Eu quero bater papo, conversar mais, pois ninguém agüenta notícia 24h por dia. Como se diz no linguajar mais simples, “quero é enrolation”. Hoje estou meio que cansado das coberturas jornalísticas presenciadas nos últimos dias. O jornalismo como estava acostumado está em baixa, pois hoje, predomina algo além da notícia, uma interpretação mais do que pessoal do interlocutor, segundo o seu ponto de vista, ou seja, puxando a brasa para sua interpretação e o lado em que se encontra. Nesses dias aqui na Cidade Maravilhosa estou trancado numa casa no meio do bairro do Grajaú e separando livros, a biblioteca pessoal do meu sogro, José Pereira de Andrade, falecido há um ano e meio atrás. São três cômodos lotados com caixas e mais caixas de livros e como meus dias por aqui são sempre intensos, recheados de pouco tempo livre, escolhi um deles para repassar algo para os freqüentadores de meus posts diários nesse mafuento espaço.
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Um livrão, tamanho grande, com letras garrafais, o “P. Leminski 80 poemas”, edição Zap Curitiba, 1980, com poesias curtas de um dos nossos maiores poetas, Paulo Leminski. O livro é para ser folheado no estilo vapt-vupt e ótimo para ser colocado nessas salas de espera de médicos, quando pegamos a primeira revista que encontramos pela frente e vamos virando as páginas meio que automáticas. Pegando esse, a leitura poderia ser muito mais proveitosa, pois daria para se fazer uma bela reflexão a cada virada de página. Vamos a algumas dessas frases, escolhidas a dedo para encerrar o mês de outubro com sugestão de muita reflexão dentro de nossas cacholas:
- “Não fosse isso/ e era menos/ não fosse tanto/e era quase”.
- “Parem/ eu confesso/ sou poeta./ Cada manhã que nasce/ me nasce/ uma rosa na face./ Parem/ eu confesso/ sou poeta./ Só meu amor é meu deus/ eu sou o seu profeta”.
- ”O Paulo Leminski/ é uma cachorro louco/ que deve ser morto/ a pau e pedra/ a fogo a pique/ senão é bem capaz/ o filhodaputa/ de fazer chover/ em nosso piquenique”.
- “O barro toma a forma que você quiser/ você nem sabe estar fazendo apenas o que o barro quer”.
- “Soubesse que era assim/ não teria nascido/ e nunca teria sabido./ Ninguém nasce sabendo/ até que eu sou meio esquecido/ mas disso eu sempre me lembro”.
- “Quero a vitória do time de várzea/ valente/ covarde/ a derrota do campeão/ 5 X 0 em seu próprio chão/ circo dentro do pão”.
- “Acordei bemol/ tudo estava sustenido./ Sol fazia/ são não fazia sentido.”.
- “Manchete:/ Chutes de poeta não levam perigo à meta”.
- “Passa e volta/ a cada gole/ uma revolta”.
- “Cansei da frase polida/ por anjos da cara pálida/ palmeiras batendo palmas/ ao passarem paradas/ agora eu quero a pedrada/ chuva de pedras/ palavras distribuindo pauladas”.
- “Em La lucha de classes/ todas lãs armas son buenas/ piedras/ noches/ poemas”.
- “Soprando esse bambu/ só tiro/ o que lhe deu o vento”.
- “Já fui coisa escrita na lousa/ hoje sem musa/ apenas meu nome escrito na blusa”.
- “A vida é as vacas/ que você põe no rio/ para atrair as piranhas/ enquanto a boiada passa”.
- “A vida varia/ o que valia menos/ passa a valer mais/ quando desvaria”.
- “A vida varia/ o que valia menos/ passa a valer mais/ quando desvaria”.