ACERVO FOTOGRÁFICO SOB A GUARDA DE LUCIANO DIAS PIRES E SUA DETERIORAÇÃO
Ao ser perguntado sobre o trabalho de resgate histórico em Bauru e do papel cumprido pelo suplemento mensal do Jornal da Cidade, o “Bauru Ilustrado”, ambos realizados pelo memorialista LUCIANO DIAS PIRES, só tenho elogios a fazer. O jornal já está em circulação há 35 anos e mês a mês relata pedaços/trechos de nossa história. Nesse quesito o jornalista cumpre uma espécie de missão, elogiada por todos, algo único. Se existe alguma ressalva, ela é feita por relatar pouco as histórias populares, dos movimentos sociais, essas coisas. Porém, isso não desmerece seu trabalho. Cada um na sua linha de pensamento e de ação. Luciano possui a sua e trabalha dentro dela.
Como memorialista galgou ao longo dos anos respeito e admiração. Tanto que começou a juntar fotos preciosas da história de Bauru e nesses 35 anos conseguiu juntar o maior acervo já reunido na cidade. Algo de inestimável valor. A divulgação de seu nome, feita com o Bauru Ilustrado sendo encartado dentro do JC contribuiu muito para isso. Famílias passaram a doar pessoalmente a ele suas fotos, acervos pessoais. Virou uma espécie de referência. Ao se desfazer de fotos antigas, ao pensar num local seguro para guardá-las quando o lar deixou de ser o local mais adequado, onde fazê-lo? Luciano esteve sempre pronto a recepcionar esse acervo. Isso foi e continua sendo feito.
Na última edição do Bauru Ilustrado, a de nº 404, março de 2010, a repetição de algo mais do que preocupante. Em sua contracapa, o jornalista volta a relatar a situação em que o mesmo se encontra, em quartos sem a mínima condição de armazenamento num sítio de sua propriedade. Totalmente inadequado e sob risco de perda do mesmo, a situação não pode perdurar. Algo precisa ser feito. E alguns pontos precisam ser esclarecidos e elucidados. A matéria diz que: “O tempo vai passando e, apesar dos vários alertas dirigidos não somente ao poder público, mas também ao setor privado, até agora não houve uma resposta sequer quanto ao apoio necessário à conservação dessa verdadeira documentação”.
Uma meia verdade. Entendo a questão da seguinte forma. Soluções já foram dadas e não aceitas pelo memorialista. Na administração municipal passada, a Secretaria Municipal de Cultura ofereceu um amplo local para abrigar esse rico acervo e sua transferência aos seus domínios. Nada avançou, porque, na verdade a solução proposta teria que passar pela compra do acervo. Ele não aceita em hipótese nenhuma doar o acervo para outrem cuidar. Isso precisa ficar bem claro. O espaço oferecido seria o último andar da Casa Sampaio, amplo local, localizado na quadra 2 da Rua Batista de Carvalho. Nada avança se não envolver a compra. Ocorreram tentativas do jornalista oferecendo para empresários da cidade em valores altos e nada avançou. Não se trata de doação, transferência de acervo e sim, venda, comercialização.
Algumas perguntas. O jornalista nada comprou desse acervo. Tudo foi recebido em doação e hoje vende o uso de fotos para fins comerciais e quer obter um lucro com o seu repasse. Seria justo isso? Não seria mais louvável, como respeitado memorialista, dar um fecho de ouro a tudo o que tem feito pela cidade, doando para a Prefeitura fazer dela um uso mais conveniente? Teríamos todas as condições de cobrar a Prefeitura, buscando a forma mais adequada de manuseio e seu armanezamento. Coleções de particulares são mais difíceis as cobranças. Por que a ITE teria fechado às portas do seu Núcleo de Documentação, quando o memorialista o dirigia? Pouco se fala disso, mas todos comentam motivos outros. Logo a seguir a FUNDATO, também da ITE faz o mesmo com o seu Centro de Memória e outro agravante, o acervo fotográfico de duas famílias históricas de fotógrafos, a do Giaxa e do Guedes foram totalmente resgatadas pelo jornalista, sem custo algum. Parte da história da cidade está em sua mãos.
Entendo que o jornalista já deixou bem claro seu posicionamento. É detentor do acervo e dele só vai dispor se vendê-lo. Pelos textos rotineiramente publicados nas edições do BI, deixa claro que tudo está em lugar impróprio e deteriorando-se a cada dia. Quer queiramos ou não, o jornalista assume não estar em condições de continuar com o acervo. É réu confesso da inabilidade e falta de espaço adequado para tanto. E nada vai ser feito? É um desrespeito à própria cidade a continuidade disso da forma como está. Converso na rua com um fotógrafo de uma das famílias, cujos acervos estão em poder do jornalista e vi o desespero em sua face. O assunto foi discutido na última reunião do Cine Clube Aldire Pereira Guedes e por minha iniciativa, a Associação Amigos dos Museus de Bauru está oficiando o Ministério Público em busca de uma solução rápida e definitiva para o imbróglio, buscando um diálogo entre as partes.
O memorialista é uma pessoa de certa idade, com mais de 80 anos, merecedor de todo o respeito por sua pessoa e atuação, mas discordo de alguns posicionamentos e esse um deles. Por que continuar mantendo isso sob sua guarda, ciente de que perdas se sucedem a cada dia que passa? Falta bom senso e alguém com disposição para dialogar com o mesmo. Ele querendo permanecer com os originais, que assim ocorra, mas permita que tudo venha a ser digitalizado e isso disponibilizado à população. Enquanto isso não é decidido, o mais rico acervo fotográfico da cidade permanece em um quartinho abafado num sítio. Está dado o pontapé inicial para que algo ocorra e já. Esperar mais é correr mais riscos. Além do envolvimento de todos os interessados, jogo a bola, com uma ampla riqueza de detalhes, para uma averiguação do Ministério Público.
OBS.: Para verem os textos de jornais e o documento em tamanho grande, cliquem sobre os mesmos.
12 comentários:
Henrique, bravíssima iniciativa! Corajosa e de interesse público. Valeria a pena envolver a Camara Municipal nesse debate.
abraços,
Beto Maringoni
PS. Vc tem o telefone do Paulo Neves? Preciso detalhar com ele minha ida a Bauru e tenho apenas o email
Oi Henrique!
Quero te dar parabéns pela iniciativa, esse acervo deve ser tombado como patrimônio público, é memória visual da cidade e de seus habitantes. As fotos são documentos históricos tão importantes quanto os outros tipos de documentos.Já precisei consultar esse acervo quando fazia uma pesquisa há muitos anos atrás e me foi vedado o acesso.Tomara que vocês consigam uma saída para tal impasse.Bauru merece esse acervo aberto a visitação.Boa sorte.Bjus.
MARIA CRISTINA ROMÃO DA SILVA
Henrique, confesso que este é um assunto complicado.
Penso que deveria sim existir uma "contra-partida" por parte do maior interessado nisso tudo.
Embora eu ache que a doação seria o caminho mais viável, porém existe o interesse financeiro, e pelo que li, sem dinheiro NÃO TEM ACORDO!
Embora para uma pessoa de 80 anos, seja lá qual for este valor, penso que ...caixão não tem gaveta!
Lindo gesto teve recentemente o bibliófilo,sr. José Mindlin, que pouco antes de "partir", doou todo seu acêrvo sem nada pedir em troca, a não ser que "...cuidem com o mesmo amor que cuidei dos livros!".
Isto sim é exemplo de cidadania!
Abraços!
ACPavanato
Henrique só uma opinião pertinente, o Bauru Ilustrado retrata a memória dos que se apossaram da cidade, como bem citou nada dos movimentos populares, para mim é algo que não me diz absoltamente nada. Pura média com aqueles qu etanto combatemos.
No mais assino em baixo seu questionamento.
Marcos Paulo
Mov. Comunismo em Ação
comunitário
seu comunitário está pertinente ,a linha de pensamento do sr. Luciano o faz meio historiador, não se pode desprezar a historia dos trabalhadores numa cidade como a nossa onde houve significativas lutas de interesse de toda a sociedade.
proletário
O sol cúplico cobre as almas
de aparências esquelética
como suplica os operários
desejam salário e ética
num sonho lúdico de justiça
com justesa não patética
ao estado perdulário
pede-se mais salário e ética
desde os tempos mais remoto
em obras históricas e épicas
tem o seu suor diário
sempre sem salário e ética
morrem-se de escravidão
ou alimentação milimétrica
ecoam os campanários
cobrando salário e ética
lázaro carneiro
Henricão
Não espere repercussão na imprensa com este assunto. Você sabe que existem pessoas ditas intocáveis na cidade. Acompanhe o que o Ministério Público fará sobre o tema, isso sim muito importante. Não espere que a imprensa abra espaço para discutir isso. Ele não virá.
Não concordo com documentos ganhos ao longo dos anos serem revendidos.
Rosana
OLá
O Sr. Luciano é um guardião da memória baurense .Lembrei-me de que em vários momentos, nas ações do CAC- Conselho de Ação Cultural, auxiliou-nos e muito .
Caso o encontre envie abraços e minha respeitabilidade pelo delicado e persistente trabalho .
Saudações Culturais !
Susy Mey Truzzi - Garça SP
www.culturagarca.wordpress.com
www.teatromiguelmonico.wordpress.com
Caro amigo Henrique.
Parabéns pela excelente reportagem.
Coloco-me a sua disposição caso queira formar uma comissão de bauruenses interessada em resgatar a histrória de Bauru.
Não sou jornalista, nem professor de História ou historiador, mas como professor e principalmente como bauruense que ama esta terra, sinto-me no dever e obrigação de cerrar fileiras com você.
Conte comigo pra o que for necessario.
Do amigo de sempre,
Toka
Henrique
Quero aproveitar seu texto para algumas considerações:
O acervo foi juntado por ele e até hoje mantido por ele. Errado ou não, está sob seu poder. Ele sabe que está em condições inviáveis. Aí a pergunta: Não existe ninguém, talvez do próprio Jornal da Cidade a propror a ele algo gransioso, com todo esse acervo ser repassado para a Prefeitura, que cuidaria de tudo, mas sob sua supervisão e acompanhamento?
Quer dizer, o acervo seria cuidado e teria a supervisão em vida do jornalista Luciano. Falta alguém sensibilizá-lo para isso. Não acredito ser trabalho difícil, um diretor do jornal. Ele se vergaria e teria seu nome imortalizado, talvez igual ao feito com o Gabriel Ruiz Pelegrina lá na USC, onde leva seu nome o acervo doado para aquela instituição educacional.
Instigue para que alguém do jornal faça isso. É uma ótima solução e o jornal teria seus louros. Resolveria situação de calamidade vista e divulgada por ele mesmo e ninguém macularia o seu nome.
Acho tão simples isso. Falta alguém conversar com ele e fazê-lo entender que o momento não é para se vender aquilo tudo para um outro particular. Ouço muito dessa situação pela cidade, mas ninguém quer ofender o jornalista e iniciar o debate. Voce foi corajoso e se expôs, mas poucos estarão abertamente ao seu lado, apesar de muitos comentarem sobre isso nos bastidores. E você não foi mal educado com ele. Quer é discutir o assunto. O mais indicado paar resolver isso é o próprio pessoal do Jornal da Cidade e eles precisam entender o papel que cumprem nisso tudo.
Espero ter contribuido
PL.
Caro Henrique
Parabéns pelo seu empenho. Quero participar dessa empreitada que tem como objetivo salvar a nossa memória, dando um lugar seguro e digno para o acervo histórico não só do Luciano mas de outros pesquisadores e memorialistas existentes em Bauru: Irineu Azavedo Bastos, Alcides Silva, Gabriel Ruiz Pelegrina, João Francisco Tidei de Lima, Antonio Pedroso Junior, Losnak Professor da UNESP, familiares do finado professor Hélcio Pupo Ribeiro, Profa Dra Terezinha Santa Rosa Zanlochi, e tantos outros...
Saudações socialistas Isaias Daibem
Henrique,
Bom dia!
Compramos uma briga.
Um abraço
Flavio Guedes.
PARABÉNS PELA INICIATIVA! ABRAÇO,
T. ZANLOCHI
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