sábado, 18 de julho de 2015
DROPS - HISTÓRIAS REALMENTE ACONTECIDAS (119)
AS HISTÓRIAS E ALGUMAS DECEPÇÕES DE ZANELO – A AJUDA AO PRÓXIMO Luís Gomes da Silva, 63 anos, o popular fotógrafo ZANELO vivendo do ofício de freelancer, sempre da arte fotográfica e até mesmo de alguma cantoria feita em duplas sertanejas e apresentações pela aí, além de prestar serviço em programas radiofônicos. Um mambembe no cenário bauruense. Pedi para ele passar aqui pelo mafuá e me contar em detalhes algo de algumas de suas inconclusas (e qual terminamos?) histórias. A das tantas vezes em que para tudo e se volta a praticar alguma ação social em prol de algo no qual entende pode ajudar, dar o seu quinhão de mão estendida. Estava um pouco confuso e trocamos confabulações, agora compartilhadas com tudo, todas e todos. Não diferem muito das minhas e de tantos outros.
Certa feita encontrou um mendigo na rua Gustavo esquina com Rodrigues, muito sujo, casco nas mãos, pele grossa e puxando conversa, descobre algo mais dele. “Alguma coisa me diz que você já foi atleta ou participou de algum esporte? Sim, ele me disse ter caído nesse mundo das ruas por causa das drogas. Quando criança sonhava ser jogador e conseguiu se aproximar do sonho, foi ser gandula e aprovado numa peneira dentre tantos meninos. Ficou num alojamento para fazer exame médico e na sequência, uma noite antes, aceita um convite para sair na rua e se divertir. Encontrou umas pessoas erradas e consumiu drogas. Perceberam isso, que estava jogando sob efeito de drogas e me dispensaram, quando tinha tudo para prosseguir carreira. Tinha perdido minha mãe, sabia que a bola mudaria minha vida, mas fui fraco e fiquei sem rumo, perdi tudo, comecei a viver na rua”, conta.
Conta mais. “Eu o encontrei na rua naquele dia e disse que iria ajudá-lo. Propus a ele arrumar um kit com objetos pessoais para dar uma nova roupagem nele. Devido ao estado em que se encontrava ninguém abriu as portas para fazer sua higiene, pois tinham medo de serem contaminados. Igrejas, postos de combustível, ninguém emprestou sequer água de mangueira. Uma escola de aprendizagem de corte de cabelo, duas quadras para cima da Rodrigues, ali na Antonio Alves de inicio recusou, mas devido a minha insistência aceitaram se eu fizesse a guarda dos minutos em que ele estivesse tomando banho. Após tudo feito, foi motivo de aplauso por todos, pois ele saiu impecável, limpo. Fiz isso, ele recebeu um kit de roupas, a própria escola contribuiu com mais. Saiu de lá vangloriado, mas não consegui mais que isso e continuou nas ruas”.
A sua decepção ocorre depois disso, alguns dias após. “A minha intenção era arrumar sua documentação e fazer algo mais para tirá-lo da rua. Dias depois o encontrei na mesma situação de antes, sujo e sem aquelas roupas, nada do que havia lhe arrumado estava mais com ele. Voltou ao convívio da rua. Ele foi roubado em todas suas coisas e estava só com a do corpo. Perguntei por que não quis dar prosseguimento na minha proposta de lhe ajudar? Ele deu a entender que se ficasse como antes seria melhor, pois continuaria recebendo doações das pessoas e que, na convivência das ruas a lei é sempre a do mais forte. O mais forte toma do mais fraco, foi o que aconteceu com ele. Havia tirado até fotos três por quatro dele, mas não quis que fosse regularizar seus documentos. Nem sequer me deu o nome, só contou sua história de vida, sofrida, dolorosa, mas mesmo propondo levá-lo a algumas instituições onde tinha feito contato, recusou tudo e preferiu continuar vivendo sujo e nas ruas.”
“Tentei ajudar outro cidadão e só de conversar com ele, para primeiro conhecer a sua história e depois ver como podia ajudar, ele se afastou me dizendo que o estava prejudicando, pois perdia tempo comigo, enquanto poderia continuar pedindo e ganharia mais com isso. Estávamos defronte a ITE, ele todo sujo, degradado, barba toda grudenta e só de bater os olhos vi que havia tido outra vida, que veio para as ruas por causa de algum motivo e me propus a ajudar, mas ele recusava, rejeitava minha presença. Não queria reviver seu passado, algo querendo esquecer, talvez por algo feito e com sua identificação poderia ser reconhecido e isso lhe causaria problemas. Mais um que preferiu continuar vivendo nas ruas, mesmo também tendo ido procurar lugar para seu abrigo. Se a gente for analisar o ser humano, como tem desigualdade, fico surpreso e somos felizes e não sabemos. Quero fazer boas ações, mas as vezes ocorrem barreiras. Vejo essas situações e quero fazer o bem, mas não sei muito bem lidar com isso tudo”, continua me contando.
“Se eu ver alguma coisa nas ruas, eu passando com minha moto eu continuo me tocando, paro e vou conversar, ver no que posso ajudar. Chego a doar algo meu para fazer a pessoa feliz. Doei outro dia um paletó, dos únicos que tenho e para uma pessoa se sentir mais feliz, poder com ele ir para sua igreja. Não vou parar, são coisas minhas que me incomodam e não falo para ninguém, mas como você se interessou e tocou no meu coração estou falando. Queria poder compreender mais o ser humano, entender de alguns motivos que o levam a fazer algo e abandonar outros. Estendo minha mão, faço o que posso, mas algumas vezes chego a achar que faço de forma não muito certa. Mas qual a forma certa? Vejo alguém com necessidades, isso me toca profundamente e não consigo me manter indiferente, passar por eles e sem ao menos tentar fazer algo. Algumas vezes me coloco no lugar deles e daí quero fazer algo, mas nem sempre consigo”, concluiu.
Conversamos muito. Parei o que fazia, trocamos longa conversa. Eu, aqui onde fico boa parte do dia, beirada dos trilhos hoje praticamente abandonados, centro velho deteriorado, albergue e rodoviária, passo pelos mesmos problemas. Infinidade de gente circulando sem eira nem beira nas imediações. Muitos batem no portão, atendo, ouço, faço algo e depois, voltam e voltam, como se ali estivesse um porto seguro. Essa repetição, esse contínuo retorno me incomoda, não por não querer ajuda-los, mas por não saber como e não ter recursos suficientes para fazê-lo a contento. E o que fazer diante desses todos que rotineiramente voltam buscando algo mais de ti? Como não maltratá-los mais do que já o são? Zanelo não os ignoras, muito menos eu, mas somos parte dessa engrenagem esmagando o ser humano, dilacerando relações e pouco sabemos de como tratar adequadamente isso tudo. Acreditamos fazer o certo, mas o que é o certo e o errado? Não sabemos direito, mas enquanto isso, continuamos fazendo algo, mesmo sendo pouco demais, insignificante e até não ajude em nada para a solução do problema maior. Eu e Zanelo estamos um pouco perdidos diante desse imbróglio.
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Um comentário:
COMENTÁRIOS VIA FACXEBOOK:
Marcia Elvira Grande Zanelo,ele nao desiste nunca...
Descurtir · Responder · 1 · 18 de julho às 19:17
Dalva Aleixo Grande Zanelo, alma boa! Grande amigo meu! O conheci na época da Delegacia Regional de Cultura, como violeiro, fotógrafo e pai zeloso de uma menina linda, de rostinho redondo e cheia de cachinhos. Ela tinha um problema em uma das perninhas que ele resolveu com médicos e santos. Se não me equivoco foi o Laranjeira que fez a escultura que, depois da cura, foi entregue na sala de ex votos na Catedral de Nossa Senhora da Aparecida, na cidade de Aparecida do Norte. Um ônibus que levou violeiros bauruenses para uma apresentação na Rádio Aparecida levou também a réplica da perna da filha do Zanelo, para agradecer a cura. Valeu!!
Descurtir · Responder · 4 · 18 de julho às 19:54 · Editado
Henrique Perazzi de Aquino Que linda história, essa não sabia... Gosto muito dele e de sua simplicidade.
Curtir · 1 · 18 de julho às 22:17
Dalva Aleixo Ele é uma doçura sim. Muito boa gente mesmo! Alma de passarinho!
Descurtir · 1 · 18 de julho às 22:47
Henrique Perazzi de Aquino Essa éa melhor e mais adequada forma de o denominar, achei lindo: ALMA DE PASSARINHO.
Curtir · 2 · 18 de julho às 23:05
Henrique Perazzi de Aquino
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Maria Cristina Romão Quando alguém esta numa situação muito adversa, o que você fizer por ele, de coração, terá um imenso valor, por isso eles voltam, sabe que ali existe um amigo.
Descurtir · Responder · 3 · 18 de julho às 20:23
Jaime Prado AIi esta mais um Franciscano em Bauru, parabéns amigo Deus sempre nos apoia com as suas misericórdia sei muito bem o que é isso, sou voluntário do Morhan Nacional nas causas dos portadores da Hanseníase . Jaime Prado - Bauru/SP.
Curtir · Responder · 2 · 19 de julho às 10:39
Gilberto Truijo GRANDE ZANETE, TIROU FOTO EM MEU NOIVADO.
Curtir · Responder · 2 · 19 de julho às 10:41
Jaime Prado Amigos e amigas é na simplicidade das pessoas que encontramos as verdades, não analizamos pela roupa que veste: Cristo foi um anadarilho porém é Criador deste Universo que chamamos de Planeta Terra. Jaime Prado - Bauru/SP.
Curtir · Responder · 2 · 19 de julho às 10:42
José Eduardo Zé Loca Gol Esse cara sempre fez um excelente trabalho
Curtir · Responder · 1 · 19 de julho às 10:49
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