1.) LP, CD, MP3: VOCÊ FAZ PARTE DO VELHO OU DO NOVO MUNDO?
Um amigo me para na rua e ao me ver com alguns CDs na mão (comprados no Sebo do Bau da Rodrigues Alves, o velho com 90 anos e ainda no balcão), me diz assim na lata: “Você ainda compra CDs? Eu não compro mais nada, baixo tudo”. Sei das facilidades, mas sou da velha guarda. Minha coleção continua crescendo, mesmo que só com os de segunda mão. Os últimos, uns 15 na quinzena, com preços de R$ 5 a unidade ou até melhor, três por R$ 10. E acho cada raridade que só vendo. Já ouviram falar do cubano Chanchullo, o Rubén González. Uma delícia e paguei só R$ 5 pilas. E o Lado B, do Yamandu + Dominguinhos, outra preciosidade e pelo mesmo preço. Nem sei se vou conseguir baixar essas raridades e daí trago esses para o acervo, que um dia ainda voltarei a organizar. Já estão prá lá de duas mil peças, mais os mil LPs. E é pouco perto de alguns outros colecionadores que conheço.
O negócio desse escrito é comparar algo que estão a me cobrar, sobre o avanço das plataformas online e dessa convivência (ainda) pacífica com o fetiche por discos e CDs. Como não sou consumidor adaptado a era digital, web rádio, whatsApp, streaming e outras ferramentas barateadoras de gastos, continuo desembolsando meus caraminguás e garimpando raridades por aí. Meu filho baixa tudo até pelo celular e eu nem internet ainda tenho no meu. Sei que as vendas físicas do analógico caíram e muito, pois tempos atrás procurei pelas lojas ainda existentes na cidade (duas no shopping, a Americanas e outra na Batista) e nada de encontrar o último CD do Lenine e nem o da Elza Soares. Só pedindo e aguardando. Muitos me dizem do ressurgimento do vinil, mas o que vejo mesmo é os velhos LPs sendo vendidos a preço de banana e vez ou outra ainda encontro raridades que, acredito nunca serão lançadas em outro formato. Talvez chupinzadas pela aí e podendo até serem baixadas por algum meio ainda desconhecido por mim.
Quem nasceu na era dos LPs, como eu, tem verdadeiro fetiche por essas peças. Se baixar não vou ter as letras disponíveis, muito menos aquelas capas transadas diante de mim. Aqui em casa não passo um dia sequer sem ouvir um dos muitos vinis ou CDs comprados ao longos desses anos. Onde vou acabo trazendo mais. E mais, as pessoas hoje, todas apressadas não ouvem mais o disco inteiro. Ouvem no máximo uma música, a que gostam. Eu não, curto o trabalho inteiro do artista. Quer maior deleite que esse? No meu carro atual, uma desgraça, tem só entrada para pen drive e já não posso mais ouvir meus CDs. Isso foi o que mais senti quando vi o novo possante e ao questionar o cara da revenda, me olhou com aquela cara como seu eu fosse uma espécie de dinossauro. “Mas o senhor pode gravar tudo e plugar no aparelho”, me disse. É um saco ir gravando tudo o que tenho, repassando de um modelo para outro. Não sou daqueles que acha que o MP3 não presta, nem que o som do LP é único, mas quero continuar pode desfrutar mais alguns anos dos CDs e dos LPs (pelo menos enquanto viver, tá bom?). Vamos ver até quando resisto. Comprei duas agulhas de reserva para minha vitrolinha, pois se quebrar ainda tenho peças de reposição e acabo de comprar um aparelhinho de CD portátil, desses que levo para tudo quanto é lugar, desde churrasco, feira, motel, aula, piscina, velório e tudo o mais. Adoro minhas velharias, eu mesmo já posso ser considerado uma delas.
E como agora com essa bosta de golpe logo aí na curva da esquina, as coisas vão ficar difíceis e acredito, estarei cada vez mais enfronhado com meus livros, sons, poucos amigos, reservados escritos e no meu mundinho particular, pelo menos, não terei do que reclamar, pois diversão vou ter pra dedéu.
2.) A FEIRA É RECARREGADORA DE BATERIAS... Estava a minha devidamente descarregada e muito necessitando de uma carga dupla, pois nos últimos dias estava pegando somente no tranco. Fiquei duas semanas sem bater cartão na feira dominical da Gustavo e, consequentemente, sem marcar presença na Feira do Rolo e banca de livros do Carioca. Voltei e na chegada Carioca me recebe com uma cervejinha gelada e me diz que tenho um livro à minha escolha, presente da casa. Fico com um do Mario Prata, o "Minhas Mulheres e Meus Homens", crônicas curtas baseadas num tema bem sacado. O gajo pegou sua agenda e de cada nome lá constante surge uma história a envolver o dono do telefone com o autor dos escritos. Levo um CD do Egberto Gismonti, um que já tinha em LP, mas não resiste aos R$ 5 reais. É o "Trem Caipira", que ele me disse ter comprado num lote lá no bazar que a Márcia Nuriah fez semanas atrás.
Fico mais e vou me assuntando das histórias ocorridas na minha ausência. Numa delas me dizem que a Associação dos Aposentados teve até a luz cortada dia desses e quase não teve baile a noite. O fato é que, após gestões encavaladas uma na outra, seu Mário da Paz pereira precisa sacar e aposentar o boné passando o bastão para outros mais arejados tomarem conta do lugar. Oxigenação mais do que necessária, para o bem dos que querem ver a Associação num novo patamar. Com isso tenho minhas eternas lembranças do sócio nº 1 da mesma Associação, seu Arconcio, o velho ferroviário comunista, já falecido, que coisa de uma década atrás já propunha um algo novo para a associação, mas foi vencido pela máquina, ou seja, pelo rolo compressor. Pelo que vi lá, dessa vez a coisa vai tomar um rumo de levante popular para retomarem o lugar para direções menos centralizadoras.
Quem passa por lá nessa manhã é Roque Ferreira e Tatiana Calmon, ela vestindo o rock em pleno Dia das Mães. Estão livres, leves e soltos, passeando sem os filhos e parando em cada passo para conversações que na feira não param mais. O lugar é propício para reencontros de toda natureza. Roque sabe disso, pois bate cartão sempre que pode e o coração permite (hoje o danado estava calminho, batendo sincopado). No fundo, a turma da artista plástica Tássia Eleonora, ela sempre trazendo gente nova para a feira. Ela não se cansa de, a cada semana, trazer amigos e mais amigos. Todos vão se integrando e no final da manhã já estão parecendo personagens da velha guarda do lugar. Passo na banca do Amilcar e sua esposa, os gerentões do lugar, gente que estão na feira desde antes de serem colocados os paralelepípedos no lugar.
Circulo e antes de ir embora o Carioca me diz ter mais um brinde para mim, um CD pirata com sucessos variados do mestre Jamelão. "Esse eu sei que você gosta e dessa forma, quando me deram, já decara, sabia, esse é para o Henrique", me diz. Tento ir, mas ainda paro na banca do amigo lá do terreiro do Tangarás e na barraca do vinho, ali na Julio Prestes. Quem também vem puxar conversa é o Julio, o carimbeiro ali da Rodrigues, hoje acompanhado da esposa. Quando deu onze horas, sai de fininho, juntei os trecos no enbornal e piquei a mula. Justo hoje, o primeiro domingo em que não tenho mais a gostosa obrigação de levar meu pai para almoçar em algum lugar. Volto pra casa e antes de buscar Ana para o almoço, resolvo passar pelo cemitério São Benedito e dar meu axé para meus pais, ali depositados. E a tarde fico ouvindo meus novos CDs e escrevendo, tentando juntar ideias velhas e novas, retomando meu mestrado, que dessa vez não tenho mais desculpa para adiamentos de nenhum natureza. Agora é comigo e comigo, mas a solidão do lugar assusta, ainda mais porque Jamelão chora na cantoria na vitrolinha.
Comprou, tem que carregar... E lá se foi a Filizola! |
3 comentários:
Eu tenho uma opinião bem clara sobre isso, acho essencial o desenvolvimento tecnológico, porém há coisas que não podem perder o sentido, uma questão de causa humana mesmo e claro, qualidade do som.
O primeiro ligado a questão do contato material e aí a causa humana do sentido da coisa, é que o álbum físico no caso do LP cria um vínculo do ouvinte com a música e seu artista, aprendemos pacientemente a apreciar a obra e o guardar do disco é como uma memória guardada em fotos em nossas casas, o jovem que coloca trocentas músicas no ipod desenvolve um estilo acelerado, sem a pausa para apreciar e consequentemente não cria um vínculo e muito menos a memória guardada.
Na questão de sonoridade, para quem realmente aprecia a música, o vinil é imbatível, procure comparar principalmente as linhas mais graves como a do contra-baixo, o vinil é avassalador, a leitura da agulha é contínua, enquanto mídias a laser são fragmentadas, sem contar os arquivos de músicas comprimidos que perder absurdamente a qualidade sonora.
Acho válido os arquivos para facilitar durante uma viagem por exemplo, este substituiu o CD assim como este havia substituído a fita cassete, eu nunca mais irei comprar CD, o fazia apenas para ouvir no carro, pois nunca gostei da sonoridade, os LPs continuarão sempre imbatíveis.
Só no Brasil que acham vinil algo ultrapassado, na Europa todas as bandas de rock lançam seus álbuns até hoje em vinil além das demais mídias, o mercado é muito grande, pois ainda há vida cultural a apreciar a sonoridade. Esse mês está sendo relançada toda a discografia do Pink Floyd em vinil, prova de como o comércio nesse ramo é forte lá fora.
Camarada Insurgente Marcos
Henrique, falando ainda sobre tecnologia e o sentido de certas coisas, ela jamais poderá suplantar a vivência humana do dia a dia, porque quando se tem pessoas olhando mais para a tela de um celular, menos se vive, menor é a experiência de vida, de conhecimento e fora o perigo pior que o álcool no trânsito, tem sido comum eu ao parar para atravessar a rua, ter que segurar alguém olhando para o celular e entrando na frente dos carros, é coisa de louco, acontece isso todos os dias, sexta-feira duas mulheres entraram na frente do ônibus na Rodrigues e por pouco não foram atropeladas, na rua de casa o semáforo estava fechado, carros parados, vem uma mulher dirigindo e olhando no celular, resultado, bateu na traseira de um carro parado. As pessoas não estão levando a sério isso, mas está grave essa situação de vício nas redes pelo celular e computador, além do perigo de acidentes a burrice e falta de diálogos construtivos está demais.
Camarada Insurgente Marcos
Eu acho o máximo tudo junto: tenha uma amiga querida que ainda ouve e grava músicas em K7. Tenho aluninhos com menos de 20 anos que usam sites de música e sabem de cor toda produção brasileira das décadas de 1960 a 1990, cada um recortando a parte que mais lhe agrada. A música brasileira vive e as barreiras que derretam (pois já são muitas)! Abração!
Wellington Leite
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