quarta-feira, 27 de julho de 2016

RETRATOS DE BAURU (190)


A DESPEDIDA DE SEU BATÉ, MAIS QUE “GERENTE” DE TIBIRIÇÁ
Tem pessoas possuidoras da marca registrada de um determinado lugar. Esse aqui hoje retratado possui a do lugar onde mora, cresceu e viveu a maior parte de sua vida. A imponência em pessoa, mas não a daquela pessoa autoritária, mandona, impondo medo nos que estão ao seu lado. Esse aqui construiu algo bem ao seu modo. Negro retinto, sofreu muito mais do que propagou quando lhe perguntado sobre, nem por isso resignado. Soube aproveitar as oportunidades que a vida lhe deu e teve mais sorte que muitos dos seus. Conquistou uma liderança pelos posicionamentos, firmeza de propósitos e pela maneira como tratava o semelhante. Simples uma vida inteira, preferindo o andar descalço pelo chão de terra, do que o com os pés dentro de um calçado qualquer. Viveu intensamente e deixou algo a ser perpetuado, passado hoje de pai para filho. Com sua ida, a tristeza instalada junto aos seus logo é substituída pela continuidade de algo perpetuado como marca registrada. Deixou mais do que história de vida, deixou exemplos e tudo começou num Quilombo, o de Tibiriçá.

JOSÉ ANTONIO COSMO, ou simplesmente seu Baté, morreu semana passada aos 87 anos lá na “sua” Tibiriçá. Coloco “sua” Tibiriçá entre aspas sem nenhuma pretensão. Baté e os seus possuem lá alguns pedaços de terra, num lugar onde vicejou um famoso Quilombo, um reduto negro, de luta e enfrentamentos históricos na cidade de Bauru. Não mandam, mas são respeitados por tudo o que já presenciavam, viveram e fizeram por aquelas paragens. Sentar com ele era de uma prazer inenarrável, pois as histórias de sua vida iam saindo assim de uma forma simples, como dois e dois são quatro. Ele não descrevia as dificuldades todas da vida como um peso, mas como etapas superadas e na somatória, chegando ao dia de hoje com alguma bonança. Os Baté suaram muito a camisa e conquistaram um espaço, um cantinho pra ser chamado de seu. O apelido veio do futebol, de um goleiro de nome Taubaté. O respeito veio dos tempos quando o pai honrou compromisso feito com algodão e não quis fugir sem pagar a conta, como alguns sugeriam. Pagou o que devia aos grandões e ensinou isso aos filhos. Ele e dona Irene seguiram a sina e hoje, quando parte, deixa oito filhos, 27 netos e 16 bisnetos, além de uma lenda a envolver seu nome. Lenda essa construída desde os tempos quando morava na rua Floresta, depois ingressou na Prefeitura Municipal, onde também conseguiu colocar alguns dos seus. Esse ano, após alguns anos sem desfilar no Carnaval, atendeu clamores vindo de todos os lados (um deles de Ana Bia Andrade) e saiu na avenida do samba na frente do bloco Estrela do Samba. Foi uma antecipada despedida, no seu caso, feita pouco a pouco e tristemente concluída dia 27/07. É desses que vai ser lembrado ad eternum.

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