A ESTAÇÃO, OS TRENS, O HOJE E O AMANHÃ – ENTREVISTA PARA UM TRABALHO UNIVERSITÁRIO*
* Sou procurado por alunos universitários da Unesp Bauru sobre a possibilidade de um entrevista sobre um tema que muito me atrai e interessa. Era para ter ocorrido pessoalmente, mas devido à pressa que tinham saiu por e-mail. Posto aqui as perguntas e respostas sobre como penso a respeito dessa mais que causa bauruense:
1 - Em que época e que contexto a estação ferroviária de Bauru foi construída?
Ela foi construída nos anos 30 e inaugurada pessoalmente pelo então presidente Getúlio Vargas e pela sua imponência e tamanho demonstrava claramente toda a importância da ferrovia para o desenvolvimento e progresso da região. Sua área administrativa ira daqui até as barrancas com a Bolívia, numa ligação que, levando em consideração ia também de Bauru para São Paulo, ligava praticamente os dois oceanos, o Atlântico ao Pacífico. Todo o transporte de carga era feito por esse modal, o férreo e o rodoviário ainda era insipiente. Foi a fonte de progresso de milhares de cidades, dentre essas Bauru, que hoje a renega.
2 - Que tipo de símbolo a estação se tornou para a cidade?
Para mim é o símbolo do progresso, pois foi através dela, da ferrovia que tudo por aqui foi brilhantemente impulsionado. Foi pensada como integração e como modal de transporte barato, subsidiado pelo Estado. E hoje, mesmo renegada e considerada como plano secundário, levo em consideração que, por bem ou por mal, a ferrovia irá voltar. Veja quanto de inconveniente existe na chegada hoje aos grandes centros via rodovia, para por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro. Só a ferrovia resolverá essas questões, pois por sua via não ocorrerá os gigantes congestionamentos hoje vistos. Possuía o símbolo do progresso e pode hoje ter o símbolo da retomada de algo tão necessário. O lobby rodoviário trava isso, mas precisa ser vencido.
3 - Como a estação ferroviária ajudou na construção de uma memória, ou até mesmo uma identidade bauruense?
Em algo que já disse, sua posição estratégica, o famoso entroncamento unindo três grandes empresas ferroviárias, a Noroeste do Brasil, a Cia Paulista e a Sorocabana, tudo foi impulsionador de progresso. Devemos o que somos hoje em sua maior parte à ferrovia. Isso quer queiram ou nãos os envolvidos em outras concepções é e sempre será a mais forte identidade dessa cidade, laços indissolúveis com a ferrovia. Até bem pouco tempo não existia família por aqui sem laços com a ferrovia, sempre um pai, tio ou avô trabalhou na ferrovia. Não existe identidade maior que essa. A estação da NOB (existem tantas outras na cidade) é o marco mais significativo disso tudo.
4 - A partir de quando o processo de sucateamento físico da estação começou?
A partir da implantação uma nova concepção de que o modal rodoviário, incentivado por um forte lobby deveria substituir o férreo. Começou na época de Juscelino, foi incentivado pelo regime militar, que não soube frear os avanços desses interesses econômicos e a pá de cal quem deu foi o governo de FHC – Fernando Henrique Cardoso com as privatizações no setor. Cabe a esse o pior papel, pois decretou praticamente o fim do modal ferroviário, tão valoroso mundo afora, mas aqui, por pressão de grupos econômicos neoliberais, o poder do dinheiro, tudo foi devidamente colocado na lata do lixo. Ou seja, tudo terá que ser refeito num curto espaço de tempo, sendo que tínhamos um ótimo parque ferroviário. A degradação foi fruto de uma política econômica que não se interessava pelo que realmente necessitávamos, mas o quanto poderiam ganhar com algo novo, no caso o incentivo às rodovias. O país todo perde num todo e é importante nunca se esquecer disso, FHC foi o que enterrou de vez a ferrovia no Brasil. E pouco foi feito, por Lula e Dilma para resolver a questão.
5 - Porque o senhor acha que isso aconteceu?
Como disse, interesses econômicos de um restrito grupo que ganhou muito com o implemento do modal rodoviário, para transporte não só de cargas, mas de passageiros. Perceba como muitas das grandes empresas rodoviárias, tanto de carga, como de passageiros estão nas mãos de políticos ou mesmo de ex-políticos, enquanto que a ferrovia sempre foi estatal enquanto vingou de fato. Como queriam ganhar dinheiro com a coisa, o grande negócio foi destruir a ferrovia e distribuir entre eles o quinhão do novo negócio. Sempre muita grana no meio de tudo e dane-se o povo.
6 - O senhor acredita que um dia a ferrovia irá fechar por completo?
Não acredito e por um único motivo, o caos rodoviário está em vias de ocorrer e pela minha tese, por bem ou por mal, o ferroviário voltará e praticamente de forma obrigatória, pois não existirá outra maneira de se chegar aos grandes centros, por exemplo, via rodovias. E tudo o que tínhamos em perfeito funcionamento terá que ser reconstruído, gerando lucros aos barões dos negócios financeiros no país. Do contrário, pelo pensamento vigente hoje já estaria fechado.
7 - Como isso afetaria a cidade?
A cidade já foi afetada. Muitas outras. Vejam as linhas, os trilhos praticamente abandonados, sem uso e colocados hoje como problemas para cidades como Bauru. Muitas cidades removendo-os para longe, transformando seu leito em pistas para automóveis. Por aqui isso está por um fio. Existe forte movimento para retirada total dos trilhos urbanos e algo muito longe dos olhos de todos. Que essa reconstrução não demore tanto, pois quanto mais tempo passa, maior será o gasto para sua reconstrução.
8 - O passeio de Maria Fumaça era considerado um atrativo turístico da cidade?
Sim. Hoje deixou de ocorrer por entraves burocráticos. Uma linha praticamente desativada, ocupada somente para o transporte de carga de empresas como a concessionária ALL e o Governo Federal fica cheio de dedos para autorizar o retorno dos tais passeios, tão importantes como registro de nossa história. Com um pouco mais de pressão política ele volta, mas nem isso de fato ocorre e olha que temos uma vice prefeita do mesmo partido do Governo Federal. Nem isso foi bem trabalhado. A deterioração do que já representou esse passeio turístico é de uma forma a mesma da deterioração da ferrovia, uma entrelaçada com a outra.
Para mim é o símbolo do progresso, pois foi através dela, da ferrovia que tudo por aqui foi brilhantemente impulsionado. Foi pensada como integração e como modal de transporte barato, subsidiado pelo Estado. E hoje, mesmo renegada e considerada como plano secundário, levo em consideração que, por bem ou por mal, a ferrovia irá voltar. Veja quanto de inconveniente existe na chegada hoje aos grandes centros via rodovia, para por exemplo, São Paulo, Rio de Janeiro. Só a ferrovia resolverá essas questões, pois por sua via não ocorrerá os gigantes congestionamentos hoje vistos. Possuía o símbolo do progresso e pode hoje ter o símbolo da retomada de algo tão necessário. O lobby rodoviário trava isso, mas precisa ser vencido.
3 - Como a estação ferroviária ajudou na construção de uma memória, ou até mesmo uma identidade bauruense?
Em algo que já disse, sua posição estratégica, o famoso entroncamento unindo três grandes empresas ferroviárias, a Noroeste do Brasil, a Cia Paulista e a Sorocabana, tudo foi impulsionador de progresso. Devemos o que somos hoje em sua maior parte à ferrovia. Isso quer queiram ou nãos os envolvidos em outras concepções é e sempre será a mais forte identidade dessa cidade, laços indissolúveis com a ferrovia. Até bem pouco tempo não existia família por aqui sem laços com a ferrovia, sempre um pai, tio ou avô trabalhou na ferrovia. Não existe identidade maior que essa. A estação da NOB (existem tantas outras na cidade) é o marco mais significativo disso tudo.
4 - A partir de quando o processo de sucateamento físico da estação começou?
A partir da implantação uma nova concepção de que o modal rodoviário, incentivado por um forte lobby deveria substituir o férreo. Começou na época de Juscelino, foi incentivado pelo regime militar, que não soube frear os avanços desses interesses econômicos e a pá de cal quem deu foi o governo de FHC – Fernando Henrique Cardoso com as privatizações no setor. Cabe a esse o pior papel, pois decretou praticamente o fim do modal ferroviário, tão valoroso mundo afora, mas aqui, por pressão de grupos econômicos neoliberais, o poder do dinheiro, tudo foi devidamente colocado na lata do lixo. Ou seja, tudo terá que ser refeito num curto espaço de tempo, sendo que tínhamos um ótimo parque ferroviário. A degradação foi fruto de uma política econômica que não se interessava pelo que realmente necessitávamos, mas o quanto poderiam ganhar com algo novo, no caso o incentivo às rodovias. O país todo perde num todo e é importante nunca se esquecer disso, FHC foi o que enterrou de vez a ferrovia no Brasil. E pouco foi feito, por Lula e Dilma para resolver a questão.
5 - Porque o senhor acha que isso aconteceu?
Como disse, interesses econômicos de um restrito grupo que ganhou muito com o implemento do modal rodoviário, para transporte não só de cargas, mas de passageiros. Perceba como muitas das grandes empresas rodoviárias, tanto de carga, como de passageiros estão nas mãos de políticos ou mesmo de ex-políticos, enquanto que a ferrovia sempre foi estatal enquanto vingou de fato. Como queriam ganhar dinheiro com a coisa, o grande negócio foi destruir a ferrovia e distribuir entre eles o quinhão do novo negócio. Sempre muita grana no meio de tudo e dane-se o povo.
6 - O senhor acredita que um dia a ferrovia irá fechar por completo?
Não acredito e por um único motivo, o caos rodoviário está em vias de ocorrer e pela minha tese, por bem ou por mal, o ferroviário voltará e praticamente de forma obrigatória, pois não existirá outra maneira de se chegar aos grandes centros, por exemplo, via rodovias. E tudo o que tínhamos em perfeito funcionamento terá que ser reconstruído, gerando lucros aos barões dos negócios financeiros no país. Do contrário, pelo pensamento vigente hoje já estaria fechado.
7 - Como isso afetaria a cidade?
A cidade já foi afetada. Muitas outras. Vejam as linhas, os trilhos praticamente abandonados, sem uso e colocados hoje como problemas para cidades como Bauru. Muitas cidades removendo-os para longe, transformando seu leito em pistas para automóveis. Por aqui isso está por um fio. Existe forte movimento para retirada total dos trilhos urbanos e algo muito longe dos olhos de todos. Que essa reconstrução não demore tanto, pois quanto mais tempo passa, maior será o gasto para sua reconstrução.
8 - O passeio de Maria Fumaça era considerado um atrativo turístico da cidade?
Sim. Hoje deixou de ocorrer por entraves burocráticos. Uma linha praticamente desativada, ocupada somente para o transporte de carga de empresas como a concessionária ALL e o Governo Federal fica cheio de dedos para autorizar o retorno dos tais passeios, tão importantes como registro de nossa história. Com um pouco mais de pressão política ele volta, mas nem isso de fato ocorre e olha que temos uma vice prefeita do mesmo partido do Governo Federal. Nem isso foi bem trabalhado. A deterioração do que já representou esse passeio turístico é de uma forma a mesma da deterioração da ferrovia, uma entrelaçada com a outra.
9 - O fim desse atrativo é considerado prejudicial também para a cidade?
Claro. Uma cidade como Bauru possui pequenas e raras opções turísticas e não estão sabendo explorar esse potencial. O do trem e projeto Maria Fumaça, o Ferrovia para Todos, já existente, ao invés de ser incentivado, deixaram que o mesmo chegasse ao marasmo de todo material ficar juntando teia de aranha. Não por culpa dois abnegados funcionários lá existentes, mas do poder político local. Esse sim tem culpa, pois não criou ao longo dos anos em que está à frente do governo municipal um grupo sério para discutir e comandar a questão. Imagine se isso estaria do jeito que está se tudo fosse comandado por pessoas que entendem, gostam e com dedicação exclusiva para seu fortalecimento. Tenha certeza, estaria funcionando. Falta vontade política, pois abandonaram a questão, não lhe deram a devida importância e quando algo é esquecido, a tendência é cair no marasmo em que se encontra.
OBS FINAL: As foto aqui publicadas não são meramente ilustrativas, nas primeiras a saudosa Maria Fumaça e nas demais alguns itens tombados e todos localizados lá em Triagem Paulista. As duas últimas são de pura nostalgia. São fotos antigas, de aproximadamente dez anos atrás. Qual será o estado atual desses itens? A conferir.
3 comentários:
Para acertar os fatos: começou com Juscelino, os militares fizeram as vontades de grupos rodoviários, como o da nossa cidade que cresceu bem nesse período, FHC fez o sucateamento final e privatizações, e quem colocou a pá de cal, decretando a extinção da RFFSA, quando era para fazer exatamente o contrário foi o sr. Lula.
Portanto, andamos em círculos.
Camarada Insurgente Marcos
Não tenho certeza agora que estou com a mente bagunçando números, mas se me recordo o começo da construção em Bauru foi em 1905??? Sei que a RFFSA foi criada em 1957, mas a conclusão da malha não me vem na cabeça o ano exato, é que vi falando dos anos 30 e me bagunçou a cabeça agora sobre datas, o início me vem 1905, a conclusão é que me gerou uma dúvida.
Camarada Insurgente Marcos
Marcos
A construção em questão, objeto da pergunta da estudante foi sobre o símbolo principal de tudo, a estação da NOB. Sua conclusão foi nos anos 30.
Ótima sua primeira análise, no primeiro comentário. Continuaremos girando em círculo, pois terão, pelo menos um dia, que refazer tudo. E sempre com muitos e muitos ganhos para tudo e todos (eles).
Henrique - direto do mafuá
Postar um comentário