segunda-feira, 1 de março de 2010

DIÁRIO DE CUBA (48)

REVENDO HILDA MARIN E FÁBIO GONZÁLEZ NUMA TARDE DE TERÇA
Aqui o relato de uma parte da segunda metade do dia 25/03/2008, uma terça-feira, passado em Havana. Era pouco mais de 13h30 quando chegamos, eu e Marcos Paulo até a casa de Hilda Marin, a mãe da pianista Rosa Tolón, nossa amiga e professora de música na USC em Bauru. Quem nos recebe é seu filho Lázaro, ferroviário, que de folga nesse dia, fazia uma visita à mãe e a ajudava numa pequena reforma que realizava em sua casa. Hilda, de bobes e lenço na cabeça nos recebe alegremente, como é de seu feitio. Disse estarmos adiantados, pois nos esperava bem depois das 14h.Tomamos a água que tanto queríamos e eu um café cubano, feito na hora. Sentamos e descrevemos um pouco do que havíamos visto na nossa viagem pelo interior do país. Lázaro entra na conversa e nos faz uma descrição da situação férrea de Cuba e como na época ainda trabalhava no setor de Cultura do município de Bauru, esse assunto tomou boa parte de nosso tempo.

Lázaro, 52 anos é magro, não muito alto e trabalharia nos dois dias seguintes, 16h em cada, folgando os dois subseqüentes. Essa sua rotina. É maquinista e viajou muito pelo país todo, hoje não mais, permanecendo somente em Havana. Diz já ter trabalhado com locomotivas de vários países. Das máquinas soviéticas diz serem muito resistentes, todas durando já muito mais de quarenta anos. "Recentemente Cuba comprou algumas chinesas e sua durabilidade é de somente uns dois anos, sendo muito duras, porém confortáveis, possuindo até ar-condicionado", nos diz. Fez muitos cursos para manobrá-la, mas afirma não possuir a resistência da soviética e segundo ele, apresenta problemas constantes. Ficamos de trocar prospectos ferroviários.

Disse que uma viagem entre Havana e Santiago de Cuba chega a durar por volta de umas quinze horas, isso quando tudo corre bem, podendo chegar, em alguns casos até a 24 horas. Não existe vagão restaurante em Cuba e sim, uma ferromoça, servindo bebidas e lanches diversos. Quando nos despedimos de Hilda, com um forte abraço, ele caminha conosco por várias quadras e o papo foi rolando até a despedida. tenta nos explicar umas alternativas de caminhos para nosso próximo compromisso, localizado nuns dois quilometros dali. Nossa decisão é sempre a mesma, ir caminhando. Adoramos a placa de uma escola, "Circulo Infantil - Futuros Comunistas". Tiramos a foto para mostrar nas escolas brasileiras e esperar a reação. Num outro local, um marco usado com a inscrição da rua, tendo a mesma utilidade das placas de rua brasileiras.

Por volta das 16h, outro reencontro, dessa vez com o Fábio S. González, do ICAP. Descemos a avenida 19 e tivemos uma certa dificuldade para achar a numeração correta. Demos umas boas voltas e quando cai a ficha, de que o local estava ao lado de uma igreja, adentramos logo. Ele falou conosco por quase uma hora. Ficamos sabendo que estaria em São Paulo em maio daquele ano e de sua fala extrai o seguinte: “Tenho grande preocupação com o reconhecimento dos títulos de universidades cubanas. O multipartidarismo é nocivo a revolução, pois a maioria dos partidos está ligado à corrupção. A única maneira de se conseguir a unidade é tendo somente um partido. Muitos neoliberais desconhecem totalmente a realidade social que os cercam e quando a descobrem, até refazem suas vidas. Não temos problemas com a continuidade da revolução, pois o povo cubano sabe muito bem o que quer, como sabe muito bem o que não quer. A revolução está muito bem consolidada. Temos uma admiração muito grande por Chávez e pelo seu posicionamento a nosso favor. Ele é um dos poucos que, por onde ande, faz questão de sempre mencionar a questão dos cinco prisioneiros cubanos nos EUA. A religião já foi grande preocupação nossa, hoje não é mais, pois existe um relacionamento de respeito para conosco. A igreja em Cuba sempre foi classista, fez a defesa de uma classe. Dizem que quando tem dois cubanos no mesmo lugar, fica-se diante de três problemas. O cubano discute de tudo, conhece um pouco de tudo e não se furta de emitir sua opinião”.

Nos despedimos reafirmando nossa vontade de reencontrá-lo no Brasil e se possível, levá-lo até Bauru quando de sua estada (não foi possível o reencontro no Brasil). Passará pelo Rio e depois São Paulo. Anotamos todas as datas. Tanto ele como Hilda nos deram algumas lições e explicações sobre o funcionamento do país, que reproduzo aqui no próximo texto.

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