Ontem, sexta de chuva, lá no salão ao lado da casa do Lázaro Carneiro. Umas poucas fotinhos tiradas por mim e amanhã, se der tempo, a reprodução do texto que escrevi para o dito cujo homenageado. Fui chamado ao palco e levei pronto uma colinha, o texto pronto, lido por mim e escrito para esse grande homem defensor não só do cerrado (ontem foi seu dia), mas defensor da luta do homem do campo, do homem que é massacrado por essa sociedade capitalista, cruel até a medula. Como é bom ainda existirem pessoas iguais ao Lázaro. Fico a me pensar o que seria do mundo sem essas diferenciadas pessoas. Fui lá e sai com a alma lavada, conversas colocadas em dia.
ANJO TORTO – FICOU GRANDE SEM FICAR BOBO*
*escrito em 11.09.2015 e lido no evento SARAU ARTE EM CANTO, no Dia do Cerrado e atendendo a solicitação da organização, essa minha modesta homenagem ao grande poeta e pessoa humana Lázaro Carneiro. Escrito de uma só talagada e sob inspiração de Carlito Maia. Lá vai e tudo num só parágrafo:
"Lázaro não é socialista para exorcizar nenhum demônio que a sociedade capitalista impõe a ele. Esse não é fariseu, é um aflito. Sua sensibilidade o faz absorver tudo quanto abala a liberdade de todos. Inquieto por natureza. Essa convicção beira o absurdo e é contraditório ou difícil de ser entendido por quem, como a maioria de nós, vive em função de um catálogo de procedimentos, normalmente apoiado em conveniências.
Esse aqui já superou isso tudo, aliás, vive num estágio acima disso tudo. Desse eu cobro coerência, pois a tem de sobra, o que falta, infelizmente, em quase tudo à sua volta nesses bicudos tempos. Coerência de viver pobremente à moda Mujica. Lázaro venceu na vida perdendo. Enquanto todos lutam como doidos para amealhar mais e mais, ele se contenta com o que tem. Uma baita de uma sorte em ser o que é, conseguir tocar o seu barco, cavar seus espaços nesse competitivo mundo. Eu o resumo numa frase dita por outro igual a ele, Carlito Maia: “Faço tudo o que você quiser, se eu quiser”; Com tipos iguais ao Lazinho não adianta quere convencê-lo de mais nada, pois sua declarada caipirice já o fez experimentar de tudo. Não cai mais no conto do vigário, até porque dificilmente entra numa igreja. Perdeu as papas na língua e mesmo no inferno da realidade atual, quase sempre desfavorável a Quixotes como ele, faz o que quer, quando quer, onde quer e entre seu seleto grupo de amigo, como esse aqui reunido. Suas tiradas são um deleite para quem ainda aprecia a palavra dita com sapiência, na exata medida, quase sempre sem que o oponente consiga rebater. Oscar Wilde certa vez disse que “sonhador é aquele que percebe a aurora antes dos outros”. Quer melhor definição para esse matuto? Máximo Górki é um deles com: “Não vim ao mundo para me resignar”. Resignado esse danado não é nem um pouco. Esse seu jeito, desses que me encantou desde que li seu primeiro escrito, bati o primeiro papo, fizemos juntos a primeira caminhada é como a dita numa outra frase, essa de um autor que não me lembro do nome: “Uma vida não é nada, com coragem pode ser muito”. Como eu gosto dos corajosos, os que remam contra a maré. A turba toda indo para um lado e o gajo insistindo em continuar ao contrário. Jamais pôs sua alma a leilão. É desses que não está à venda, daí é bom nem tentarem fazê-lo, pois verão que a resposta será danada de doída. Para mim esse distinto senhor é um contrabandista de gente, produtor de fugas, alcoviteiro de guerrilheiros, semeador de esperanças, provocador de inteira pataca. Quando aciona sua metralhadora palavratória, frases e citações só dele, faz da ironia uma arma capaz de derrubar prepotências e denunciar safadezas. Não o convidem para ficar em cima do muro, pois seu negócio é opção e ação. É o meu melhor exemplo de um fracassado bem sucedido. Lázaro sabe melhor que ninguém que a luta hoje é entre os sem terra e os sem vergonha (essa mais uma frase de Carlito). É o meu homem. O danado diz tudo em uma frase, coisas que eu não consigo dizer num livro inteiro. Viva Lázaro!"
MINHA ESCREVINHAÇÃO SOBRE O NOROESTE, O VERMELHINHO QUE DE VEZ EM QUANDO SATISFAZ
A ida ao estádio hoje foi, como já o fiz muitas outras vezes, num jogo onde o ganhar era o único resultado possível. Nem sempre ele ocorre quando diante de tanta necessidade, mas hoje correu tudo bem. Levamos uns sustos, mas noroestino é bicho forte, calejado ao longo de mais de cem anos de labuta. Tiramos o dia de hoje de letra. Mais uma contenda perigosa, contra um time que não me lembro de nunca ter visto antes um jogo, o Lemense (de que lado fica mesmo Leme? Perto de onde?). Ambos os times com um ponto da tabela, quarta rodada e quem perdesse, praticamente dizendo adeus á competição. Ganhamos. Suamos um pouco a camisa, mas depois de causar certa revolta na galera que estava no campo, o resultado fluiu bem, confirmamos o artilheiro da competição e a galera saiu satisfeita. No histórico do jogo mais de 1100 torcedores, renda de pouco mais de onze mil reais, mas no campo mesmo umas quatrocentas pessoas. Os abnegados de sempre. Vejo sempre um ou outro que vai pouco ao campo. O divertido para mim é ir reencontrando as pessoas, fotografando e falando. Hoje, por incrível que pareça, duas pessoas me procuraram e disseram que ainda não os havia fotografado. Pois bem, o fiz. Meus registros saem aqui publicados.
A chegada ao campo é sempre um barato. Marco horas antes, hoje comJosé Eduardo Zé Loca Gol), no bar ali na rua de cima, mas sempre chego em cima da hora. Hoje, faltando uns dez minutos. Na esquina da benedito Eleutério é onde compro meu ingresso com o pessoal Torcida Sangue Rubro. Fiquem sabendo, eles não são cambistas, eles vendem pelo mesmo preço do guichê e o fazem para ajudar o time. Recebem uma cota e ajudam o torcedor como eu que chega sempre em cima da hora. Hoje estavam lá Jose Roberto Pavanello Silva e o Cesar Melleiro, que agora é figurinha difícil nos jogos, pois mudou-se de mala e cuia para Brasília DF e aparece por aqui muito de vez em quando. A gente para ali para papear na esquina, o primeiro enrosco e quase perde o começo do jogo. Aliás, essa turma deve perder todos os começos de jogos.
Parte coberta liberada, sento junto do primão Eduardo, lá da White Martins e do lado um trio de gente do antigo Itaú, todos aposentados e noroestinos. Dentre eles destaco o Washington (esse aqui me aparece com uma camisa do Santos da cor da do Marília) e o Jesus, esse o único com uma camisa do Noroeste. Assisto o primeiro tempo ali, sentadinho e bem comportado, tirando poucas fotos. Umas poucas de alguns torcedores de costas. Na hora do intervalo é inevitável o bate papo lá na barraca da Avante Norusca, onde o Nilton Santos bate cartão, o Gustavo Lopes e outros.
Brinco com o Cesar Melleiro que havia praguejado contra o novo técnico, o Vitão, dizendo que era muito retranqueiro. Daí ele foi explicar e piorou tudo. Melhor deixar do jeito que está.
No segundo tempo adentro o lado de lá das cobertas, mais perto da Sangue e o Zé Loca vem assistir o jogo boa parte do meu lado. O cara enxerga futebol muito melhor que eu e ficamos ali curtindo os gols perdidos, o empate que quase esmerdalha tudo e depois os gols que vão naturalmente pintando. O Vitão, quer queiram ou não, acertou nas substituições, pois dois dos que colocou em campo no segundo tempo fizeram gols. E mais, temos o artilheiro do campeonato. Um luxo. Quanto ao jogo, tenho a dizer que não foi mais do que obrigação ganhá-lo, pois o fizemos do último colocado do grupo. Não jogamos tão bem assim, mas ganhamos e nossas chances continuam vivas. Esperanças renovadas, mas com um pé atrás, pois temos muitas pedreiras pela frente.
Esse meu jeito noroestino de ver as partidas lá no Alfredão. Uma boa noite a tudo, todas e todos.
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