terça-feira, 24 de maio de 2016
O QUE FAZER EM BAURU E NAS REDONDEZAS (76)
A EXPOSIÇÃO COM AS FOTOS DO PARA-QUEDAS EM PANO, MARAVILHAS DO RUI ZILNET EXPOSTAS – O TIPO POPULAR NO CENTRO DOS ACONTECIMENTOS Eu sempre gostei demais desse Festival Internacional de Teatro de Bonecos, nesse ano completando a 6ª edição. Dentre as muitas homenagens rolando esse ano, uma me chama em especial a atenção. No hall do Teatro Municipal, o palco principal do festival, existem outras exposições, mas um delas retrata algo mais do que marcante dessa aldeia bauruense. Trata-se da "PARA-QUEDAS – SALTO CONTRÁRIO – FOTOS DE RUI ZILNET". Ambas as coisas me comovem muito, primeiro, a trajetória de vida e a história vivenciada pelo eterno palhaço das ruas bauruenses, um que ao lado de sua Nega Maluca dançava defronte muitas lojas no centro da cidade, num trabalho realizado por ele, seu ganha pão, após ter seu circo fechado. Ele, com um microfone numa mão e noutra segurando sua nega, em peripécias mil e algo que, nunca mais sai da memória de quem tenha presenciado a cena. Na outra ponta, Rui Zilnet, um fotógrafo mais do que profissional, desses raros, sensíveis até a medula e envolvidos com as coisas da rua de uma cidade, ou daquela onde passe ou viva. Da junção, só podia mesmo dar noque deu, uma bela exposição.
A história dessas fotos e de como foram tiradas é algo que só mesmo ele pode contar nos seus detalhes. Envolve também Mariza Basso e um convite para ele fotografar Para-Quedas. Foi exatamente numa homenagem ao personagem em um dos festivais. Depois as fotos do Rui pipocaram pela aí, lindas e registrando o artista num dos momentos mais vibrantes e inebriantes de sua carreira de rua. Foi dessas para ficar registrada nos anais dos mais belos registros dos artistas de rua de Bauru, pois tiradas por alguém com a maestria do saber fotografar e diante de alguém sui-generis. Das fotos o Rui vai contar algo mais, tenho certeza e da exposição conto o que vi. Achei divinal a ideia de transportar as fotos em pano e não em papel fotográfico ou algo parecido. Isso também merece um relato e talvez Mariza o faça, explicando dos motivos de ter optado pelo pano. Para mim, um leigo no assunto, digo de cara, gostei. Aquilo tudo pendurado e balançando com o vento, me deu a impressão de ver o próprio palhaço voando com sua nega no meio da rua. Foi uma divagação meio que obrigatória, eu ali no meio delas todas, todas esvoaçantes numa tarde fria e uma se misturando com as outras, como se fundidas pelo vento.
A simplicidade me arrebata. O Para-Quedas sempre me arrebatou e uma das cenas mais tristes foi vê-lo já quase no final da vida, vendendo bilhetes de loteria pela rua. Quando não mais conseguia dançar com sua nega, algo precisava continuar sendo feito e os compromissos da vida saldados. O bilhete foi a saída. Quase igual o que presencio hoje pelas ruas da cidade quando me deparo com o Zé da Viola, músico da velha guarda, morando só ali perto do ex-Bancários e quando a coisa aperta saindo pelas ruas vendendo sorvetes. E hoje, com esse frio, como Zé faz para se virar? Talvez venda também bilhetes. Aí entra o papel dos sensíveis, desses fotógrafos que enxergam o algo mais além de suas lentes. Essa exposição muito me toca por causa disso e sei que rui faz muito disso hoje no Rio de Janeiro, onde mora. Dos dois personagens envolvidos, ambos já retratados por mim em textos aqui publicados e por essa Bauru tão cheia de gente com coisas boas para serem registradas e definitivamente demarcadas como patrimônio imaterial dessa cidade. A exposição, dentro de toda sua simplicidade muito me emociona pelo conjunto da coisa, essa junção unindo dois artistas e muito dessa sensibilidade de gente dando valor para esses magistrais artistas de rua.
O festival vai até dia 29 de maio e a exposição não sei se continua ou não, mas fica uma ideia para a Mariza e o Kyn Junior leva-la para outros cantos, escolas públicas, locais inusitados nos bairros, gente que, com certeza conhecia e muito o artista. Em tempo, leiam a explicação do significado do “Salto Contrário”, no banner, também de pano, reproduzido nas minhas fotos e saquem um pouco mais da lindeza das coisas mais simples serem merecedoras de muita pompa. Quem ainda não foi ver, vá, pois essa é minha dica para o feriado que se aproxima.
Para complementar seguem mais esses dois textos, escritos anos atrás, sobre esses dois personagens que gravitaram por Bauru, o Rui e o Fogaça, ambos originais e autênticos do Lado B de Bauru.
Do Rui já havia escrito isso: “RUI ZILNET é gaúcho, fotógrafo e jornalista, dos bons e de uma velha cepa, resistente e persistente, ainda encantando-se com temas que o fazem virar as questões do avesso. Começou a carreira no Rio de Janeiro, sendo um dos seus primeiros empregos a já extinta Última Hora. Sempre com uma máquina na mão fez história e tem muita coisa para contar. Acabou aportando em Bauru décadas atrás quando veio trabalhar para a Editora Abril, na experiência de lançarem a Vejinha Interior (a Abril era mais palatável). Ficou por aproximadamente três anos na cidade e por aqui fez amizades eternas, circulou pelos lugares mais marcantes e acabou por firmar um amor mais do que eterno por um tema que tem tudo a ver com a cidade, a ferrovia. Os laços com a cidade não se dissolveram com a partida e sempre volta, com o fez semanas atrás e num dia inteiro ficou a fotografar a degradação férrea do famoso entroncamento do passado. Foram mais de 800 fotos, mostrando cada detalhe de uma situação mais do que caótica. Rui faz isso não só para mostrar o que sabe fazer bem feito, tirar fotos, mas com o intuito de mover céu e terra para dar o seu quinhão possibilitando o retorno das ferrovias no Brasil. O Rui não para de querer buscar solução para isso tudo, inquieto e inquietante, pois expõe com clareza os males já feitos e insiste que solução existe. Instigante caminhar ao seu lado.”.
Do palhaço Para-quedas já havia escrito isso: “CARLOS ALFREDO FOGAÇA nasceu em 1943, portanto, ao falecer hoje estava com 72 anos. Padeceu por esses dias até encontrar vaga para tentar cuidar de sua delibitada saúde. Por fim, após ajuda de amigos, dentre eles Kyn Jr, da ATB, ele consegue algo no Hospital Estadual, mas já é tarde e ele hoje se foi bem cedinho. O famoso palhaço PARAQUEDAS voou para longe. Que trajetória de vida teve esse senhor, verdadeiramente das e nas ruas bauruenses. Artista de circo desde a mais tenra idade participou de algo além do seu personagem principal, o palhaço. Vivenciou o fim do Circo Teatro, que levava encenações variadas mundão afora. Quando lhe faltaram forças para continuar tocando o Circo Maíra e outros onde atuou e comandou, a necessidade o levou para tentar algo novo. Ia oferecer sua voz e com sua vestimenta de palhaço animava as lojas do centro da cidade. Quem não se recorda de vê-lo dançando com sua boneca de pixe ou nega maluca em frente de variadas lojas? Dançou até não mais poder. Quando encerrou de vez as apresentações, pois faltaram-lhe forças, padeceu um pouco mais, chegou a vender muito bilhete de loteria nesse período. Como todo bom artista, não tinha reserva suficiente para tocar a vida com dignidade. Chegou a doença e hoje o desfecho final. Paraquedas, aquele alegre e bonachão, barulhento, gozador, sempre alegre, cheio de gás, foi-se dessa para outra. Essa minha modesta homenagem para tão grande e magistral pessoa.”.
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Rui Zilnet Meu querido amigo Henrique, difícil descrever a emoção ao me deparar com este texto, com detalhes que só mesmo você saberia guardar em tantos pormenores. E esta emoção é multiplicada infinitas vezes, o coração pulsa acelerado ao relembrar momentos que ...Ver mais
Mariza Basso Basso Lindos dizeres Henrique Perazzi de Aquino, obrigada por estar sempre nos presenteando com seus depoimentos tão ricos, também compartilho dessa emoção juntamente contigo Rui Zilnet e fico feliz em poder homenagear esse nosso palhaço querido ainda em vida e agora tristemente mas com muito orgulho pós morte, uma forma e tentativa de eternizar nossas joias bauruenses!
Agnaldo Lulinha Silva Lindas lembranças Henrique eu na juventude cheguei ir no circo do Para Queda e depois acompanhei ele com a negra maluca na Batista foi uma grande perda duma pessoa que fazia a gente rir com muita facilidade
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