sábado, 2 de janeiro de 2016

MEMÓRIA ORAL (192)


ESSAS MULHERES MARAVILHOSAS – AQUI QUATRO DELAS PARA COMEÇAR O ANO

1.) ANA MARIA DAIBEM, UMA PROFESSORA NA ETERNA RESISTÊNCIA
Ao buscar um nome para iniciar os escrevinhamentos dos personagens nesse novo ano que se inicia, labutei muito, pois queria encontrar alguém, considerado por mim, além de conselheiro, mentor, uma cabeça como poucos na cidade. Alguns desses já estão aqui retratados nesses quase 800 escritos e dentre todos os nomes que pipocaram em minha agitada e intranquila mente, eis que surge um hour concours no quesito, não só Lado B, mas sapiência para saber superar os entraves desses agitados tempos. A fleuma em pessoa, o pensamento bem colocado, na medida e momento exato. Não podia dar outro nome.

ANA MARIA LOMBARDI DAIBEM é professora universitária aposentada, onde militou por décadas na Unesp Bauru. Tranquila da boca para fora, calma em quase tudo o que faz, gestos comedidos, é dessas que parece fazer tudo milimetricamente de caso pensado, bem refletido. Acredito ser isso mesmo, mas no quesito linha de pensamento não abre mão da justeza social, de estar sempre ao lado da incessante luta por dias melhores das camadas deixadas de lado quando da divisão do bolo brasileiro, do injusto sistema vigente. Além de professora, foi também por certo período Secretária Municipal de Educação de Bauru, administração Tuga e soube administrar, sem se deixar sair do tom necessário e justo ao lado das reivindicações de alunos e de uma categoria clamando sempre por algo mais representativo. Esposa do também professor e falecido militante político Isaías Daibem, ambos católicos sociais (ou até socialistas católicos), vivenciou a pluralidade de opiniões no seio de sua casa desde sempre. Nasceu em Corumbá, mas desde muito cedo em Bauru, graduada em Pedagogia pela FAFIL, hoje USC, depois Mestrado em Piracicaba e doutorado em 1998, pela própria Unesp, milita na Educação desde quando iniciou suas atividades profissionais até o momento da aposentadoria, quando coordenava o NEPP – Núcleo de Estudos e Práticas Pedagógicas da Unesp, ligado à sua Pós Graduação. Se existe alguém com uma fleuma maior que a dela, desconheço e diante de tão aflitivos momentos como os de hoje, puro confronto, onde de um provável debate pipoca uma agressão raivosa, Ana é dessas que sabe tirar de letra isso tudo, pois não entra em divididas desnecessárias com quem não vai lhe acrescentar nada. Prefere fazê-lo, e o faz, com aqueles (as) todos com ainda garrafas vazias para vender. Deixa o ódio para quem tem, preferindo nunca ampliar espaço a esses, além do que já possuem. Melhor forma de encarar isso, só com ela mesmo. Pois então, nada como começar 2016 compreendendo melhor isso tudo e tentando fazer uso dessa magistral forma de ação. É o que tento fazer a partir de agora, não copiando nada, mas usufruindo de ensinamentos que farão tão bem, não só a mim, mas para todos à minha volta.

2.) ANA GUEDES SEMPRE COM POSICIONAMENTOS FIRMES E DECIDIDOS
Ontem escrevi aqui de uma grande professora bauruense, uma resistente dentre tantas outras, valorosa, talentosa e enfrentando admoestações por causa de suas escolhas (assim como Chico Buarque), algo bem longe do jeito manada de hoje em dia. Escrevo de uma e me vêm logo à cabeça outras tantas. Daí já quero escrevinhar delas todas. Seleciono três, uma ontem, outra hoje e mais uma amanhã. Poderia ficar aqui só relembrando de tantas, muitas já aqui retratadas e isso até daria um livro. Mulher quando dá de resistir, de enfrentar touros á unha dão um banho em muitos homens. Vejam algo dessa aqui.

ANA MARIA DE CARVALHO GUEDES é professora de Literatura. Cursou Letras na antiga e saudosa FAFIL, hoje USC. Escrever dela é relembrar tanta coisa da própria história dessa cidade. Deu aula numa pá de lugares por aqui e quando sai às ruas é praticamente impossível não ir encontrando ex-alunos, eternos admiradores. Papo dos mais agradáveis, sempre na lida, uma voz caliente e altaneira. Não esconde a idade, nascida em 1947, hoje está com bem vividos 68 anos. Aposentada, mas ainda atuante, saudade mesmo deve ter da Oficina Glauco Pinto de Moraes, pois foi sua primeira coordenadora, de 1990 a 1994. Foi talvez a sua mais rica época, com a cidade recebendo cantores da vanguarda brasileira nas instalações onde hoje é o Teatro Edson Celulari (de pouquíssimo uso, diga-se de passagem). Casada com o Zé Guedes, numa história de mais de 50 anos de convivência, Ana possui trajetória em defesa da educação e nos últimos tempos, com o florescer de uma malta de raivosos, está na frente de batalha contra irados golpistas e defensores de impedimentos para uns e endeusamento para outros. Rodeada de filhos e netos, encontra sempre tempo para expor suas opiniões sobre o atual momento. Algo aqui da força do seu pensamento e forma de agir: “Clamar a volta do regime militar é, indiscutivelmente, coisa de doentes mentais, assim como cultuar os ISTEITES, como podemos presenciar, com frequência, também denota pequenez em termos de cidadania. (...) Mais extremista de direita que o PSDB hoje só os Bolsonaros da vida. (...) Eu acho que nunca se deve negar as várias contribuições de cada pessoa que passa pelo poder. Anular as contribuições passadas e, principalmente, as que deram novo impulso à cidade, é o que mais me desagrada. Eu acho muita ingratidão, é não ter capacidade de enxergar as coisas que foram feitas. Para mim, essas pessoas que não querem enxergar, talvez, não tenham sido educadas para isso, ou muitas vezes, é má-fé mesmo. Não digo que essas pessoas deveriam ter apanhado de cinto, mas uns tapinhas na bunda, elas mereciam!”. E se faz necessário dizer algo mais?

3.) PROFESSORA MARIA CECÍLIA NÃO SE CANSA DE QUERER ENSINAR
Acabo de ver pelas redes sociais uns boçais abordarem Chico Buarque com aquela ladainha de doer os ouvidos, cobrando dos motivos dele continuar sendo o que sempre foi e defendendo o que fez uma vida inteira. Misturam alhos com bugalhos e acham que só eles, os que pensam de um determinado jeito e maneira estão corretos. Não aceitam a pluralidade de opiniões e na fala de argumentos, quando se veem num beco sem mais respostas, a saída é a agressão. Agridem que é um beleza e assim demonstram o irracionalismo desses tempos sem diálogo, o do convencimento pela força, enfim, “não acredito que você possa pensar e agir diferente de mim”. Pensando nisso lembrei-me de uma mestra e aqui conto sua história.

MARIA CECÍLIA MARTHA CAMPOS é professora, hoje na UNIP, socióloga por formação, coordenadora do Curso de Comunicação Social naquela instituição. Da militância no movimento estudantil, lendo gente do quilate de Celso Furtado e Caio Prado Junior, caiu de boca na dureza do período militar. Participou da Libelu - Liberdade e Luta e da criação do PT. Uma cabeça pensante, pulsante e contagiante, não só pelo que pensa, mas pela forma como age. Viúva do também sociólogo José Ralph de Oliveira Campos, avó, aos 68 anos, essa não tão velha mestra é baluarte na defesa das liberdades democráticas, entendida de semiótica e sempre pronta para o bom debate, não o irracional, mas aquele em que consiga e possa acrescentar, somar, construir, sem essas altercações com os que chegam com uma ideia preconcebida e não aceitam muda-la nem um centímetro sequer. Em 2008 deu um bela entrevista para o JC, podendo ser lida clicando a seguir: http://www.jcnet.com.br/editorias_noticias.php…. Li uma resposta dada por ela sobre a falta de verde-amarelo nas manifestações contra o golpe e o impedimento da presidenta e de tão lindo aqui transcrevo: “No meu entendimento, a nossa bandeira verde e amarelo figura junto às demais, de todas as cores e feitios, na base de um fundo vermelho que as une num só fundamento de classe social, pelo mundo inteiro”. Pelo simples fato de agir assim, não concordar com a linha vigente do pensamento único chegou a ser taxada de comunista, como se isso fosse a pior das coisas. Pessoas como Maria Cecília dão belas lições de como proceder no debate nesses inóspitos tempos. Isso tudo ela aprendeu de uma longa convivência com intermináveis leituras e muita prática de vida, o que falta na maioria dos fechadores de questão de hoje. Por ser o que é, merece hoje o abraço de fé dos que acreditam que algo ainda pode ser feito para modificar e abrir a mente de tantos com ela quase fechada.

4.) LUELUÍ DE ANDRADE MARCANDO POSIÇÃO POR ONDE CIRCULE
Queria homenagear nesse quase final de semestre letivo lá no meu mestrado na Unesp Bauru pelo menos um dos colegas de bancos escolares. São tantos e tantas. Muitos daqui mesmo e escolhi uma pela vivência que possui desde tempos vindouros, batalhas de antanho nunca abandonadas e hoje, quando muitos deixam a cancha de luta, se escondem por detrás de tanta coisa e não mais lutam por aquele ideal que um dia defendeu, prefiro continuar enaltecendo os que, mesmo com todas as voltas dadas pelo mundo lá continuarão nos seus postos, prontos para o que der e vier. No caso da aqui retratada, vejo e constato, com muito mais preparo. Continua na boa lida.

LUELUÍ DE ANDRADE é militante de tantas causas sociais que nem saberia enumerar todas. Ou até pelo fato de que todas no frigir dos ovos acabam por se tornar uma só grande causa. As lembranças que tenho dela é no bom combate, nos enfrentamentos, desde a época quando bancária, atuando lá no Sindicato dos Bancários. Pouco tempo depois estava na Secretaria de Cultura e ali também souber deixar plantada boas sementes. Sempre a vi na militância de esquerda e outro dia, ela me dizia de sua formação: “Vivenciei meu momento de crescimento entre dois amigos, um trotskista e outro stanilista. Acabei extraindo algo de cada um e segui num caminho independente”. E assim segue até hoje, dois cursos superiores concluídos, o de Direito e Jornalismo, dez anos atuando na Justiça Federal, solteira e bem ciente de suas escolhas e opções. Num certo momento começou também Farmácia Bioquímica na USC, mas esse, mesmo após um ano e meio preferiu parar. Hoje está no Mestrado em Comunicação e sempre colaborando com amigos de indispensáveis causas, como na revenda das transadas agendas do pessoal do PSTU, cheias de citações literárias em suas páginas (comprei uma, linda). Num dos últimos dias de aula em uma das disciplinas chegou travestida com um personagem ao estilo teatral (foto) e se fazendo passar pelo mesmo, deu um show de interpretação e de compreensão da temática solicitada. Um inquieta menina, cheia de muito gás.

2 comentários:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS SOBRE ANA MARIA DAIBEM 1:

Daisy Villaça Uma grande mulher !!

Catia Luciana Dias exemplo de tudo: profissional, ser humano, mãe, amiga

Cice Baraldi Rovaris Henrique Perazzi de Aquino vc consegue ser mágico com as palavras...mas o que me encanta ,nas suas crônicas, é que SEMPRE assino embaixo. ..concordo, aplaudo e faço minhas suas palavras...os homenageados são meus amigos queridos, atuando em diferentes áreas , mas estão guardados dentro do meu coração. ..Adorei como sempre ...a Ana é mesmo uma linda...como o Ze Canella, Vanderlei Lenharo, Ana Maria De Carvalho Guedes, enfim...sou sua fã!!!!

Cice Baraldi Rovaris Ah e só hj , apesar da nossa amizade de décadas, soube que a Ana nasceu em Corumbá..pode isso????? Kikikiki

Helaine Nogueira · 77 amigos em comum
Foi minha professora sempre a amei de paixão grande . Mulher mil beijos dona Ana querida

Marcia Magoga Cabete · 31 amigos em comum
Muito legal,descreveu a professora Anã Maria Lombardi Daibem perfeitamente.

Helena Aquino Veja isso Adalberto Retto Jr ....

Ana Maria De Carvalho Guedes Henrique Perazzi de Aquino, parabéns, parabéns, parabéns!
Você descreveu ANA MARIA LOMBARDI DAIBEM magnificamente. Trata-se da uma das Grandes Mulheres, Mestras, Cidadãs com quem, nós, bauruenses, temos o privilégio de conviver.
Um novo ano a todos que têm a MANIA DE LUTAR POR UM MUNDO MENOS DESIGUAL.

Alexandra Ayello Ana Maria Foi minha professora/educadora no magistério . Um exemplo de pessoa culta, amorosa,generosa. Sinto muito amor e gratidão pela oportunidade que tive de conviver com ela. Te amo de coração Ana Maria . Beijos e i desejo que esse ano seja Sensacional

Carlos Roberto Pittoli O q poderia dizer além do q já foi dito?

Cice Baraldi Rovaris Né??????

Marcia Magoga Cabete · 31 amigos em comum
Nada né

Maria Cecilia Martha Campos Ate hoje só tive a satisfação de conhecer a Ana Maria Lombardi Daibem por vias indiretas, por noticiário dos jornais sobre sua atuação. E hoje, o relato que você apresentou, uma descrição magnífica, como disse a Ana Maria De Carvalho Guedes, fiquei lastimando nunca ter tido a oportunidade de encontrá -la pessoalmente. Uma homenagem lindíssima, Henrique Perazzi de Aquino. Fiquei com muita vontade de conhece -la pessoalmente. Que nossas esperanças por um mundo mais justo se fortaleçam e concretizem.

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS SOBRE ANA MARIA DAIBEM 2:

Professora Cristina Essa Mulher é fantástica, humana,na minha opinião a melhor secretária da educação que Bauru já teve, começar o ano lendo essa crônica sobre ela já é um grnde injeção de ânimo, coragem e persistência pra um educador, parabéns .

Henrique Perazzi de Aquino Precisamos é marcar um encontro coletivo dessas tantas pessoas que se conhecem de nome, possuem imensas afinidades na linha de ação e pensamento e ainda não se conhecem de fato e de direito. Que tal todos nos vermos na próxima festa do bloco carnavalesco e burlesco, algumas vezes farsesco, o BAURU SEM TOMATE É MIXTO, marcada inicialmente para 23/1?

Cice Baraldi Rovaris Ótima idéia!

Maria Cecilia Martha Campos Ótima idéia. Já aceito! É só saber onde e horário!

Marcos Roberto Costa Garcia Profa Ana, daquelas jóias difíceis de serem encontradas. É como se fosse nossa Fernanda Montenegro da Educação! Inteligente, perspicaz, comedida e sempre antenada. Tive o prazer de trabalhar com a Ana no governo Tuga. É gente da melhor qualidade!!!!!

Marcia Pestana Mota Fui sua aluna há 41 anos. Esperando meu primogênito, Daniel e, ela com o seu, Daniel, já nascido. Memórias de um tempo que jamais serão esquecidas. Gratidão pelos ensinamentos, além dos curriculares e, admiração pela pedagoga que Ana foi e sempre será.

Ianelli Ianelli · 3 amigos em comum
É so orgulho minha irmã.

Ana Maria Lombardi Daibem Caríssimo Henrique, grata pelas considerações que escreveu sobre meu jeito de ser e estar no mundo. Incrível sua habilidade para perceber, sentir e expressar a dinâmica da vida que se manifesta no seu entorno. Posso afirmar que fui e continuo sendo privilegiada por encontrar ao longo de minha vida pessoas muito especiais que ensinam lições valiosas.Isaias com certeza continua sendo o companheiro amoroso inesquecível, presença viva, assim como mestre de ensinamentos preciosos proclamados e vividos.Seu primeiro presente para mim foi um livro denominado "Resistir é Preciso" !!! Ao longo dos anos fui entendendo o porque dessa escolha.Obrigada Henrique por nos incentivar a sermos responsáveis em todos os dias de nossas vidas pela construção de uma sociedade que queremos seja economicamente justa, culturalmente plural, politicamente democrática e socialmente fraterna.Para todos nós um abençoado 2016 com significativas realizações.


Maria Cecilia Martha Campos Obrigada! Belíssimo texto. Condiz e confirma o que você disse sobre ela.