EIS ALGO DOS BATIDORES DA FESTA CARNAVALESCA BAURUENSE NO SAMBÓDROMO*
* Entendam. Junto dois textos no mesmo post para melhor aproveitamento do espaço deste Mafuá. Posto as fotos dos servidores no Retratos de Bauru e junto delas, a entrevista do historiador Simas para Carta Capital, onde revela algo mais sobre a maior festa popular brasileira. Vejam um, leiam o outro e juntem tudo na construção de algo maior.
Num momento em que a Cultura Municipal segue sob fogo cerrado, muito por um motivo mais que insólito, o fato da Prefeitura ter feito o certo quanto a destinação de verba destinada para auxílio de escolas e blocos, promovendo o incentivo à maior festa popular brasileira, o Carnaval, trazendo sempre retorno incomensurável para o município. No meio desse fogo cerrado esses personagens bauruenses representados nas fotos aqui publicadas, seus servidores. Queria ter tirado foto de todos eles no Sambódromo, mas não o consegui. O fiz de um número reduzido e com a publicação de suas carinhas, não só o reconhecimento pelo que fizeram nos bastidores da festa, mas enaltecer o papel da Cultura na cidade, algo a ser ainda melhor discutido e entendido. Trabalhei junto da maioria desses e sei o que vem a ser o bastidor e as atividades desse setor da Prefeitura e neste momento, indo além das críticas, quando dizem mudanças irão ocorrer em suas hostes, o melhor mesmo é sempre buscar algo para edificar, unir, construir pontes tornando o papel da Cultura numa cidade cada vez de maior importância e relevância. Problemas existem por todos os lugares e matizes, esses alguns deles na lida para tentar dar o melhor de si, não só pela festa de Momo, mas no dia a dia de suas atividades.
SIMAS É MEU HISTORIADOR DO MOMENTO E NO QUESITO CARNAVAL, DÁ UMA AULA PARA OS AINDA NÃO ENTENDENDO DESTE FENÔMENO, MAIOR FESTA POPULAR BRASILEIRA. Leiam a entrevista dada para Carta Capital e só depois vamos discutir com mais afinco o que venha a ser de fato e de direito o Carnaval. Foi o que de melhor li durante os festejos de Momo, daí compartilho com tudo, todas e todos. Elis o link: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/bolsonaro-e-o-proprio-tumulo-do-carnaval-diz-historiador/?fbclid=IwAR0cdcHGe7IlhU6g0q_3fvsy-lw3L9GP0ubR3suPELO3wlk0FSgFq7AdI2k
SOCIEDADE - “Bolsonaro é o próprio túmulo do Carnaval”, diz historiador
Por Fred Melo Paiva, vide Carta Capital
Para Luiz Antonio Simas, o Carnaval é “resistência” que transcende a bagunça e avança para além do feriado
Prepare-se para a safra recorde de laranjas. Nas ruas do País, um pulsante laranjal desfilará em centenas, quiçá milhares, de blocos carnavalescos. Outras fantasias, não tanto cítricas, porém ainda mais contundentes, tomarão até cidades como São Paulo e Belo Horizonte, outro dia mesmo destinos seguros aos que do Carnaval preferiam se refugiar. Em ambas as cidades, a festa de rua renasceu a partir dos movimentos que politizaram a ocupação do território urbano, transformando-se numa balbúrdia de homéricas proporções. Laranjas ao alvo, Bolsonaro será o saco de pancada da turba desfilante. As mulheres comandarão a massa, peitos e bundas de fora, soberanas de seus corpos. Na Sapucaí, há de surgir um novo Temer Vampirão.
Na música de Erasmo Carlos, houve um João que “dormiu no tombo e foi pisado pela escola,/ morreu de samba, de cachaça e de folia,/ tanto ele investiu na brincadeira,/ para tudo tudo se acabar na terça-feira”. É nóis: fechada a janela de transferência da nossa revolta, é vida que segue, casa-grande e senzala, nenhuma Bastilha a se queimar na quarta-feira, embora de Cinzas. Para o historiador Luiz Antonio Simas, no entanto, o Carnaval é “resistência” que transcende a bagunça e avança para além do feriado. Autor de 16 livros sobre a cultura popular, entre eles o recente Almanaque Brasilidades e o ganhador do Prêmio Jabuti A História Social do Samba”, Simas é um dos mais respeitados pesquisadores do Carnaval brasileiro. Ele fala a Carta Capital:
Para Simas, a festa coloca em disputa o território das cidades
Carta Capital: O Carnaval é uma festa que aliena ou politiza?
Luiz Antonio Simas: Tem a fama de ser uma festa da alienação, mas sempre foi muito politizada. Porque tensiona, por exemplo, os usos da cidade, e isso é absolutamente político. O Carnaval dialoga dessa forma tensa com o poder instituído. Houve carnavais, ainda nas vésperas da Abolição da Escravatura, em que a questão abolicionista estava presente como um tema forte nas ruas. É uma festa de tensionamento político e uma festa, sobretudo, de disputa pelo território da cidade.
CC: Os nossos presidentes foram sempre alvo dessa galhofa do Carnaval?
LAS: Em menor ou maior escala, sim. O Carnaval é bagunceiro com o exercício do poder. Você pega, por exemplo, um presidente como Floriano Peixoto (1891-1894). Seu governo tentou mudar o Carnaval para junho, com o argumento de que o mês de verão é propenso para epidemias. A população deu uma banana para esse tipo de coisa e houve dois carnavais. Em 1912, iam adiar o Carnaval do Rio de Janeiro porque o Barão do Rio Branco havia morrido, e a turma foi para as ruas sacanear o Barão. Não existe Carnaval a favor. Sobretudo o Carnaval de rua, ele é o Carnaval do contra, aquele que galhofa do poder.
“A resistência está no corpo preto que entra na avenida e exerce sua centralidade na dança da passista”, defende o historiador
CC: Mesmo durante as ditaduras?
LAS: Nessas ocasiões, a postura zombeteira tinha de acontecer nas brechas do poder instituído. Era difícil, porque ali você tinha um Estado que trabalhava com a assistência da repressão. Mas ao mesmo tempo o Carnaval estava na rua, ele acontecia. Em momentos de autoritarismo, a população de certa forma se apropria de alguns espaços, de algumas festas e ali pode expressar suas insatisfações e desejos. Isso valia para o Carnaval, como valia para o que era um estádio de futebol durante a ditadura militar, o momento em que se tinha a perspectiva de um enfrentamento por território. O Carnaval não é político só no discurso explícito. É uma festa política quando você veste uma fantasia galhofeira e ocupa um espaço da cidade que o poder público não quer que você ocupe. Então existem dimensões do Carnaval que chamo até de “gramáticas não normativas”, e que são políticas mesmo. Refiro-me à questão do território. É um momento em que a cidade está sendo disputada.
CC: Inclusive disputada também com o dinheiro. Há alguns carnavais, São Paulo tenta impor uma marca de cerveja aos ambulantes que trabalham na rua durante a passagem dos blocos.
LAS: O Carnaval de rua lida com três instâncias que tentam domesticá-lo, cada uma a seu modo. Tem o discurso da ordem pública, que busca exigir alvarás, estabelecer horários em que a rua pode ser ocupada, determinar onde o bloco desfila, se a prefeitura autoriza que se vá aqui ou ali. Uma segunda instância é de ordem moral, com o discurso conservador ligado aos costumes. O Carnaval seria a festa da depravação, e hoje isso é muito em voga no Brasil, por causa do avanço neopentecostal e em razão de um governo com pautas obscurantistas do ponto de vista do comportamento. A terceira instância, que funciona como um mecanismo que tenta estabelecer controle sobre o Carnaval, é a do mercado. Sua perspectiva é a do marketing, do dinheiro circulante. É a marca de cerveja, é o cartaz que não deve afrontar o patrocinador.
“A luta contra o obscurantismo será uma marca efetiva deste Carnaval”
CC: A crítica política no Carnaval é uma característica muito mais dos blocos de rua do que da escola de samba?
LAS: Sem dúvida. Escola de samba não é uma instituição de resistência. Ela surge como uma cultura de brecha, que negocia na fresta. Desde suas origens na década de 1930, as escolas negociam com o Estado, com a contravenção, com o turismo, com a mídia, com o mercado. Você tem num ano um carnavalesco que faz algo com uma pegada mais politizada, que critica o poder. Não significa que a escola seja isso. No ano seguinte ela pode fazer o Carnaval mais chapa-branca e conservador que você imaginar. Já os blocos de rua têm de fato uma tradição de galhofa e afronta ao poder, um Carnaval anti-institucional que é muito mais efetivo.
CC: O que se pode esperar dos blocos este ano com relação aos protestos políticos?
LAS: O governo que aí está é um alvo fácil, porque afronta o próprio espírito carnavalesco. É um prato feito para o Carnaval cair em cima na base da galhofa. Por outro lado, teve um avanço muito significativo nas pautas comportamentais, que foram respondidas com um discurso de retrocesso. Os festejos de Rio, São Paulo, Belo Horizonte têm apresentado uma grande novidade, que é o protagonismo da mulher brincando o Carnaval. Há blocos só de mulheres, que são da maior relevância. Está presente uma pauta firme das mulheres contra o assédio no Carnaval. Esse protagonismo feminino e a luta no campo comportamental, que envolve a tolerância, contra o obscurantismo, será uma marca muito efetiva deste Carnaval.
Um comentário:
DOIS COMENTÁRIOS SOBRE O SIMAS EXTRAÍDOS DO FACEBOOK:
Léa Schmitt Ele é espetacular , já esteve 3 vezes dando palestra no Nepaa Unirio ( núcleo de estudo das performances afro ameríndia) grupo ligado
à universidade federal do estado do Rio de Janeiro, a qual com muito orgulho eu faço parte. É sempre um privilégio ouvi lo falar, sempre trazendo importantes questões e questionamentos quanto aos estudos das tradições afro e ameríndias, no YouTube tem um documentário dirigido pelo meu orientador e co produzido por mim, onde ele brilhantemente explana sobre o mito dos encantados , o documentário se intitula : dona Mariana. A princesa Turca da Amazônia , vale muito a pena assistir, abraços , e sdds da minha lindeza Ana Bia Andrade..
Rui Zilnet Simas é a memória viva do Subúrbio Carioca. Ninguém conhece melhor do que ele a sua cultura. Posso dizer que sou um privilegiado, por já ter participado de uma de suas aulas itinerantes de história da cultura popular do Rio de Janeiro, em uma parada na Vila Mimosa, junto a mais de uma centena de jovens, a maioria universitários. Também sou colecionador de seus escritos maravilhosos sobre esta cidade e seu povo maravilhoso, do qual optei no início da minha adolescência em integrar a família.
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