terça-feira, 16 de março de 2010

UMA DICA (53)

BETO MARINGONI E A VENEZUELA QUE SE INVENTA
Começou ontem aqui em Bauru a 2ª edição do Encontro “Perspectivas para a América Latina no Século XXI”, com a palestra “A Venezuela que se inventa”, do sociólogo e chargista bauruense Gilberto Maringoni. Lá estive junto de uma grande quantidade de alunos do Colégio D’Incao e ilustres bauruenses, entre eles Darcy Gasparini, Bordini, Lázaro Carneiro, Roque Ferreira, Vitor Martinello, Darcy Rodrigues, Fábio Pallotta, Ana Bia Andrade, Luís Paulo Domingues, Fabrício, Silvio Durante e outros. Na apresentação do professor e diretor do colégio Carlos D’Incao, algo significativo a representar o lema do encontro: “Um debate mais próximo da verdade dos fatos”. Em pouco menos de duas horas, com a fala e um ciclo de perguntas e respostas, a situação da América Latina e daquele país foi escancarada. Antes de entrar no tema, Maringoni faz um rasgado elogio à Paulo Neves: “Fui aluno do Paulo há 35 anos atrás e ele já era o aglutinador existencial para discussão do mundo. Foi uma meta para toda uma geração na cidade. Ficamos sem nos ver e nos reencontros, percebemos que continuamos falando e pensando da mesma forma”. Extrai da palestra algo reproduzido abaixo entre aspas:


“O Brasil mudou. Não temos mais aquele complexo de nos sentirmos inferiorizados. Isso foi a mola mestra para melhorar o país. Lula está hoje no parlamento israelense, um país agressor e diz que precisa existir uma nação palestina. Chegar até aqui foi um longo ciclo, completado com 200 Anos de Independência de Argentina, Uruguai, Colômbia, Equador e Brasil. Hoje a América Latina possui 400 milhões de habitantes e seus países se movem mais ou menos de maneira sincronizada. Temos todos a ver um com o outro, porque os ciclos são todos muito semelhantes. Todos foram repúblicas oligárquicas ao mesmo tempo. As ditaduras vigoraram por aqui até os anos 80 e depois surgem os liberais. Na verdade, os liberais deveriam querer a liberdade, essa a expressão do termo, mas os nossos queriam outra coisa. Prevaleceu então os direitos do mercado e a liberdade deles fazerem o que bem entenderem. Isso é bem diferente da liberdade que nós queremos. Privatizaram tudo, até zoológico foi privatizado, venderam as aposentadorias. Tudo o mercado resolvia. Vigorou nos anos 90 o ciclo neoliberal, quando tudo foi vendido, estado mínimo e todo poder ao mercado. Deixaram quebrar tudo, como as ferrovias, com o intuito de vender tudo. Os serviços ficaram caríssimos e o povo começou a ficar descontente. FHC, Perez, Menén, Pastrana, Fujimori foram os chefes de estado nesse período. Desponta uma significativa revolta, a da água na Bolívia, que foi a sublevação do povo contra isso tudo. O descontentamento tomou volume e onde ele foi mais agudo foi na Venezuela, pois o país não se industrializou, sempre produziu muito petróleo, só isso, mais nada. Tudo o mais é importado, até copo de papel. O empresariado é pequeno, não existe nenhuma grande indústria. E o preço do petróleo oscila de acordo com a sua oferta e procura. Em momentos preços muito altos e em outros baixo demais. Difícil entender o tal do preço especulativo, pois na baixa se compra um papel em grande quantidade, ficando o especulador dono de algo que ainda nem foi extraído. E o seu preço sempre foi determinante para a economia do país. Quando o preço está alto, a vida do venezuelano melhora e quando está baixo tudo fica mais difícil. Notem que o petróleo está localizado em países pobres e quem consome são os ricos. Em queda ocorre a pauperização da população. Isso se dá em maior intensidade no final dos anos 80, começo dos 90. Nesse clima surge em 1992 um militar nacionalista e decide derrubar com toda a viciada estrutura com um golpe de Estado. Chávez é seu nome, perde a primeira batalha e é preso. Cercado e acuado, demonstra uma incomum coragem, transformando-se numa figura das mais populares. Ganha fácil a eleição seguinte e inicia um governo onde prega a justiça social. Começa a incomodar e sofre todo tipo de desqualificação e chacotas nos programas de rádio, principalmente TV. E ele começa a combater algumas injustiças seculares, como a do rico não pagar imposto. Observem que durante todos os anos com Chávez, o país nunca deixou de ter uma absoluta liberdade de imprensa e nunca existiram presos políticos. A Venezuela representou um impulso no sentido do caráter público reformista em toda a América Latina. Despontaram na seqüência, Kirchner, Lula, Evo e Correa, crescendo o ódio dos setores retrógrados com os novos rumos. Não se perdeu dinheiro com nenhum desses, muito menos com Chávez, tanto que muitos grandes empresários ainda querem ir para lá. A América Latina vive outros tempos, muito mais democráticos que os do passado. Esses governos conseguiram melhorar a vida dos seus povos, porque seus produtos, como a carne, petróleo, soja, gás, café, os produtos primários de uma forma geral aumentaram de preço. O mundo comprou mais, a China adentra o mercado e os países melhoraram sua situação. E com a crise mundial todos tiveram uma piora. O estado tem sido fundamental para tirar esses países da letargia, portanto, fortalecer o Estado é uma necessidade da economia. Chávez é um militar nacionalista, vem dessa tendência. Vira um homem de esquerda depois que assume o governo. A direita empurrou a maioria desses para a esquerda. Todos tiveram que assumir papéis sociais empurrados pela situação. Essa luta política que existe hoje na AL não existe em nenhum outro lugar do mundo. A possibilidade real de efervescência no mundo ocorre hoje só na América Latina. O Chávez ataca quem ataca a democracia, só e tão somente. Não existe um outro país que teve tanta eleição como na Venezuela. Não existe um outro caminho acompanhando o que dita a mídia de uma forma geral, as brechas são mínimas. Palestra como essa deve proliferar, muito debate, muita conversa. Não estou aqui para convencer ninguém. O importante é vocês irem atrás e descobrirem isso tudo por vocês mesmos”.
Hoje, 16/03, mesmo horário e local, CARLOS LATUFF, com a palestra 'UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL'.

4 comentários:

Anônimo disse...

henrique
obrigada, mais uma vez, pelo convite para conhecer um pouco mais desta terrinha. ainda não sou bauruense e tampouco ilustra, mas obrigada também por ter me inserido no rol de pessoas tão bacanas e importantes como as que estavam lá ontem. oportunidade de ouvir também estórias de engajamento político e ideais de cidadania que não imaginava serem tão fortes por aqui. desculma minha ignorância quanto a bauru. muito bonito ver a moçada participando com perguntas inteligentes e todos atentos sem sairem no meio da fala. para uma professora isto dá um gás danado para prosseguir a cada dia com tudo ! dei até uma aula especialmente inspirada hoje. tenho certeza que hoje vai ser muito bom também. abracitos da ana bia andrade

Unknown disse...

Adorei ter ido na palestra do Maringoni e mais ainda por ter seguido um convite enviado por ti a mim de ir também no do Latuff.

Gostei de ambas, empolgantes e pude conversar com o Latuff na saída. Que cara legal. Pena que é de tão longe e tudo passou tão rápido.

Você tem o email dele?

Katá L. Garcia

Unknown disse...

Henricovsky meu broder, pois é, sempre me dando moral e me enchendo a bola. Depois que dizem que sou egocentrico, coloco a culpa em vc, pois então, não moro mais naquela casa, Princesa Isabel me deu outra alforri, mas estou na área, tu sabe meu fone estou na área e se eu cai9r, apita que é penalti!!! abraços calorosos e lembrando sempre ao Serrote: A Dona Dilma vai ganhááááá...

Anônimo disse...

henriquissimo!
grande! você conseguiu dar sentido e concisão á minha fala.
obrigado pela força e pela atenção.
e mais uma vez, parabéns pelo blog.
abraços,
beto maringoni