quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

BEIRA DE ESTRADA (117)


CONSIDERAÇÕES EM TRÂNSITO
1.) UM DESABAFO NO MEIO DE VIAGEM AOS EUA - PRESTÍGIO BRASILEIRO EM EVIDENTE DECLÍNIO
Décadas atrás eu na minha simplicidade não consegui entender como nós, latinos, podíamos se deixar subjugar por um povo, os tais "irmãos do Norte", sendo que os via como broncos, lerdos, dispersos... Não me entrava na cabeça eles comandarem o mundo e também nossas vidas. Enxergava em nós latinos, condições de ser, estar e dar conta de nossas vidas sem merecer benção ou condução de quem quer fosse. O tempo me ensinou que, se parte dos norte-americanos podem representar algo sem perigo, no frigir dos ovos, pela força e por se considerarem donos do planeta, fazem e acontecem, se beneficiando desse imenso negócio financeiro que é o mundio para o Governo deles. Deixei de enxergá-los daquela forma faz tempo e hoje, diante de todos os acontecimentos mundiais envolvendo a participação norte-americana, a visão de qualquer sensato é obrigada a mudar. Pior que tudo é constatar que o Brasil conseguiu se impor mundialmente anos atrás, era respeitado, ouvido e possui-a soberania, mas hoje, com o advento do desGoverno Bolsonaro, uma subserviência nojenta, que não traz nada de bom ao país, a não ser a vergonha que passamos. Ninguém gosta de vassalos absolutos e assim Trump trata Bolsonaro, que tudo lhe dá, mas esse os ignora e os maltrata com suas ações. Nem assim se tocam e voltam atrás, continuam ali puxando o saco. Trump defende seu país e seus interesses e Bolsonaro ao invés de fazê-lo com os do Brasil, nos humilha com sua atitudes de servilismo. Não é nada fácil tentar se transformar numa nação soberana, livre e independente tendo como parceiro os EUA, pois elas fazem de tudo e mais um pouco para impedir isso, porém quando o próprio governante do país subjugado se coloca de joelhos, daí algo sem saída. Não somos mais nada do que um dia ousamos ser e se ainda existe algum respeito esse se dá exatamente por causa de um passado recente, quando ousamos ser nós mesmos. Isso deu certo, mas hoje voltamos ao estado de quintal. Muitos por aqui ao nos ver brasileiros, nos recebem com afagos, principalmente os mais simples, somos turistas e os poucos cientes do momento vivido pelo Brasil, esses buscam explicações de como conseguimos andar tanto para trás.

Obs.: Para produzir um texto mais apurado, necessito de tempo, reflexão feita no calor dos acontecimentos nem sempre sai bem formatada. Por aqui o tempo urge e as horas passadas diante de um computador devem mesmo ser as menores possíveis.

2.) ALGO QUE NUNCA MAIS SAIRÁ DE NOSSA RETINA
O som nas ruas de New Orleans nos contagiou e desta forma, acertamos em cheio em dar com os costados, quando pensando dois lugares possíveis nessa viagem aos EUA. Nova York e Nova Orleans, lugares antagônicos e com muita similaridade. Percebo New Orleans como uma ilha, um oásis no meio de um deserto, um local com a cara e identidade da resistência do povo negro, esses buscando leis próprias para irem tocando suas vidas, todas conquistadas com muito "sangue, suor e lágrimas". E quando nos despedimos da cidade, eu e Ana Bia Andrade levaremos conosco para todo o sempre, o inusitado aqui presenciado em suas ruas, esse encantamento musical, fluindo por todos os poros, os possíveis e os inimagináveis. Nunca vimos outro lugar com nossos olhos com tanta musicalidade como esse, com bares e restaurantes, uns ligados aos outros, em cada um grupo musical diferente, som representando o jazz e blues, todos de alta qualidade e com músicos de todas as idades. São imagens que nunca mais nos abandonarão, pois nos marcaram profundamente.

3.) NO LANCHE NOTURNO DO LE PAVILLON SEMELHANÇA COM A HISTÓRIA DO SANDUÍCHE BAURU
Como sabemos, a história do sanduíche levando o nome de Bauru começou pelo acaso. Um estudante num bar e a pedida de um lanche com o que tinha na casa, final de expediente, daí na repetição de outros frequentadores pela solicitação do mesmo lanche igual ao do "Bauru", a coisa pegou e se institucionalizou. Vi algo semelhante aqui no hotel onde nos hospedamos em Nem Orleans USA, o Le Pavillon, quando todos seus hóspedes são convidados a desfrutar de um lanchinho noturno grátis, sempre das 22 às 23h, no hall de entrada. Ampla mesa, com pãezinhos sobre a mesa, muita geleia e pasta de amendoim, com três opções de líquido, leite, lite com chocolate frio e quente. Uma fila se forma pouco antes do horário. No local uma placa explica a razão do lanche. Décadas atrás um hóspede procurou os funcionários do hotel, saudades dos seus e pedindo para ser atendido em algo que fazia rotineiramente quando em sua casa, lanchar com seus filhos antes de deitar. Tentaram lhe atender e no dia seguinte repetiram a dose, quando outros se interessaram por provar, o gerente do hotel comprou a ideia e passou a disponibilizar no hall a iguaria. Tudo foi se repetindo e virou instituição do lugar. Ontem, o taxista que nos trouxe à noite, o vemos instantes depois junto de nós, ou seja, veio comer o lanchinho. Muitos o fazem e outro, ao citar o endereço onde estávamos hospedados diz, "Sim, o hotel do lanche noturno". E desta forma e jeito, algo mais vinga e se torna tradição.

4.) RETORNO À NOVA YORK E A RECEPÇÃO NO QUARTO DE HOSPEDAGEM - SONO EMBALADO POR...
Chegamos de volta por volta das 21 de ontem, quarta. Ficaremos alguns dias hospedados em casa de amigos, no Brooklyn, eles já dormindo, nos deixaram as chaves num local previamente combinado. Entramos com auxílio do taxista brasileiro, nos instalamos como combinado e desabamos após um dia inteiro pela aí, com viagem de New Orleans passando por escala em Atlanta, três horas no aeroporto. A surpresa mais que agradável foi na estante de livros ao lado de nossa cama e nela nomes mais que conhecidos, os que dormirão ao nosso lado nos próximos dias: Philip Roth, Simone de Beauvoir, Aldous Huxley, Kurt Vonnegut, James Joyce, Ray Bradbury, Heidegger, Henry Miller, Marx, Sigmund Freud, Octavio Paz, Virginia Wolff e as tiras do Calvin, além de CDs de Bob Marley. Será que devo ir pras ruas, uma vez que na chegada a temperatura era de - 1º, com sensação de - 8º?

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