NADA MELHOR DO QUE COMEÇAR A FALAR DE CARNAVAL PELA PERIFERIA BAURUENSE O Carnaval de 2017 será no final de fevereiro, faltando pouco mais de três meses para os desfiles. Alguns ensaios já estão ocorrendo e barracões (ou algo parecido) já se movimentam. A grande novidade mesmo vindo pela aí envolve a Cartola e uma verdadeira revolução lá pelas hostes do Parque Vista Alegre. Não tenho detalhes, só o zum zum zum e assim, prefiro me abster de comentar. Espiei também a festa de lançamento do bloco carnavalesco Estação Primeira, iniciativa do Tobias Terceiro, Junior Elero, Jorge Santtanna, Claudio Goya e tantos outros. Foi no espaço religioso do padre Beto. Gostei da percussão de uma meninada afinada, batendo muito em algo que promete. Estão chegando para somar e cheios de gás.
Fiquei pouco, junto do amigo Gilberto Truijo, incomodado, pois queria muito presenciar algo inédito em Bauru, o lançamento do samba enredo de uma escola já estabelecida, a Azulão do Morro lá do Jaraguá, comandada pela Cidinha e seu marido e nesse ano dando voz a uma nova carnavalesca, primeira mulher na cidade com essa incumbência. Só por isso, a escola já seria merecedora de grande pioneirismo, mas eles foram adiante e ela, Cristiane Ludgero, um que foi também destaque na escola em anos anteriores, trata-se de uma valente e desprendida transexual, nome social já conquistado e assumindo uma posição de grande destaque.
Fui conferir e a festa lá pelos lados do Jaraguá não ocorre em barracão, mas na rua, tudo montado defronte a casa da matriarca da escola, a Cidinha. Deve ter sido uma trabalheira a tarde toda e até tentaram montar lá um palco, uma vez que, mesmo com a devida antecedência não conseguiram o Caminhão Palco da Secretaria Municipal de Cultura, já cedido para outro evento. Lá estavam dois servidores municipais com uma perua e com um som instalado na calçada, um grupo tocava samba e carnaval para animar aos que chegavam. E quem lá estava? A comunidade. Olhando para os lados deu para sentir a força da comunidade e do apoio que dão para a Azulão. Não vi ninguém mais de outras escolas e um sambista lá marcou presença, desses que sabendo existir samba pela cidade, vai e marca presença: o eterno Rei Momo de Bauru, Edson Roberto Luciano, o Halligalli (http://mafuadohpa.blogspot.com.br/search?q=Rei+Momo). Valorizo muito esses que, como Halligalli descem e sobem a ladeira, desbravam essa cidade em busca daquele som de batuque a envolver esses loucos por samba.
Falemos da Azulão e de sua festa. Na fachada um grande painel já com algo sobre o enredo de 2017: “O Azulão vira jogo e vira o jogo: a sorte está lançada!”, tudo cria da cabeça da Cristiane Ludgero, uma vivenciando a escola o ano todo, nas suas alegrias e tristezas. Ela me mostrou os esboços feitos e todas as alas já previamente estudadas, roteiro revisado por nada menos que Dora Girelli e aprovado com louvor. Ela se esmerou na preparação, nos detalhes, nos desenhos, no que iria escrever e mais que isso, Cristiane não possui computador em casa, possui um mero celular como esses que temos em mãos e tudo foi ali montado, desde as pesquisas para ir encontrando as palavras certas, o histórico, as cores. Acreditem, tudo foi feito daquela sua peça, objeto inseparável, de utilidade mais que comprovada. Não sou dos que entendem Carnaval em toda sua essência, mas gosto demais da conta quando vejo uma dedicação além do real, do palpável, aquilo que ouso denominar de “tirar leite de pedra”. Cristiane tirou leite de pedra e estava ali falando ao microfone de seu trabalho. Falou pouco e muito do que fez ainda não foi conhecido, mas em breve estará por aí e ela ingressando de vez o seleto grupo dos carnavalescos bauruenses.
Vi Cidinha falar de sua paixão pela escola, depois Cristiane falar do seu trabalho e por fim, Valdemir Cavalheiro, cria do lugar, outro a vivenciar a escola o ano todo, desses que já fez de tudo por lá. O samba escolhido esse ano é dele e tem uma história que não sei se deveria contar, mas conto, não como fofoca, mas em algo para engrandecer o ocorrido,o detalhe a valorizar a conquista. Cristiane me disse que tiveram várias letras concorrendo e tinha falado com quase todos antecipadamente, mas na versão apresentada, algo com religião no meio, sem aquela pitada que o Carnaval necessita. Daí viu o samba do Valdemir e, justamente com ele tinha conversado tão pouco sobre sua ideia na avenida, veio dali o que melhor se enquadrava a tudo o que havia pensado. O samba dele vingou e foi cantado por ele e outro interprete, algo a demonstrar a afinidade com a coisa Carnaval. Poderia escrever mais da belezura que é ver o samba brotar na avenida num bairro periférico de Bauru, de ver as pessoas mais simples dobrando a esquina e vindo se juntar ao amontoado ali na rua. Gostei muito de ver a renovação da bateria, primeiro com um menino lindo batucando um tamborim a todo instante e de gente experiente no meio da garotada. Encerro o que vi reproduzindo o samba do Valdemir, publicado em primeira mão, talvez o primeiro de nossas escolas que tem a letra divulgada para o próximo Carnaval(outro pioneirismo do Azulão):
“PODEM APLAUDIR, A NOITE É NOSSA/ O SHOW VAI COMEÇAR, PODEM APOSTAR QUE EU VOU QUEBRAR A BANCA/ JOGAR ATE O SOL RAIAR NO TABULEIRO DA VIDA/ NUM JOGO DE PURA EMOÇÃO./ LANCEI A SORTE NAS ASAS DO MEU AZULÃO/ OLHA O JOGO COMPANHEIRO, CORINGA NÃO PODE FALTAR/ NO CARTEADO PISCANDO TEM ZAP NO OLHAR/ GIRA ROLETA GIRA , DEIXA ELA GIRAR/ E VAI GIRAR EM NOITE DE ESPLENDOR DE AZUL E BRANCO/ A DESFILAR É HORA .../ É HORA DA VIRADA MEU AMOR/ FELIZ DA VIDA EU TÔ QUE TÔ/ VOU EXALTAR MEU PAVILHÃO NESSA AVENIDA/ BATER NO PEITO E CANTAR BEM FORTE/ O ORGULHO DE SER AZULÃO/ ALÔ ALÔ ARQUIBANCADA/ ALÔ GALERA ALÔ GERAL/ UMA ESTRATÉGIA E UMA JOGADA UM XEQUE MATE NESSE CARNAVAL/ CARTAS RUNAS E TARÔ O O O O/ QUE O I CHING REVELOU O FUTURO/ MOSTRA PRA VOCÊ CONSULTANDO OS BÚZIOS/ PRA VER SE VAI DAR SORTE OU AZAR .../ JOGOS OLÍMPICOS UNINDO NAÇÕES SOMOS CAMPEÕES ...”.
OBS.: Adoro ir presenciar Carnaval pelas beiradas da cidade e se me convidarem vou em outros tantos ensaios. Sou facinho, facinho...
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