quinta-feira, 2 de julho de 2015

PALANQUE - USE SEU MEGAFONE (73)


O QUE ME MOTIVA A ESCREVER E VOLTAR A ESTUDAR

Queria escrever um pouco sobre as escolhas. Cada um faz as suas. Prefiro continuar seguindo as minhas, as que me conduziram até aqui. Eis o que me move e quando decidi aos 54 anos voltar a pensar em fazer um Mestrado, foi exatamente para me aprofundar em escritos baseados nas premissas abaixo. Delas não me afastarei, pois me movem. Entendam um bocadinho do que vai pela minha cabeça e o que me guia lendo algumas das citações de meus primeiros trabalhos acadêmicos:

“Tanto os pobres como aqueles que são o objeto da dívida social, os quais já foram incluídos e, depois, marginalizados, acabam por ser o que hoje são, isto é, os excluídos. (...) Agora estamos diante da pobreza nacional e da dívida social nacional da ordem internacional. Elas aparecem como se fossem algo fixo, imutável, indeclinável, quando, como qualquer outra ordem, pode ser substituída por uma ordem mais humana”, Milton Santos.

“Os pobres e miseráveis, as beiradas ou as franjas da sociedade, não são pautas frequentes no jornalismo. Mas alguns jornalistas quebraram essa regra e decidiram que a parte marginalizada da sociedade deveria sim aparecer em jornais e revistas como uma parte necessária e digna de ser mostrada a todos. (...) ...eram excluídos, sujos, feios, justamente aqueles que passavam longe das páginas de jornais e revistas. Eram as beiradas da sociedade que forneciam o combustível para a motivação da escrita de João Antônio. (...) ...focando o jornalismo na sua fronteira com a literatura. (...) ...para mostrar uma temática deixada de lado nas pautas da redações. Assim como ele, as suas principais fontes perambulavam pelo cenário urbano brasileiro de chinelos de dedo, camiseta cavada, cabelos desgrenhados. Eram desempregados, faziam biscates pelas esquinas das grandes cidades, não tinham certeza da sobrevivência no dia seguinte. Um grupo que, de fato, não interessava como fonte no jornalismo da época, a partir de conceitos como valores-notícia, por exemplo”, professor Luiz Fernando Assunção foi um deles e na obra “Jornalismo de Beiradas – A transgressão no processo produtivo e criativo do jornalista João Antônio.

“Escrever é um ato de coragem e humildade. Não estou, pois, para truques. (...) A vida foi me dando porradas, me dando, até que aprendi a escrever em qualquer canto. Sem precisar de quarto ou de casa. Qualquer boteco é lugar para escrever quando se carrega a gana de transmitir. Gana é um fato sério que dá convicção. (...) Escrever é outra dimensão e é única comunicação de verdade com o mundo porque falando com as pessoas, eu não me consigo transmitir. E quando tento... (...) Mas tenho esperanças. Tenho levado castigos mas tenho esperanças. Um malandro, meu amigo, dizia: - A gente caí, a gente levanta, na queda já se aprendeu. Pode ser que ali na esquina a gente dê uma sorte”, palavras do próprio escritor João Antonio numa das apresentações de sua mais conhecida obra, Malagueta, Perus e Bacanaço.

Empresto um livro para minha querida irmã Helena e ela antes de me devolver, saca uma frase do seu autor, Marcos Rey e sugere de semelhanças com o que faço. Fico lisonjeado e a reproduzo aqui, pois quando notam isso, a percepção de que pelo menos para algo isso tudo está valendo. "Sou um artista distrital: Saio a fotografar avenidas, alamedas, travessas, becos, multidões e pessoas, principalmente. Gente que sorri, francamente ou para disfarçar suas dores, que enfrenta o mundo ou que se esconde. Não faltam neste álbum alguns idealistas, mas o que mais fotografei foram boêmios, marginais, injustiçados, cínicos, cafetinas, e daí fui tirando meus personagens de ficção.". Foi retirada da entrevista do autor nas páginas finais do livro A Arca dos Marechais.

Já dá para entender um bocadinho do que venha a ser esse HPA. Minha fonte é essa e mais um pouco de João do Rio, Plínio Marcos, Charles Bukowski, Kerouac, Lima Barreto, Fausto Wolff, Aldir Blanc, Octávio Ribeiro, Michael Moore e até de Jack London. Isso tudo aí junto e também muito misturado deu no que deu: esse HPA!

Um comentário:

Anônimo disse...

Ahhhhh mano querido é isso mesmo ....gostamos do improvável, td que está fora da mesmice, o escondido e tão as claras que pessoas normais não conseguem enxergar ....rsss.... beijos querido .... ahh... teu livro tá aqui ....prontinho pra voltar pra tua casa ....hehehehe
Helena Aquino