Aqui em Bauru existe um exemplo clássico do que denomino de “remar contra a maré”. Nossa praça principal, a Rui Barbosa, localizada junto à catedral católica, no final do Calçadão da rua Batista de Carvalho era algo a simbolizar um passado onde a valorização do verde estava mais do presente. Existia até um lago com jacarés, uma espécie de ponte, muros verdes ladeando jardins. Coisa de uns dez anos atrás, num projeto de reforma do local, tudo foi retirado e o verde substituído pelo concreto. Ficou aquele vazio no meio da praça. A sombra sempre presente foi substituída pelo implacável sol. Hoje, o prefeito atual, que culpa nenhuma possui dos erros do passado, tenta valorizar aquele espaço e revive um lago com chafariz, bonito de ser visto, mas não devolve as árvores ao local. O espaço livre hoje é ocupado por skatistas, que sobem e descem suas rampas com seus apetrechos, servindo também para arregimentar pessoas em grandes concentrações, como shows, discursos bíblicos e até políticos.
Essa nova destinação não me parece a mais correta. Não me chamem de saudosista, mas continuo preferindo usufruir da praça como era antes, cheia de verde e com menos concreto. O espaço para eventos e shows grandiosos poderia ser outro. A praça, com seu coreto (o nosso continua aqui), poderia continuar recebendo eventos pequenos, como os saraus com bandas a embalar nossos sonhos. Nada além disso. A tristeza maior é que tudo que ocorre hoje em nossas praças é feito com um discurso de modernidade, de progresso, de coisa nova em detrimento da velha, cansada, ultrapassada. Pura balela.
Entristece circular por algumas cidades de nossa região e ver suas antigas praças sendo destruídas e em seu lugar, ou melhor, no lugar do verde, chegando a feia cor do concreto. Que raio de modernidade será essa que não valoriza o passado de uma cidade? Não consigo entender essas coisas. Percebo isso em várias cidades e acredito que em nenhuma delas a população foi consultada sobre o assunto. No mínimo, uma consulta à população seria o mais conveniente. Isso não foi feito, tenham certeza.
Escrevo isso nesse momento, pois ouço que o Governo paulista está distribuindo uma verba com a finalidade de remodelação de praças e muitas delas já foram executadas, outras tantas estão com obras em pleno andamento e algumas estudando o assunto. Uma movimentação no sentido de estabelecer um diálogo entre o poder público municipal e seus munícipes é a melhor solução para equacionar isso tudo. Coisa feia é fazer as obras sem saber se o povo quer a mudança. Remodelar é uma coisa, mutilar é outra. Não deixem isso acontecer na sua cidade. Lutem e esbravejem.
HPA, 49 defendendo praças, redutos antigos de sombra e papo, onde arolança do tempo ainda flui.
*Fugi de Bauru e da Copa do Mundo neste último final de semana. Fui para um recanto distante 480 km de Bauru, São Francisco Xavier, pequeno distrito de São José dos Campos. Dessa forma, estive desplugado de internet e qualquer outro meio de comunicação. Fui comemorar o Dia dos Namorados. Voltei à normalidade agora, domingo, 23h. Da viagem conto algo em dois futuros posts. Do texto das praças, as fotos, todas da praça Rui Barbosa bauruense, uma antiga do Giaxa e outras recentes, com o concreto em evidência.
7 comentários:
Realmente concordo muito com o que o sr disse, em Pompeia, existe uma praça das mais belas que eu ja vi.
Um abraço
Junior
Oi Henrique
Lembrando que a praça de Reginópolis está passando por isso...
Uma lástima!!
Abração
W.Leite
Meus caros
A de Pompéia é bela mesmo. E a de Jaú, que revia na quarta passada, uma beleza de verde encravada no centro da cidade. A de Reginópolis, meu caro W.Leite é uma lástima e não a citei, pois não quero criar problemas para nosso amigo Fausto, mas estão fazendo algo lamentável e deformando algo tão belo. Foi triste ver aquilo, não?
Henrique - direto do mafuá
há pracinhas em cidades - vilas pequenas muito cuidaddas. este é uma parte do espaço urbano que agrega pessoas. a música e a literatura brasileira retratam isto muito bem. vimos em são francisco xavier. tão bonito um espaço mantido com a vegetação não desmatada... é uma pena que o poder público imagine que concretar é a maneira melhor de agregar. em reginópolis, o seu zezinho mesmo mostrou o quanto o material que estava sendo substituído pelo original dará - em pouco tempo - origem a buracos e desníveis - terrívies, principalmente para pessoas idosas, crianças, deficientes e mulheres de salto alto ! tão gostoso passear na pracinha de noite.... mas, também não adianta concretar a rui barbosa - segundo ouvi por motivos de "crimes" e verificar aos finais de semana grupos de jovens e adolescentes "crackeados" a luz do dia. também não adianta olhar pra vitória régia e ver o descaso com os brinquedos infantis que, além de ninhos de mosquitos de dengue - não oferecem a mínima segurança para os pimpolhos. há que se pensar. quem está no poder público recebe sálário para isto. quem é população deve atuar operacional, praticamente e com reflexões encaminhadas a fim de que possamos melhorar a qualidade de vida como um todo. ana bia andrade
A nossa praça aqui em Pirajuí é linda e prefeito nenhum faz alguma alteração sem consultar a população. Nem é louco. Pegamos ele de pau se durrubar as arvores de lá.
Pedrão Galileu
Oi Henrique,
Beleza de foto do Giaxa ai de Bauru e coisa mais linda que era esta Praça Ruy Barbosa cheia de vida! E tem gente que acha que isto é que é progresso!
É demais mesmo!
Cassio
Muito boas considerações. Realmente, Bauru tem a vantagem de ter preservado esse conjunto simples, mas poderoso, de "Igreja Matriz + praça central" tão característico das cidades de tradição ibérica. Gostaria muito de passear em Bauru e me demorar por ali, inclusive participando da Santa Missa na catedral. Com a graça de Deus, conseguirei. Aqui em Osasco não pudemos ter esse binômio poderoso, por conta da topografia acidentada que marca a maior parte da cidade, e também porque desde antes da formação urbaba, a hoje Avenida Santo Antonio já era uma estrada importante e acharam melhor não redesenhá-la. No tocante à arquitetura sacra, Bauru e Osasco podem dar as mãos, já que ambas catedrais são de estilo modernista (aqui as coisas começam a mudar, finalmente).
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