sábado, 13 de outubro de 2012

MEUS TEXTOS NO BOM DIA BAURU (196,197 e 198)* *eis mais três artigos, publicados aos sábados na seção “Formador de Opinião”.

EU NOS NOVENTA ANOS DO RÁDIO – publicado edição de 28/09/2012
Rádio é comigo mesmo, ouço desde os cueiros. Acredito que minhas primeiras recordações sejam com a Bandeirantes, programa do Seu Leporace, o do Trabuco, cuja musiquinha sei até hoje. Fiori Gigliotti fez história e o “abrem-se as cortinas” e o “fecha-se o espetáculo” foram marcantes. Em Bauru ouvi muito Flávio Pedroso e Valter Neto. Paulo Sérgio Simonetti e João Carlos de Almeida narrando jogos são gratas recordações. Tenho uma vaga lembrança de uma gincana de auditório no Sindicato dos Ferroviários, o da rua Antonio Alves. Saia correndo levando o solicitado sem nunca ganhar nada, tudo estripulia do Barbosa Jr, no ar até hoje. Netão, aprontando até hoje no microfone não sabe dessa, mas lá pelos meus quinze anos, ele tinha um programa com o famoso bordão, “se você não quer ser notícia, não deixe acontecer” e abria para ligações de ouvintes. Certa vez, em plena ditadura militar liguei de um orelhão e quando me pede para dizer o nome, solto algo assim: “Um viva para todos os comunistas de Bauru, que são perseguidos pela ditadura”. Desliguei e voltei correndo para casa com medo de ser descoberto. Esse escrito é para reverenciar alguns desses revolvedores de boas lembranças. Galvão de Moura e Dedé, culpados pelo meu noroestismo. José Esmeraldi fazia bailar e João Dez e Meia, o refinado. Laudze Menezes descia a lenha pelas manhãs. Subi muito ao São Geraldo para falar com o Beto Pampa lá no estúdio da 96, um dos incentivadores de muita MPB nas FMs e lá no fundo, batendo sempre uma máquina de escrever estava João Jabbour. A 710 foi resistente enquanto viveu José Nelson Carvalho e a Auri-Verde, Tobias Ferreira. Sempre detestei a intromissão dos religiosos no dial, mais enganando incautos que profetizando. Uma praga no seu dial. Depois da bajulação, para espanto de alguns, registro o meu momento mais importante do rádio. O papel tido na Revolução Cubana, nas matas de Sierra Maestra motivando um país a resistir. A revolução deve essa ao rádio. Do momento atual, escrevo qualquer dia desses.

ELEIÇÃO VISTA DA BANCA DO ADILSON – publicado edição de 05/10/2012
Dias que antecedem uma eleição e querendo saber das novidades, nada melhor do que uma passada pela Banca do Adilson, ali na esquina da Treze com a 1º de Agosto. Gravita de tudo naquele democrático balcão de conversa fiada. Uns a trazem, alguns a escutam e muitos a multiplicam. Numa animada roda, o assunto era responder a pergunta trazida pelo vento: “Em quem você não votaria de jeito nenhum?”. Juntou gente. Adilson guarda debaixo do balcão um caderno lotado com santinhos colados, candidatos de várias eleições passadas, feito um álbum de figurinhas. A preciosidade circula de mão em mão e ajuda a fervilhar a discussão. Filtro e resumo o que consegui captar. “De jeito nenhum voto em alguém daquela agremiação, que mesmo tendo criado o Real, moeda benéfica, quebraram o país duas vezes antes de entregá-lo ao seu sucessor. Eu nos que transformaram as privatizações numa bandalheira, mensaleiros escapando do banco dos réus por causa da ajuda midiática. Eu nos que mantiveram o país em posição satelitar, dependente e passiva, preferindo a Alca ao Mercosul. E eu nos espalhadores de maledicências via internet, sempre com o intuito de favorecer o seu lado, ludibriadores da fé pública. Eu em partidos vinculados ao neoliberalismo ou ao detestável Consenso de Washington. Eu no voto de cabresto assoprado dos púlpitos, tudo goela abaixo. Eu nos que são pagos para fiscalizar, porém tornam-se loteadores de cargos públicos. Pulo fora de santo do pau oco, preconceituoso e moralista, esses os piores. Quem faz uso desmedido da primeira pessoa, se diz salvador, mais capacitado, eleito dos céus, iluminado, mantenho distância. Renego os defensores da especulação imobiliária. Cansei de votar nos menos ruins, depois tão ruins quanto todos os já denominados ruins. Em conservador não voto e fico atento nos progressistas só da boca para fora.” Adilson pouco participa, ocupado com seus clientes, mas diante de tantas opiniões, interrompe e solta a definitiva: “E sobra quem disso tudo?”. Tem início outra discussão.

CÂMARA DE POPULARES E GAIATOS – publicado na edição de 13/10/2012
A eleição já é coisa do passado, mas o assunto continua rendendo boas e picantes histórias na Banca do Adilson. O ponto fervilhou com temas variados. “Tem muita Mãe Diná na cidade. Tem um aí que diz ter acertado quase todos os nomes dos eleitos. Pergunto: “se és tão bom quanto apregoas, por que não usa esses predicados para jogar na loteria?”, foi a sacada do Adilson para o internético imbatível no quesito prognóstico. Ali na banca tudo é levado muito a sério, mas sem perder a galhardia. “Pela quantidade de médicos eleitos, acredito que nossos problemas na área da saúde serão resolvidos e se não o forem, nem eles contribuírem para tanto, teremos que fazer fila diante dos seus gabinetes, buscando aquilo que não nos ajudaram a ter”, diz um. Na mesma toada, um gaiato até então quieto soltou essa: “A mesma quantidade de pastores evangélicos foi eleita, o que me faz pensar que poderiam fazer uma reverência coletiva antes dos pronunciamentos, evitando a mesma ladainha a cada subida no púlpito (sic)”. “Se o Adilson permitir fixo uma lista aqui na parede lateral da banca, com o nome de todos os que foram eleitos para fiscalizar o Executivo e estão a manter relações incestuosas com a Prefeitura. Só sei que irá ocupar bom espaço”, foi a sugestão de um. “E aquele mais preocupado com a vida dos animais, do que da degradação humana, alguns vivendo em situação mais calamitosa do que os protegidos por sua ação parlamentar. Vou levar um projeto para ele: Adote um miserável”, ideia lançada por outro. Ali é um campo minado de ideias e variações outras. Opinião é o que não falta. “Tem uns que são eleitos com um discurso e o engavetam já no começo do mandato, agindo teleguiados pelos preceitos de um manda-chuva de seu partido. E quando esse interesse contraria o interesse popular? Na hora do voto isso é nítido. Vou criar outra lista com esses. Posso?”, desfere outro. Adilson observa, franze a testa e prevê muito trabalho para tourear tantos interesses: “Isso aqui parece a Câmara dos populares de Bauru”.

4 comentários:

Anônimo disse...

HENRIQUE

Belos textos, mas o que o isqueiro do Che tem a ver com isso? Mera ilustração?

Acordei hoje, depois do feriado, passei por Bauru e queria te rever para um papo, mas fico sabendo que bateste as asas para bem longe, Maranhão.

Volto para as barrancas paulistas lá perto de Prudente amanhã depois do almoço e fico sem o papo ao vivo e a cores. Nos falamos qualquer dia. Baixe por lá.

Paulo Lima

Mafuá do HPA disse...

Paulo
O isqueiro é de um amigo bauruense, o Tales, foto tirada outro dia na rua Batista, banca do Roque, reeleito vereador.

Uma pena não nos reencontrarmos nessa sua passagem pela cidade. Voce veio, eu me fui.

Devi ir para Prudente em breve e papearemos até desgastar.

Um abracito

Henrique - direto do mafuá

Anônimo disse...

Tá bem na fita Adilson
Célia Doro

Anônimo disse...

Henrique

A banca do Adilson é tudo isso mesmo ou voce está dando uma dimensão maior do que ela possui? Rola tudo isso lá mesmo?

Valéria