PASSARELA DO SAMBA BAURUENSE SOB OS OLHOS DO HPA
Eu não vou e estou nas ruas neste momento carnavalesco somente pela festa em si. O momento do país não é de festa, e sim de muita resistência, para poder desbancar o mal tomando conta das hostes governamentais. Estar nas ruas somente para festar é algo mais do que estranho para mim. Não o faria, nem me sentiria bem. Tivemos o bloco Bauru Sem Tomate é MiXto e agora estive nas duas noites no Sambódromo bauruense. Pisei na passarela do samba por três vezes e perdi de o fazer por mais vezes por absoluta falta de disposição física. O corpo aos 58 anos já não é o mesmo de antanho, daí melhor de conter e mais observar, no meu caso, fotografar. Não fotografei tanto como dos anos anteriores e na exposição do que produzi este ano, algumas queridas pessoas e em cada, com certeza, poderia escrever belos textos. Tem um livro do Mario Prata onde ele pega sua agenda de telefones e em cima de cada nome ali constando conta uma história, a envolvendo aquela pessoa e ele. Muito saboroso esses textos. Comigo se passaria o mesmo se tempo tivesse nesse momento, pois em cima de cada foto tirada no Sambódromo poderia produzir um textão, de como vi o retratado ali na avenida, dos motivos de ter disparado a câmera e assim por diante. Penso até em fazer um texto acadêmico sobre isso, algo de minhas percepção e andanças pelos lados mais saborosos e impetinentes desta vida. Não comento as fotos, mas as deixo aqui postadas com essa intenção, a de ir revendo cada uma e a partir dessa nova observação pensar no que está por detrás.
Dito isso, conto também onde sambei, ou melhor, tentei sambar, pois adoro o samba, mas pouco sei disso de remexer as pernas a contento. Elas se trombam e na imensa maioria das vezes sou mesmo é um bom observador. E nessa qualidade quero encerrar esse texto, com algo do final dessa publicação. Sai sábado no bloco de Tibiriçá, o Estrela do Samba e como sempre, me diverti, ciente de estar ali junto a um reduto de muita resistência nessa cidade. Ontem, segunda, saí primeiro no bloco Esquadra do Indepa, num enredo criado por uma baita amiga, onde algo de social é escrachado para ser dissecado e discutido por todos. Por fim, desci, como faço há quase dez anos com a Coroa Imperial do Núcleo Geisel. Preferi me abster de outras, principalmente as duas grandonas de Bauru, a Cartola e a Mocidade, pois gosto mais de estar com os ditos por alguns como menos nobres. Sendo um deeles, me sinto em casa.
Escrevo isso e me ponho ali na cerca diante dos camarotes, vendo a última escola desfilar, a Tradição da Zona Leste, do Mary Dota. Agente sabe de todos os problemas que o Chiquinho e a sua esposa tem para tentar colocar a contento duas escolas na avenida. Não entro nesse mérito, deixo pra depois, mas entro em outro. Gostei de ver as duas grandes escolas, blocos belos, gente idem, reencontros de toda ordem, papos bons, povo nas ruas, algum protesto e coisa e tal, mas no final, festa findando, observando a Tradição vejo algo ali naquele desfile, olhando para um carro alegórico com um espaço vazio, faltando um integrante no seu alto e constato na face dos que desfilaram uma alegria que não sei se por falta de olhar melhor, mas não observei em muitas outras. A Tradição desceu alegre, isso estampado na face da maioria dos que ali vi desfilando. E olha que era a última escola a desfilar, em algo que acho uma barbaridade, a de não colocar por último as duas ditas grandes, uma em cada dia. O público já não era o mesmo, muitos haviam ido embora e eles garbosamente, peito estufado, altivos voaram na passarela do samba. Fiquei com baita vontade de lá estar e deixo isso aqui registrado, até para um entendimento além da belezura que todos querem expor. Carnaval, mesmo nesse momento de intensa dor, deve ser algo para ser feito com o devido prazer. Muito bom ter conseguido enxergar isso em momentos mais que únicos na passarela do samba. Estava também ali por causa disto, aliás, escrevo e publico essas fotos movido por isso.
Quem foi que disse que no Estrela do Samba de Tibiriçá não tem crítica social? Essas malas de dinheiro, que também circularam por Bauru (vide Bauruense, Furnas, Aécio e turma sem limites) estavam muito bem retratadas com esse senhor puxando sua malinha com dinheiro saindo pela ladrão (sic).
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