PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (60)

ALGUÉM AÍ JÁ REPAROU NA EXISTÊNCIA DE UM ARTISTA SALTINTANTO DE MURO EM MURO PELA CIDADE?

Desde ontem nas andanças pelas ruas bauruenses eis que me deparo com uma enxurrada de grafites bem sacadas, dessas que te fazem dar aquela paradinha e observar mais atentamente a mensagem ali postada. Essa grafia é velha conhecida do bauruense, mas não sei quem é o autor e nem sei se deveria escarafunchar em busca de descobrir a autoria dos escritos. O fato é que elas estão espalhadas pela cidade toda, tanto que fotografei uma por achá-la legal e na seqüência me deparo com outras tantas, ou melhor, uma atrás da outra. Daí me vejo fotografando algumas delas para postar junto a esse texto e é o que faço nesse momento. A primeira a gente nunca esquece. Dessa nova safra, acho que mais recente, a que me chamou a atenção em primeiro lugar foi a quando subo a Antonio Alves e virando a aviador Gomes Ribeiro, na esquina com a Saint Martin tem essa sobre a causa da Palestina e o chamamento para o que Israel e os EUA fazem ali de declarada insanidade. Possibilita ótima reflexão.

Lembro que ano passado ou até antes a Camila Turtelli, dos seus tempos ainda de Bom Dia Bauru havia me perguntado se sabia algo de algumas inscrições nas paredes de Bauru, todas com o mesmo formato, tendo um coração junto. Nada sabia, ela já algo. Nem sei se acabou publicando a matéria, mas se não me falha a memória a daquela época é da mesma pessoa. Bom que continue antenadíssimo com algo sobre a necessidade de estar atento, contrário a uma massificação doentia em curso nos dias de hoje e tentando exorcizar ou mesmo por para fora uma insatisfação que, na maioria das vezes não encontramos lugares adequados para expressá-las. E por que não nos muros? Sim, eles estão aí também para isso. Percebo que a grafite desse desconhecido autor não é feita em qualquer lugar. Pelo que pude perceber os lugares são escolhidos a dedo. São tapumes, muros de casas abandonadas, fechadas e lugares que passarão por recente reforma. Fique tranqüilo, ele não vai pintar o seu muro se perceber que a casa está ocupada (acho, viu!) e com gente morando. Não é isso? Não confundam o que vejo com marginalidade ou coisa parecida. Vejo arte feita e com critérios. Muito critério e também rebeldia.

Algo mais me intriga nas grafites. Numa delas, bem ali na esquina da Prefeitura, onde antes era uma agência dos Correios e hoje está toda tapunada, tem algo intrigante ali escrito: “I Semana da Intervenção Urbana nos Muros”. Gostei, mas me digam quem souber algo: O que vem a ser isso? Onde ocorre? Já está rolando? Aguardo a colaboração de gente mais antenada que eu nessas coisas das vielas e possibilidades urbanas para me auxiliar a desvendar algo sobre como podemos dar também o quinhão, como a desse velho marujo sobre isso de muros e inscrições múltiplas e variadas. Para finalizar, avalio que a cidade ficou mais bonita com o que vi e li em suas paredes entre ontem e hoje. Não faço apologia a nada, pois o cara é criterioso e assim sendo, merece elogios. Ele corre seus riscos para nos brindar com algo inteligente. Em primeiro lugar sua grafia é das mais legíveis (linda!), bem redondinha, aliada a um traço gracioso, charmoso e na junção final, tudo culmina com boas idéias. Sim, ele é uma pessoa iluminada. Iluminou a cidade e hoje em vários congestionamentos onde me meti, lá estava com o braço para fora do carro e fotografando algumas dessas temporárias inscrições, antes que sumam com o vento.

Quem souber algo mais conte aqui, mas não precisa revelar o nome de ninguém. Dedo duro é coisa mais que feia. Fiquemos na subjetividade.