quinta-feira, 3 de novembro de 2016

MÚSICA (142)


DO SHOW DE ELBA EM BAURU, ESCREVO DE UM ZABUMBEIRO, DURVAL PEREIRA

Que posso mais dizer eu, um fã declarado e explícito de Elba Ramalho? Quase nada. Assisti ontem ao show dela lá no SESC e da fila do gargarejo, como sempre faço no SESC Bauru. Desço pela escada ao lado esquerdo do palco e vou me posicionando bem debaixo dos músicos. Daí, pescoço virado para cima, presencio tudo de uma posição mais do que privilegiada. Faço isso desde muito tempo, assistindo dali Lenine, Chico Cesar, Mart’nália, Alceu, Zé Geraldo e tantos outros. E em cada novo show vou além de gravar o próprio artista cantando e tocando. Observo mais o que está à sua volta e daí me delicio por completo. Ontem não foi diferente, Elba trouxe consigo uma banda completa, preparada para tocar de tudo, entendidos até a medula de todos os ritmos nordestinos, esses que encantam a todos aqui pelo lado abaixo da linha do Equador. Como falar dela é chover no molhado, eis quem a acompanhou em Bauru: Marcos Arcanjo (violão e guitarra), Rafael Meninão (sanfona), Ney Conceição (baixo), Anjo Caldas (percussão), Durval Pereira (zabumba) e Alessandro Rocha (voz).

Logo de cara, mal o show começou (re)descobri um deles e fiquei o observando. Já o havia visto em apresentações outras, pois o gajo, como Elba mesmo fez questão de dizer num certo momento: “Eu e esse, somos os mais velhos da banda, os mais antigos e tocamos, agitamos mais do que a meninada. Nós não perdemos a forma”. Falo de DURVAL PEREIRA um zabumbeiro desses de encher os olhos. Num outro momento Elba disse: “Eu toco alguns instrumentos, até bateria, mas esse treco, a zabumba eu não me atrevo. Esse instrumento é muito complicado, difícil e esse aqui é um mestre no assunto”. E é mesmo. Não desgrudei os olhos do cara o show inteiro. Ele bate que é uma maravilha e mais que isso, possui um gingado com os pés a acompanhar o som da música e suas batidas, além da alegria estampada no rosto e em cada nova música. Isso é mais do que perceptível. Quando o músico está mais do que interagindo com a música, está integrado por completo e a partir daí, a entrega para o que faz. E quem ganha nesses casos é a assistência ali na frente.

Não sei definir muito bem o que presencio com esses maravilhosos músicos a acompanhar nossos mais ilustres artistas, mas quando me deparo com algum assim, decibéis acima, estágios elevados, o show fica concentrado neles. Ontem isso se sucedeu e aquela forma gostosa, macia e precisa de bater no couro é dessas coisas que te fazem ganhar a noite. A banda toda é muito boa, mas Durval é mestre no que faz, experiência de décadas, não só de estrada, como de integração com o instrumento. Escrevo dele, também para ressaltar um algo mais. Credito ser crucial quando diante de um grande show, os olhos estarem direcionados não só para o artista ali no centro do palco, mas para quem o acompanha. Toda vez que faço isso (e faço sempre), vou conhecendo mais e mais esses músicos divinais a acompanhar os astros. Ontem foi Durval. Eis aqui algo dele do youtube em quatro situações: 1) https://www.youtube.com/watch?v=ilrc2khA3RU, 2) https://www.youtube.com/watch?v=UJ5RYoLm88o, 3) https://www.youtube.com/watch?v=CVTBu7WeT7c e 4) https://www.youtube.com/watch?v=NX42b1ujjVc. Durante o dia, posto uma gravação que fiz dele ontem abafando e encantando esse velho babão...

O ZABUMBEIRO DURVAL ENCANTOU A NOITE DE ELBA
Cliquem a seguir e se deliciem: https://www.youtube.com/watch?v=m-_aXmK4-pE&feature=youtu.be 
Durval Pereira é zabumbeiro dos bons, escola da vida, décadas de estrada, poeira acumulada entre os dedos e ontem passou por Bauru e ajudou a abrilhantar ainda mais o show de Elba Ramalho. Escrevi dele um longo texto publicado em outro lugar e aqui, a constatação de tudo o que saiu de minha pena: a prova do crime, do saber fazer e como disse acertadamente João Biano: "Durval, além de mestre, toca sorrindo. Quer coisa melhor do que ser feliz?". Vejam se não tenho razão em escrever mais dele diante do maravilhamento do show de ontem em Bauru.

ALGO MAIS: UM MOMENTO MÁGICO DO SHOW DE ELBA, ELA CANTANDO FITO PAEZ
Cliquem a seguir: https://www.facebook.com/henrique.perazzideaquino/videos/vb.100000600555767/1461895453840459/?type=2&theater

"UN VESTIDO Y UN AMOR", letra do argentino Fito Paez (um que um dia cantou em Bauru, também no SESC - sempre ele, naquele dia ao lado de Nando Reis). Foi um momento de contemplação, quando todos deram uma parada no ritmo mais acelerado, para absorver algo mais sutil, lento, envolvente e febril. Viajei, alcei voo e consegui captar ela cantando essa linda canção latinamente arrebatadora. Aos 64, ela continua encantadora.

Te ví
Juntabas margaritas
Del mantel
Ya sé que te traté bastante mal
No sé si eras un ángel o un rubí
O simplemente te ví.

Te ví
Saliste entre la gente a saludar
Los astros se rieron otra vez
La llave de mandala se quebró
O simplemente te ví.

Todo lo que diga está de más
Las luces siempre
Encienden en el alma
Y cuando me pierdo

En la ciudad
Vos ya sabes compender,
Es sólo un rato no más
Tendría que llorar
O salir a matar
Te ví, te ví, te ví y
Yo no buscaba a nadie y te ví.

Te ví
Fumabas unos chinos
En madrid
Hay cosas
Que te ayudan a vivir
No hacías otra cosa que escribir
Yo simplemente te ví.

Me fui
Me voy de vez en cuando
A algún lugar
Ya sé no te hace gracia
Este país
Tenías un vestido y un amor
Yo simplemente te ví.

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