverti um bocado", conta. Por pouco não veio conosco, abandonando muleta e tudo o mais (mas como trazê-lo de volta?). Em Bariri, outro lugar onde o padre inaugurou paróquia, mas pelo horário, tudo fechado. Na cidade adiante, Itaju, governada por mulheres a décadas, uma balsa até Arealva e de lá mais estrada até Reginópolis. Ali os acertos finais para o recomeço das entrevistas amanhã. Juntos, por mais dois dias estaremos desvendando um pouco mais da história ainda retida somente na memória dos seus mais velhos habitantes. Um breve descanso, folêgo renovado e pisando no acelerador logo cedo. O filho querendo ir no cinema à noite, a Ana e a mana Helena me instigando para outras incursões e eu querendo só um bom banho e cama.
Um comentário:
Boa tarde. Lendo seu blog, interessei-me pela historia do P. Jeremias José Nogueira. Gostaria de falar mais sobre o assunto. Se possivel, ai deixo o meu endereço:
hiansen@hotmail.com
padre Hiansen Vieira Franco
Postar um comentário