sexta-feira, 22 de janeiro de 2016


A CONVERSA SOBRE O PODER DOS ENDINHEIRADOS: O POBRE SEMPRE PAGA A CONTA E O CASO DAS REPRESAS NO ENTORNO DE BAURU
Vou comprar ração para meu cão, o Charles e o dono da loja, localizada na entrada da Baixada do Silvino é outro que passou poucas e boas por causa da última (toc toc toc) enchente. Ficamos divagando um tempo sobre as tais barragens rurais que inundaram Lençóis Paulista quando se romperam. Hoje, digo a ele, que esse pode ter sido um dos motivos da inundação em Bauru, a que nos acometeu. Ouvi isso hoje do locutor da TV Record, quando afirmou categoricamente que os alagamentos daqui não são provenientes só por causa de uma forte tempestade. Teve algo mais e esse algo foram as tais barragens/represas, construídas de forma irregular na área rural, sem fiscalização quando do seu levantamento e conclui com algo triste, lacônico: “Tudo acabará dando em nada, como sempre”.

A conversa toma outro rumo: rico burla tudo, paga sempre muito pouco, faz tudo do seu jeito e na imensa maioria das vezes contorno os problemas que é uma beleza. Ele me dá um exemplo. Certa feita foi convidado para uma pescaria no rio Xingu, região norte do país. Foi num grupo, juntou grana e ficou hospedado num rancho, dentro das terras de um latifundiário aqui do interior paulista. Rodaram mais de 100 km dentro da fazenda do mesmo até chegar ao local exato da pescaria. No caminho viu de tudo, mas o que mais o impressionou foi se deparar com tratores puxando grossos cabos de aço, cada um amarrado num deles e derrubando tudo à sua frente. Colocavam as arvores abaixo instantaneamente e tudo para plantar soja. Nem aí com a ecologia, a mata. Depois delas todas deitadas chegariam as plantações e o gado. Eu lhe perguntei se por lá não existe fiscalização e ele foi claro: “Até existe, mas o dinheiro que ele diz gastar com as multas ou para burlar a legislação é muito pouco perto do lucro auferido. Prefere continuar atuando conforme lhe convém”.

Disse mais, num outro exemplo. No final de um dia armaram um grande churrasco e para tanto mataram um boi ali diante de todos. Carne fresca e tudo sendo armado, pegaram a costela inteira e iam assar enfiada em espetos no chão, mas antes me pediram para ir buscar madeira para o fogo. Diante de muita variedade ali cortada, trouxe somente o que já estava derrubado. Quando chego o fazendeiro fez chacota dele dizendo que a madeira colhida por ele não prestava pra nada. Descartou e pediu para um deles ir colher, ou seja, cortar as arvores mais nobres, madeira de lei, todas proibidas de serem cortadas e o fez somente para assar o churrasco. Por fim, sua conclusão: “O problema, meu caro, com os ricos desse país é meramente cultural, ou seja, a falta de cultura. Pensam só no dim dim e na ostentação e não estão nem aí para mais nada”.

Concluo com ele que nesse país o endinheirado tudo pode, faz tudo pela sua cabeça e depois contorna que é uma maravilha. Encerro com algo que me lembrei, uma poesia de um homem encantado com a natureza e menosprezando os que a sacaneiam, o poeta Manoel de Barros: “Prezo insetos mais que aviões/ Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis/ Tenho em mim esse atraso de nascença”. Mas estamos perdendo feio essa batalha, essa das barragens no entorno de Bauru é só a ponta do iceberg.

PARA AMENIZAR O DIA: QUEM CANTA SEUS MALES ESPANTA...
Esse é um dos personagens mais conhecidos do centro velho de Bauru. Foi muito paparicado por nada menos que a EnY Cesarino, a famosa do bordel, era uma espécie de office boy de luxo da casa. Deitou fama na cidade por causa disso. Hoje mora num antigo hotel na beirada dos trilhos na quadra um da rua Agenor Meira, de sua propriedade e sob os cuidados de uma família que toma conta do lugar e cuida inclusive dele. Ele continua o mesmo de sempre, um andante de nossas ruas, fazendo e acontecendo, como na manhã do último domingo, quando de posse de seu violão saiu de casa e o empunhando saiu cantarolando pelas imediações da feira da Gustavo. Quando o encontrei, estava cantando para os bombeiros da corporação, no comecinho da rua Marcondes Salgado em direção ao ajuntamento humano da feira. Me acheguei dele e vi que cantava Raul Seixas. Sabe letras de cor e salteado e quando lhe dá na telha, não se contenta em cantar entre quatro paredes.
Estava numa inspirada manhã e queria cantar e cantar. É dessas pessoas que ninguém consegue segurar. Que o diga o pessoal lá no Teatro Municipal, onde vez em sempre parece e senta na primeira fila, fala alto, interrompe apresentações,dá opiniões e assim toca sua vida. Frequenta também a Biblioteca Municipal, a Câmara dos Vereadores, a praça Rui Barbosa, o Calçadão da Batista e todas as imediações e cercanias do centro da cidade. Quando vai ao teatro, veste sua melhor roupa, calça social e camisa de manga longa, sapato também social e fica sempre na fila do gargarejo. O registro é para mostrar que não existe tratamento melhor para as agruras dessa vida do que ser livre, leve e solto, ainda mais quando de posse de um violão. Esse cidadão bauruense é marca registrada dessa cidade e merece apupos e palmas quando passa cantarolando e fazendo arte (ou praticando arte?) pelas ruas. Eu, sempre que posso, paro e estou a papear com ele. Gente com luz mais do que própria.

2 comentários:

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS FACEBOOK ENDINHEIRADOS 1:

Tião Camargo O desmatamento promovido pela ganância de ruralistas da nisso. E vai pior, certamente, aos olhos das autoridades corruptas.

Lazaro Carneiro Carneiro e ai os próprios algozes das vitimas aprecem como paladinos da solidariedade .

Patricia Karst Caminha Junia Karst Caminha Ruggiero olha só que bacana

Patricia Karst Caminha Henriquessências

Renata Santin esse desmatamento para alguns ruralista é tão normal, e eles sabem que a lei é branda neste país, e não tem nenhuma vergonha na cara de agir desta forma, porque sabe que não será punidos. É uma pena mesmo que há no Brasil não tem lei mais ,severas contra esse desmatamento.

Aparecido Ribeiro Assim caminha a humanidade, vamos ver no fim de tudo, o que sobrará!

Leopoldo Siebert · Amigo(a) de Antonio Morales
Quem viver verá
Curtir · Responder · 9 h

Mafuá do HPA disse...

COMENTÁRIOS FACEBOOK SOBRE CANTANTE DAS RUAS:

Adilson Chamorro Conheço faz uns 30 anos

Adilson Talon HPA.....este tbm eu conheço...tivemos a oportunidade juntos de trabalharmos pra EC....pena ele estar nesta situação.

Adelson Lima · Amigo de Tião Camargo e outras 2 pessoas
Esse eu conheço... ele frequenta o Super Mercado Paulistão da Treze de Maiô... ele é uma figura.

Taiara Leles Ele sempre fica perto do bradesco, e adora fazer serenata pra uma mulher!
Descurtir · Responder · 1 · 22 de janeiro às 23:14
Paula Monteiro
Paula Monteiro · Amigo(a) de Almiro Silva