segunda-feira, 21 de novembro de 2016

OS QUE FAZEM FALTA e OS QUE SOBRARAM (93)


OUVI O ROQUE FALAR HOJE NA TRIBUNA DA CÂMARA
Tô aqui no mafuá estudando a tarde toda e dei uma paradinha para escutar assim de soslaio partes da sessão da Câmara dos Vereadores. Prestei a atenção nas falas do Vereador Roque Ferreira, nessa quase despedida que faz desse mandato. Como está chegando ao fim, missão mais do que cumprida junto a quem o elegeu, ele se mostra ainda mais aguerrido, palavras mais duras, fortes, incisivas, brados feitos em alto e bom som. Na defesa do seu projeto sobre o transporte urbano falou grosso, algo até mais incisivo, citando a tal da "canalhice" de postergarem a votação para o última sessão do ano e, consequentemente, a sua no Legislativo. Embromação explícita, declarada e perdulária. Ouvi-lo, mesmo aqui de longe me fez sentir uma dor aguda dentro do peito, pontada dessas irreparáveis, pois tenho a mais absoluta certeza de que não teremos nenhum vereador na próxima Legislatura a fazer a defesa do povão e dos trabalhadores. Curti cada palavra, cada centímetro dito e quanto mais ouvia, mais aquilo me maravilhava. Por fim, voltou à tribuna para fazer uma linda defesa do PT - Partido dos Trabalhadores, onde militou quase uma vida inteira. E o fez com a maior tranquilidade desse mundo, cara limpa e com convicção. Não ouvi o começo da coisa, mas acredito que cansou de ouvir a baboseira de sempre de uns atacando o PT por todos os males desse mundo. Os nos piores agrupamentos políticos e se dizendo impolutos. Isso cansa. Pegou o microfone e num aparte, lavou a alma de uma militância que ainda acredita na força de algo feito com fé, na transformação advinda de um agrupamento que um dia foi transformador. Citou um militante do PT ali presente nas tribunas (que não sei quem é) e também sua esposa, Tatiana Calmon, e ao fazê-lo deixou claro que, para se falar de corrupção é necessário não possuir telhado de vidro e a imensa maioria dos que acusam hoje o PT o possuem, mas fingem que o buraco da corrupção não passa pelos partidos onde militam. Citou o caso dos trens urbanos paulista e do metrô. Não pensem ter ele acusado (ao fazer não a defesa do PT, mas colocar tudo no seu devido lugar) só o PSDB e Alckmin, pois foi mais longe.
Disse textualmente que o Governo Paulista é o grande culpado, o a envolver esse e outros tantos escândalos não é só tucano, sendo também do PV, do PMDB, do DEM, do PSB e de tantos outros, portanto de muitos dos vereadores ali presentes e de muitos os que adoram apontar o dedo para o PT quando falam em corrupção. Escrevo isso tudo porque Roque é único e nos fará uma baita de uma falta, incomensurável. Ouvindo sua fala, feita sempre de forma veemente, sei o quanto a classe trabalhadora estará acéfala de alguém a fazer sua defesa na próxima legislatura e com a minha tristeza, sei ser ela extensiva para tantos outros, que assim como eu tiveram o prazer de ouvi-lo hoje ou lá pessoalmente, ou pela TV e rádio Câmara. Quero curtir cada momento, pois bem sei o que nos espera daqui por diante. Curto e escrevo, numa espécie de justa homenagem para esse abnegado e digno representante do povo, um que soube dignificar na acepção da palavra o que vem a ser de fato e de direito uma vereança. Essas duas intervenções de hoje são uma amostra clara de como age esse tal de Roque Ferreira, postura altiva, nobre, alvissareira. Me curvo a ele e o cumprimento mais uma vez, em forma de reverência, por tudo o que pode fazer por gente como esse que vos escreve. Podíamos ter feito mais para tentar mantê-lo na Câmara, mas agora é tarde e como acabo de ler algo do grande jornalista esportivo José Trajano, numa entrevista para Mino Carta, no programa Jogo de Cartas da revista Carta Capital: "A esquerda agride-se demais.Há diferenças enormes, filosóficas, políticas, pessoais. De modo geral, os dirigentes partidários são arrogantes. Todos se acham os donos da verdade, ninguém dá um passo à frente. Seria importante que os partidos de esquerda se entendessem, mas acho quase impossível". Não foi só aqui com Roque que a coisa não deu certo, foi também com o Freixo no Rio, com o Haddad em São Paulo e com tantos outros. Todos teriam que ceder para continuar tendo a oportunidade de termos gente mais decente ocupando postos em defesa de algo mais palatável. Isso é para outra conversa, longa por demais e o que deixo aqui como mensagem ao ouvir Roque pelo rádio é a sensação irremediável de que a própria Câmara em si perdeu mais do que se imagina sem alguém como esse cabra danado, de barba e cabelo esbranquiçado, briguento e cheio de muita convicção por lá. Quero curtir cada fala em todas as próximas sessões, pois talvez não tenhamos mais e nem sei quem vai conseguir chegar lá mais na frente e seguir por esses caminhos de resistência e luta como vejo em sua atuação. Tô triste e tô alegre, alegre por ser seu amigo, mas triste demais por saber que depois dessas próximas três sessões, o Roque vai usar outras tribunas e microfones, mas não as da Câmara dos Vereadores de Bauru. Baita abracito pra ele.

OBS.: Desculpe os erros costumeiros e vezeiros, pois escrevi de uma só escarrada e não quero me dar ao trabalho de corrigir nada. Deu pra entender tudo, não? Se deu, estou satisfeito.
HPA - Bauru SP, segunda, 23h25, 20 de novembro de 2016.

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