segunda-feira, 28 de julho de 2008

UMA MÚSICA (28)

INVOCAÇÃO À MARIAMA - HINO DE DOM HÉLDER CÂMARA
“Mariama, Nossa Senhora
Mãe de Cristo e Mãe dos Homens!
Mariama, Mãe dos Homens de todas as raças
de Todas as Cores, de todos os cantos da terra.
Pede ao teu Filho que está festa não termine aqui,
a marcha final vai ser linda de viver.
Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho
não fique em palavra, não fique em aplauso.
O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos,
embarque em cheio na causa dos negros,
como entrou em cheio na Pastoral da Terra e na Pastoral do Índios,
Não basta pedir perdão pelos erros de ontem.
É preciso acertar o passo hoje sem ligar ao que disserem.
Claro que dirão, Mariama, que é política, subversão, que é comunismo.
É, Evangelho de Cristo, Mariama.
Mariama, Mãe querida, problema de negro,
acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos.
Com todos os absurdos contra a humanidade,
com todas as injustiças e opressões.
Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas.
O mundo precisa fabricar é Paz.
Basta de injustiça, de uns sem saber o que fazer com tanta terra
e milhões sem um palmo de terra onde morar.
Basta de uns tendo de vomitar pra poder comer mais
e 50 milhões morrendo de fome num ano só.
Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo
e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.
Mariama, Nossa Senhora, Mãe Querida,
nem precisa ir tão longe como no teu hino.
Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias
e os pobres de mãos cheias.
Nem pobre nem rico.
Nada de escravo de hoje ser o senhor de escravos amanhã.
Basta de escravos.
Um mundo sem senhor e sem escravos.
Um mundo de irmãos.
De irmãos não só de nome e de mentira.
De irmãos de verdade, MARIAMA".
D.Helder Câmara – Arcebispo de Olinda e Recife , in Missa dos Qilombos, 1982.

Fiz questão de publicar essa homília de dom Hélder como se música fosse, pois ela é muito mais do que isso, foi (e continua sendo) para mim uma espécie de hino, desde que a ouvi pela primeira vez nos idos de 1982, comprando logo a seguir o LP, “Missa dos Qilombos”, onde Milton Nascimento, Pedro Tierra e Dom Hélder/Dom Casaldáliga produziram essa missa, de tanta repercussão e tão em falta nos dias atuais, onde tentam novamente criminalizar os feitos do único movimento social legítimo brasileiro, o MST. Hoje, mais do nunca, precisaríamos demais da ação de um dom Hélder, de um dom Evaristo Arns e dom Casaldáliga (o único ainda em atividade). E aqui por Bauru, de um Dom Padin. Hoje, nem a Igreja é mais a mesma e muito menos os movimentos sociais.

Por que fui me lembrar disso exatamente agora? Foi com uma grata surpresa que na abertura da V Mostra Afro, no Museu Histórico Municipal de Bauru, num cartaz feito a pincel atômico por um jovem estudante, onde foram retratados vários líderes, negros ou não, mas sobre o tema, revi a frase final do hino. Foi inevitável vir à tona tudo sobre a Missa dos Quilombos e seus desdobramentos. A força dessa emocionada fala de dom Hélder continua mais viva do que nunca e nós todos, muito precisados de ações como as dele. Ver um jovem produzindo um cartaz, onde está ressaltado essa emocionada fala é para crer que nem tudo está perdido. Retomemos, pois, nossa ação paralisada pelo tempo. Quando me indagam sobre minha religiosidade, respondo sem pestanejar: Acredito na Teologia da Libertação, desses Doms todos citados nesse texto. Se Deus existe é na ação desses aí que ela se manifesta claramente, na luta aos desvalidos, despossuídos, desqualificados e destituídos.

2 comentários:

PÁTICA disse...

Eu também faço parte desse tempo, comprei o disco Milton Nascimento "Missa dos Quilombos", Mariama é um hino de amor e justiça.. também abraço essa causa e amo de coração Dom Hélder Câmara".

Anônimo disse...

acredito também na teologia da libertação e é verdade precisamos religar os motores e retornar o tempo perdido