domingo, 31 de março de 2019
O PRIMEIRO A RIR DAS ÚLTIMAS (69)
PASQUIM, FAUSTO WOLFF, BIBLIOTECA NACIONAL E A ENCHENTE NO MAFUÁ Eu colecionei O Pasquim durante décadas. Comecei aos treze anos, portanto em 1973. Não entendia direito tudo o que lia, mas adorava o formato, as charges, as mulheres de perna de fora, a irreverência. Ali conheci Ziraldo, Jaguar, Aldir, Henfil, Tarso, Millor e tantos outros. Não parei mais, até a última edição. Depois saiu também o PASQUIM 21 e esses tenho todos. Acho que já contei aqui, certa feita ainda menor de idade, fui na zona do meretrício, casa luxuosa da Mansão, onde ia visitar a Cleusa (por onde andará a Cleusa?) e ela ao me receber estava no hall com outras. Essas ao me verem com o Pasquim debaixo do braço me pedem para deixá-lo com elas, me devolveriam na volta do quarto. Assim o fizeram e o espanto é que até as putas conheciam o Pasquim. Eu, um reles moleque, estudante da Escolinha da Rede e elas, pensionistas da Mansão, líamos. Hoje cada vez menos os que ainda perdem tempo com leituras. Vejo as bancas de jornais fenecendo, tudo as moscas. Restam malucos como eu, velhos e com os dias contados.
Pois bem, guardei essa rica coleção uma vida inteira. Me casei, sai da casa dos pais e lá os mantive. Enviuvei, casei de novo, me separei e eles lá ocupando um baita espaço no alto de estantes. Muito tempo depois, cupins descobriram o acervo e iniciaram um trabalho de degustação. Descobri a tempo de salvar centenas de exemplares. Chorei em cada edição que joguei fora. Cuidei do restante, reli alguns, valia sempre mais que uma mera punheta. Atravessaram o tempo. Alguns mais se foram, emprestados, mais cupins e desta feita, com a enchente bostenta da semana passada, o que me restava deles, creio uns 50 foram todos melecados, molhados, grudentos. Quando os achei no lodo, estavam compactados. Joguei muita coisa fora, mas mesmo assim não tive coragem de jogá-los. Levei-os para um local seco, seguro e lá estão. Penso em recuperar alguns, talvez capas e páginas centrais, as novelas, decorando uma parede aqui no mafuá (vai ficar linda).
Estava desolado e hoje vim pro computador enquanto a mana e Ana estão a ver TV na sala, começando uma pesquisa sobre outra perda, todos os textos que imprimi diariamente do JB, lá pelos idos de 2007, dia após dia, do Fausto Wolff. Igualmente molhados os guardei e folheio diariamente na esperança que não colem. Então, taquei o nome do Faustão no google e estava viajando quando me deparei com essa esperança:
"Pasquim na íntegra na internet
POR CLARISSA STYCER 25/11/2018 08:40 O Globo
Nos 50 anos d’O Pasquim, completados em 2019, todas as edições do semanário poderão ser lidas na internet.
A Biblioteca Nacional está prestes a terminar a digitalização dos 1.072 números do tabloide que atravessou a ditadura no deboche.
O acervo ficará em uma página que terá, ainda, uma coleção de memórias dos colaboradores do jornal.
O portal será lançado com uma exposição sobre o Pasquim, a ser montada no Rio de Janeiro e em São Paulo", eis o link: https://blogs.oglobo.globo.com/…/pasquim-na-integra-na-inte….
Aguardo ansioso por essa ação da Biblioteca Nacional, porém, nesse desGoverno de Bolsotários, creio que, se descobrirem que isso ocorrerá por lá, com certeza, irão interromper a criação do portal. Nesses tempos inenarráveis, de que vale preservar a história de um jornal, que se vivo estaria aprontando todas e muito mais contra esses bestiais todos da atualidade? Esses de agora querem mais é botar fogo nessa história e acabar de vez com a memória que tanto prazer me traz (me levanta até o falo). Portanto, quem ler essas mal traçadas, por favor não vá espalhar isso, pois pode cair nas mãos desses insanos e botariam sem pestanejar fogo nessa tal de Biblioteca Nacional. Deixo aqui reproduzida a foto do que me restou da velha coleção, molhada para terem certeza do valor exato das perdas que tive desta feita com essa merda de chuva por esses lados.
Leio agora, em substituição ao velho Pasca, deitadinho na cama, a última edição da Carta Capital, editorial do Mino, um dos últimos escrevendo dentro do padrão sarcástico, mordaz, chutando o pau da barraca, estilo e tacada perdidos no tempo. Hoje um jornal como o Pasca teria boa aceitação, pois o país se transformou num grande Febeapá. Nadariam de braçada. Pena que a maioria deles já se foram e eu mesmo, mero leitor, saudosista de antanho, reclamo de dores e males que só aumentam. Vivo de lembranças, boas por sinal. Elas me embalam.
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