segunda-feira, 14 de julho de 2008

MEMÓRIA ORAL (40)

MARATONA CULTURAL GRATUITA
Reclamações sempre existiram e existirão, mas nessa semana comprovei pessoalmente a diversidade cultural em Bauru e região, vivenciando uma maratona cultural, com eventos variados em três cidades diferentes, tudo grátis. Continuo concordando que ainda falta muito para se chegar a uma programação que satisfaça todas as camadas sociais, mas não existe como negar a evidência de que muita coisa está sendo feita, e por todos os lugares. Meu relato começa na quarta, por Lençóis Paulista, passa por Bauru na quinta e sexta, terminando em Jaú no domingo. Termino tudo um pouco cansado, porém revitalizado, tendo a oportunidade de acompanhar momentos inebriantes do que andou acontecendo por aqui. Qualquer um poderia fazer o que fiz, para tanto, basta gostar de cultura.

O OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo esteve na região e marcou presença em Bauru por três dias, de quarta a sexta. Assistir a tudo era praticamente impossível. Priorizar alguns eventos se fez necessário e assim foi feito. Na quarta, 09/07, abdiquei de assistir a um Concerto do Quarteto de Cordas da OSESP no Teatro Municipal de Bauru, com capacidade para 450 lugares (ingressos distribuídos com uma hora de antecedência e esgotados rapidamente). Convidei a amiga Lígia Maria Juncal e juntos fomos a Lençóis Paulista, distante 35 km de Bauru, assistir uma apresentação do grupo de vanguarda teatral Satyros, com sua versão de “Vestido de Noiva”, texto de Nélson Rodrigues. O Diretor Cultural de Lençóis, Nilceu Bernardo, trouxe a peça pelo PAC – Programa de Ação Cultural do Governo do Estado de São Paulo e como a cidade ainda não possui o seu teatro, fez uma parceria com a boate Four e levou a peça para lá: “Nosso anfiteatro possui capacidade para 150 pessoas e sentimos que a procura era intensa. Improvisamos na Four, onde tudo foi adaptado, caindo como uma luva dentro da proposta do Satyros”. O local lotou, com convites distribuídos antecipadamente, mas ninguém ficou sem assistir a peça e na saída, uma constatação, o diferente foi aprovado.
Na volta para Bauru, viemos comentando sobre os eventos com a OSESP em Bauru e o que poderíamos assistir no dia seguinte. Lígia deve ter seguido um roteiro próprio, eu estive na quinta, em dois eventos, em locais e horários diferentes. Antecipei a saída do trabalho em dez minutos e fui às 18h, na paróquia Santa Terezinha, assistir ao Concerto do Coro de Câmara da OSESP, formado por mais de 20 integrantes. Assim como eu, quem estava em pé no corredor era a jornalista Verônica Alves Lima, fazendo uma verdadeira maratona para acompanhar tudo o que podia: “A acústica daqui favorece e esse é um grande evento. Vim não só ouvir, como ver a fisionomia das pessoas”. Sivaldo Camargo, diretor de Ação Cultural da SMC era outro a permanecer no corredor, juntamente com dois diretores do SESC local, todos da equipe de organizadores do evento na cidade: “A retaguarda foi primordial para o sucesso desse dia. Estamos cuidando disso há mais de 45 dias e ver tudo dar certo, com o público satisfeito é a grande compensação”. Na saída, encontro com Maria Luiza Carvalho, vice-presidente do Conselho da Condição Feminina, papeando com Hélerson Balderramas, presidente do Comtur – Conselho de Turismo, ambos satisfeitos com o que haviam presenciado. Deu tempo de combinar com ela, uma ida para Jaú no domingo à noite.

Saio de lá e vou direto para o Teatro Municipal de Bauru, onde às 20h, assisto o Concerto do Grupo de Metais, com cinco integrantes da OSESP. Imensa fila para os ingressos e casa novamente cheia, mas todos que lá compareceram assistiram ao “melhor evento dos grupos formados pelos músicos da OSESP, esse com os metais de sopro, talvez pelo repertório mais popular e mais identificado com o que conhecemos. Entrei na última hora, fiquei em pé aqui no fundo e não reclamei. Só elogios. Quem gosta de boa música, enfrenta tudo isso com galhardia”, conta João Carlos, assessor do DAE – Depto de Água e Esgoto. Com a mesma simpatia irradiada no palco, os cinco integrantes do grupo receberam muita gente no final do show e ficaram um bom tempo papeando sobre música, dentre eles, novamente a jornalista Verônica, ainda na busca por presenciar tudo o que for possível.

Dia seguinte, sexta, a grande pedida regional foi sem sombras de dúvidas o Concerto da OSESP, realizado somente em seis cidades, dentro da tournê pelo interior paulista. O aparato para montagem do palco, camarins e espaço Vip demorou uma semana para ser finalizado no Parque Vitória Régia, mas valeu a pena pela grandiosidade, tudo graças ao patrocínio da Volkswagem. A recompensa foi feita com uma apresentação impecável, tendo mais de 100 integrantes no palco, agradando a todos e pelo ótimo astral do maestro John Neschling, conversando com o público de maneira bastante irreverente. Sivaldo Camargo estava em dia de graça, pois tudo aconteceu a contento e sem nenhum incidente. Outro que irradiava alegria por todos os poros era José Augusto Ribeiro Vinagre, o secretário de Cultura que não escondia a alegria: “Já estão falando que o público passou de dez mil pessoas. Olha que coisa mais linda isso aqui cheio e o silêncio de todos na apresentação”. Foram pouco mais de uma hora de apresentação, com direito a dois bis e no final, um relaxamento geral, pois apesar da noite um tanto fria, o presenciado foi mais do que quente. Dentre os muitos a irradiar alegria estava Fábio Fleury, da rádio Unesp FM, comentando que “música de qualidade com casa cheia é sinal de que o caminho a ser trilhado é esse mesmo, sem deixar cair o tom”.

Com um pequeno descanso no sábado, a decisão sobre onde ir no domingo já estava antecipadamente tomada, Jaú, dentro da programação do Festival de Inverno, no show que o multimídia Antonio Nóbrega faria no Teatro Elza Muneratto, com capacidade para 650 pessoas, tudo grátis, também patrocínio do PAC. Para esse empreitada convido mais pessoas a compartilhar comigo a experiência de presenciar o show do brincante pernambucano. Na estrada saímos eu, Sivaldo Camargo, Maria Luiza Carvalho e Duílio Duka de Souza, um amigo de todas as horas. Pouco depois das 19h estávamos a caminho de Jaú, 60 km distante de Bauru. Logo na chegada, na entrada do teatro, a Secretária de Cultura, Lucy Rossi nos reconheceu e veio ao nosso encontro: “Que bom que vieram. Queria também participar dos eventos da OSESP, como vocês de Bauru, mas sabia das minhas limitações. Optei por rechear mais o Festival de Inverno daqui, hoje com o Nóbrega e amanhã com o Oswaldinho do Acordeon. Vocês vem nesse também, né?”. Sem filas, adentramos a sala e o show deixou todos mais do que radiantes, tanto que Duka não se continha e a cada música, irradiava um “Bravo”, em alto e bom som, ouvido em toda sala.

Logo após o carnaval acontecido no fim do show, onde o frevo rolou solto, um papo com Nóbrega, quando Sivaldo lembrou uma passagem por Bauru, 20anos atrás, quando fez várias apresentações em cima do caminhão palco da Prefeitura e no último evento, um tombo e a fratura do pé. “É verdade,trinquei o pé por lá. Ainda não era conhecido como hoje, mas pulava muito mais, era um serelepe. Hoje, bem menos”, relata o artista. Numa outra fala diz aos presentes: “Adoro orquestras e só na cidade de São Paulo são mais de dez, todas com patrocínio e nenhum para grupos de choro. Nada contra, mas chorões existem em todos os lugares, aqui em Jaú também e em nenhum lugar com patrocínio público. Por que?”. No fim da conversa, dirigindo-se a mim diz: “Qual o seu nome mesmo para colocar na dedicatória do CD?”. Sério, peço que o faça para todos: “Escreva o nome de todos, pois fico como original e depois reproduzo uma cópia para os outros aqui presentes”. Nóbrega riu e lascou a tal dedicatória: “Para Henrique, Duca, Luiza e Sivaldo, pirateiros de Bauru, um abraço pirata do Antonio Nóbrega”.

Só não viemos ouvindo o CD na volta, pois meu carro está desprovido de aparelhagem para essa finalidade. De certa forma, foi até salutar, pois isso propiciou um bate-papo intenso sobre as atividades culturais acontecidas e presenciadas na semana. O tom desalentador foi que diante da novíssima Lei Seca, voltei ao volante comendo batatas e chocolate, enquanto o restante do grupo saboreava uma cervejinha gelada. No rescaldo, já estamos alinhavando novos comparecimentos, tanto em Bauru, como pela região e na grande maioria, tudo grátis, como recomendam nossos bolsos. Garimpar é preciso, selecionar também, segue sendo um lema cada vez mais possível de ser seguido por aqui.

Henrique Perazzi de Aquino, Bauru SP, 14 de julho de 2008.

3 comentários:

Anônimo disse...

Olá, Henrique...
Valeu a semana, heim?
Parabéns a quem pode ir a todos esses lugares...
Eu estive amarrada por conta das últimas aulas das Oficinas do Teatro na Educação...
E no fim de semana cheia de compromissos por aqui...
Mas adorei q tenham se divertido mto...
Beijos
MADÊ.

Anônimo disse...

Está no vivendo www.vivendobauru.com.br
RENATO CARDOSO

Anônimo disse...

Bom dia Menino arteiro!



Uma delícia sorver esse texto, se não estivesse lá (não há como negar), sua descrição é contagiante, mas, há controvérsias em relação à cerveja...rs.



Simplesmente incorrigível vc heim!



Um beijão,


maria luiza carvalho